Capítulo LXXXIII

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                            (Renan)

  — No que está pensado? —. Violeta questiona enquanto estamos treinando.

  — Em muitas coisas —.

  — E essas coisas tem algo a ver com o seu relacionamento? —.

  — Sim, sempre tem —.

  — Quer me cotar? —.

  — Na viagem, o Heitor bateu em um cara que deu em cima de mim na frente dele. Eu queria vir embora, mas ele insistiu para que eu ficasse, eu disse que não, afinal ele só sabia me criticar. Muito bem, pra eu ficar eu fiz um trato, ele teria que falar para o Hugo que ele me ama, e não quer nunca mais olhar na cara dele —.

  — Nossa Renan, isso foi muito extremo —.

  — O Heitor concordou e o fez —.

  — Ele fez? —. Ela pareceu surpresa, acenei com a cabeça.

  — Nossa, então qual é a sua preocupação no momento? —.

  — Muito bem, sabe que eles estudam juntos, não sabe? —.

  — Sim —.

  — O que eu temo é que esse Hugo faça alguma coisa pra tomar o Heitor de mim. Pode parecer um medo tolo, mas alguma coisa me diz que o Hugo não vai aguentar as palavras que ouviu e não vai fazer nada, ele vai procurar se vingar —.

  — Amigo, não precisa pensar nessas coisas agora, ele pode ser doido, muito doido, mas talvez ele nem seja capaz de fazer alguma coisa assim —.

  — Sabe, espero muito que esse garoto estúpido saia de nossas vidas o quanto antes, afinal não quero mais ninguém atrapalhando o meu relacionamento —.

  — Também acho melhor isso —.

    Meu dia foi longo, Heitor como sempre andava muito ocupado, nem sequer tinha tempo para me ver. Às vezes eu me perdia relembrando os doces e inesquecíveis momentos em Gramado.

                              (Heitor)

  Depois de um dia cansativo de trabalho, eu voltaria a faculdade. Eu havia acabado de chegar, havia tentado falar com o Renan, mas ao que parece ele estava ocupado, provavelmente ele estava lendo algum de seus romances franceses que ele amava tanto.

  Sentei naturalmente em meu lugar, no fundo da sala, ao lado da janela que dava a visão para um pequeno jardim. A noite ele ficava lindamente iluminado. Abri e liguei meu computador e fui ler um livro de uma matéria importantíssima.

  Fiquei assim na minha, sem alguém me incomodando até que Hugo chega na sala, não havíamos nos falado desde o incidente daquele dia. Olhei rapidamente para ele, e para meu azar ele está a vindo em minha direção.

  — Posso falar com você? —. Questionou.

  — Você pode falar comigo, mas eu não posso falar contigo —.

  — Ainda nessa Heitor? Poxa você vai mesmo largar uma amizade boa como a nossa por causa de um caso —.

  — O Renan não é um caso, ele é meu namorado, como você pode ver aqui nesse anel —.

  — E por causa dele vai acabar nossa amizade? Poxa o que eu fiz de errado? —.

  — O Renan falou que você foi racista com ele, e embora eu não creia que você tenha feito isso, prefiro acreditar nas palavras do Renan. Foi mal Hugo, passei anos tentando encontrar alguém que pelo menos fosse parecido com o Renan. E ele sente-se ameaçado por você. Eu o amo muito, mais que tudo nessa vida —.

  — Você não procurou direito, tem muitas pessoas por aí melhores que ele —.

— Eu não acho —.

  — Eu por exemplo, creio que eu seja melhor pra você do que ele. Sejamos sinceros, o que ele tem de especial? Tem um belo corpo, isso é um fato, mas além disso, não tem nada. Eu e você sim somos especiais, somos raros, dificilmente existem pessoas como nós —.

  — "Como nós". O que quer dizer com isso? —.

  — Você é bonito isso, é indiscutível, tem cabelos muito bonitos, além de olhos raros. Poxa você é especial, e eu também sou especial. Diferente daquele Renan, que não tem nada de diferente dos outros —.

  — Eu nunca ouvi tanta besteira na vida. Agora eu vejo que o Renan falava mesmo a verdade, você parece alguém da Klan falando —.

  — Baboseira, mas é a verdade, quer você queira ou não —.

  — Se essa for a verdade, prefiro viver em um mundo de mentiras —.

  — Só queria deixar bem claro que eu gosto de você, não só como amigo. Eu gosto de você desde a primeira vez que o vi. E quando eu ouvi você dizendo que tinha algo com o Renan isso partiu meu coração. Porque nunca vi alguém tão indigno como ele —.

  — É melhor você medir suas palavras —.

  — A verdade dói, mas pelo menos com a dor você perceberá que eu sou a pessoa certa para você. Eu posso te dar o mundo garoto, pra você pra sua avó, pra todos que você ama. E isso só depende de você. O que aquele bailarino pode te oferecer? Nada, nem metade, nem um terço do que eu posso —.

  — Eu não quero nada seu, apenas quero que você mantenha distância, e pare imediatamente de falar assim do meu namorado —.

— Ele com certeza encheu sua cabeça sobre mim. Heitor, abra seus olhos, não deixe alguém como aquele qualquer te afastar desses amigos. Ele só quer uma chance de ser alguém, quando ele conseguir uma oportunidade vai te abandonar pra seguir o sonho dele, você é algo efêmero no mundo dele, um passatempo talvez. Isso não é engraçado, Cassiano me disse que o sonho dele é ir a Paris. Me diga Heitor, quem você acha que ele vai escolher? A carreira ou você? Não seja estúpido, ele vai continuar com a carreira. Portanto reflita, vai mesmo querer continuar a se relacionar com aquele bailarino, de sobrenome barato, que dança achando que vai ser alguém na vida. Aquele rato sujo... —.

  — CALA A MERDA DESSA BOCA FILHO DA PU** —. Me levantei violentamente e bati na mesa com muita força. Ver alguém ofendendo o Renan não foi nada agradável.

  — Quem você acha que é moleque pra ficar falando assim dele? Só porque a porcaria da sua família veio da porra de um país diferente do dele. Só porque a porcaria dos seus olhos são claros. Foda-se você, foda-se sua aparência. É melhor medir as palavras, não quero nunca mais ouvir o nome do Renan na sua boca. E faça o favor de não me dirigir a palavra —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

 

 

 

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