Capítulo XXVI

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                           (Renan)

  Era quase quatro da tarde de um sábado, não um sábado comum, monótono e tedioso. Mas um sábado especial, de clima ameno, naquele dia os termômetros marcavam 12 graus. Um clima bastante ameno.

  Tratei logo de vestir um agasalho, e também um par de luvas, e assim fui preparando a mesa para receber meu tão aguardado convidado. Preparei café, e também uma mesa bastante farta. O fato de ele vir me visitar deixava minha mente inquieta, sempre preocupado com algum detalhe a mesa, ou em eu mesmo.

  Quando ouço as três batidas na porta, me ponho de pé e imediatamente vou atender. Ao abrir a maçaneta, lá estava ele se tremendo de frio, com uma jaqueta marrom, com um belo capuz azul na cabeça.

  — Oi —. Digo, acenando.

  — Oi —. Retribuiu.

  — Entra —. Heitor passa pela porta, e tento fechá-la, mas quando percebo ele já me segurava. Ele mesmo fecha a porta, e depois me pressiona contra ela. Aquela proximidade era tentadora, e o pior de tudo era o intenso vermelho de seus lábios que parecia um pedaço de brasa.

  Beijá-lo novamente foi a maior recompensa que tive, depois de dançar e me dedicar ao máximo na minha carreira.

  — Não íamos conversar? —. Interrompi o beijo.

  — Pois é, eu falo apenas essa língua —. Não sabia que que tinha senso de humor, mas enfim, eu não conseguia dizer não ao seu beijo.

  Ficamos assim por uns breves segundos até que eu Interrompi novamente, dessa vez o empurrando em direção a mesa que eu havia preparado.

   — Fez tudo isso? —.

   — Sim —.

   — Pra mim? —.

   — Pra mim é claro, não vai ficar se achando bombeiro, não sou de agradar ninguém —.

   Ele puxou a cadeira um pouco desconfiado, em seguida serviu-se com café e leite. Me sentei também na outra extremidade daquela pequena mesa. Ele tirou seu capuz, então seus cabelos dourados dançavam junto ao frio vento.

  — E então, você queria conversar, pode começar a falar, temos um bom tempo para isso —. Digo.

   — Não é nada demais, apenas queria esclarecer algumas dúvidas, que surgiram... você sabe depois de tudo que aconteceu entre nós —.

  — Dúvidas? "Depois de tudo o que aconteceu entre nós". O que anda te incomodando? Porque para qualquer pessoa ter dúvidas precisa estar com o mínimo de conflito no coração —.

  — Não sei ao certo, mas o que acontece entre nós me incomoda um pouco, mesmo sendo bom. E admito. Eu gosto bastante, mas depois aquilo me incomoda dia e noite —. O bombeiro explica olhando para a paisagem lá longe.

  — Te incomoda? Como? Você sente nojo é isso? —.

  — Não, claro que não. A questão é que o que fazemos não sai da minha cabeça por nada, tento pelo menos esquecer por um breve momento, mas nada —.

  — E do que tem dúvidas? Se tem certeza que isso tudo não sai da sua cabeça —.

  — Pois bem, a grande questão é que eu queria saber, porque isso é tão importante para mim, não deveria apenas durar um breve tempo e depois sumir? —.

  — Bem, eu não sei ao certo, mas acho que estou passando por isso também —.

  — Eu senti sua falta, durante esses dias, fiquei com medo de ter ido embora para sempre. Porque lá no fundo, por alguma razão, eu sinto que você tem um espaço na minha vida —.

  — Bem, isso tudo é bem louco para mim, porque durante toda minha vida, o ballet sempre foi minha prioridade máxima, e nada além disso ocupava minha mente. Agora convivo com essas mesmas lembranças que você me falou. Talvez não esteja tão errado, quando imaginou que talvez eu estivesse tentando te esquecer. Mas é que eu tenho medo de tudo isso, medo de perder o controle —.

  — Tem medo de mim? —. Ele perguntou.

  — Eu tenho medo de mim, quando eu estou perto de você parece que não tenho controle sobre parte alguma do meu corpo —.

  — Do que estamos falando mesmo? Tudo se embaralhou e no fim não chegamos a solução alguma —.

   — Também queria saber, mas se quer saber porque te beijei naquele dia, posso te dizer hoje com todas as letras e certezas que foi porque eu estava morrendo de vontade de fazer aquilo e não consegui me segurar —.

   — Bem, acho que eu já sabia disso —.

   — Sabia como seu convencido? —.

   — Porque eu senti exatamente isso. Esse desejo incontrolável. Mas também, não é fácil se conter quando você toca uma pele tão macia quanto essa —. Ele toca a pele de minha mão com o seu dedo.

   Deveria mesmo haver alguma razão, mas ambos concordamos que não buscáriamos por ela naquele momento. E o consenso não chegou através de palavras. Mas através do impulso que nossos corpos tiveram em atirar-se um ao outro.

   Quando percebi ele já estava tirando minha camisa e a jogando longe, faço a mesma coisa. Ele me pega em seus braços fortes e me leva para minha cama. E foi ali que matamos toda a falta que sentíamos em segredo um do outro.

  A forma como ele se movimentava em cima de mim era quase mágica, era tão bruto, mas ao mesmo tempo carinhoso, a maneira como ele me segurava deixava claro a relação de posse que tínhamos.

  — Está bom assim? Está? —. Perguntou ao pé do meu ouvido e depois mordeu a orelha.

                                    •••

  — Isso é muito louco —. Heitor diz todo suado mexendo no meu cabelo. Eu repousava minha cabeça em seu peito suado e desnudo. Eu me sentia tão bem, era como se meu corpo precisasse disso. E apenas ele fosse capaz de me dar essa sensação agradável.

— Louco, mas bom —.

— Renan?! —.

— Sim —.

— Por que não mandou mensagem antes? Fiquei esperando por dias, e fiquei preocupado também, com o fato de você estar em Manaus, prestes a fazer uma grande apresentação —.

— Não era tão fácil pra mim, nem é na verdade, mas se quer mesmo um motivo, talvez seja por essa facilidade que temos em perder o controle juntos —.

— Eu acho que isso é uma coisa boa —.

— Por que? —.

— Porque se fosse ruim, não sentiriamos vontade de repetir —.

  CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

 
 

  

 

 

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