Capítulo XXV

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                               (Renan)

   — E aí, como está se sentindo agora? —.

   — Melhor, bem melhor —. Me levantei, bebi um pouco de água, e em seguida caminhei até perto do palco.

  Olhei para meu par nessa peça, ela estava ali perto, tão nervosa, não tenho nada contra ela, mas ainda acho que deveria ser Violeta no lugar dela.

  — Eu acho que você gosta dele de verdade —.

  — Por que? —.

  — Porque só bastou vocês conversarem que já está todo calmo focado. Acho que você precisa dele Renan —.

  — Não fala besteira Violeta, já basta aquele monte que pensei agora a pouco, não quero pensar mais em nada —. Falar com o Heitor foi bom, muito bom. Era realmente o que eu precisava, mas o que eu realmente precisava naquele momento era me concentrar.

  "— Você é o maior —". Suas palavras ecoaram na minha cabeça, elas eram belas, tinham um grande valor para mim. Era muito gratificante saber qhe tinha alguém torcendo por você, ainda mais se esse alguém for o Heitor. Seja lá qual seja o espaço que ele tenha na minha vida, deve ser muito importante, muito importante mesmo.

  Quando entrei no palco, lembrei do nosso beijo, do nosso momento de prazer. E para meu espanto tudo fluiu bem, desde meus saltos até meus passos, nem um erro sequer, nem o mais mínimo que fosse.

  Vendo tudo o que acontecia, ganhei confiança e então fiz a melhor apresentação da minha vida. Quando fiz um pequeno intervalo o diretor na peça veio até mim e falou:

  — Seja lá o que você fez, continue fazendo —.

  Aquela trilha sonora doce e romântica, se misturava as lembranças grandiosas na minha cabeça, e isso me deixava emocionado. Quando terminei de dançar, olhei para todos os lados, e então percebi que aquele era o fim da peça. 

   Os aplausos ecoaram alto, me deixando feliz por ter conseguido terminar aquela apresentação. Agradeço a plateia, e fico parado tentando respirar mesmo estando exausto.

  — Ah, eu gosto de você seu idiota —. Falei lembrando mais uma vez de Heitor.

                                 •••

  Já bem mais calmo, no meu camarim, eu tirava aquela roupa e aquela maquiagem. Quando de repente ouço alguém bater a porta, pensei que fosse a Violeta, por isso pedi que entrasse, mas para minha surpresa era Cauã.

  — É aqui o camarim do maior bailarino do mundo? —. Ele trazia consigo um buquê de rosas vermelhas, tão belas, mas tão sem significado para mim, ou para nós.

  — Oi! —. Digo me virando não muito feliz.

  — Oi —. Ele tenta me beijar, mas acabo não deixando, ele me olha curioso, e em seguida pergunta:

  — Aconteceu alguma coisa? Se fiz algo de errado, mil desculpas —.

  — Não, você não fez nada de errado, mas é que... Eu já... —.

  — Ah acho que entendi —. Ele ri um pouco decepcionado, seu olhar se desviou do meu. Mas mesmo assim continuou calmo.

  — Cauã você é um cara muito incrível, mas... —.

  — Não precisa explicar, já entendi, eu pensado que um cara como você estaria dando sopa por aí. Não tudo bem eu entendo, fico feliz por você —.

  — Me desculpa —.

  — Não há nada o que desculpar, tenha uma boa noite —. Assim ele saiu por aquela porta, deixando as rosas vermelhas em cima da cadeira. Eu me senti um lixo por ter dado falsas esperanças a ele. Creio que não merecia nem um pouco isso.

  Acho que não mereço nem ele, nem o Heitor. Tudo o que eu mereço é um soco bem dado na minha cara.

                                   •••

   Ao chegar no quarto do hotel, cai em cima daquela cama e olhei para o teto sorrindo, mesmo depois de tudo o que aconteceu.

  O fato de eu encontrar o Heitor amanhã me animava, uma hora dessas ele deveria estar dormindo então decidi não incomodar. Tudo saiu muitíssimo bem no final das contas. Mais uma vez não decepcionei no ballet como protagonista, dei um importante passo junto de Heitor.

  Então tentar afastá-lo e esquecê-lo foi a pior coisa que tentei fazer. Acho que agora não havia muito mais caminhos a se tomar.

  No dia seguinte, acordei feliz, olhei ao redor, e tudo parecia tão calmo, um silêncio cantante e relaxante assobiava em meus ouvidos. 

  Levantei, vesti meu roupão, e depois pedi meu café da manhã, caminhei até a janela, de onde vi uma bela avenida. Não era a cidade, mas sim minha mente que estava me causando aquele desespero todo.

  Enquanto eu comia, assistia a trechos da apresentação. Minha alegria era imensa ao ver que eu estava dançando mais que bem, perfeitamente. Nem parecia eu. Depois dessa apresentação, sinto que posso dominar o mundo inteiro dançando ballet, mas sinto que preciso de Heitor perto de mim.

  Então depois do café, fui terminar de arrumar minhas malas, eram tantas, peguei essa mania com minha mãe. Eu não queria por nada perder esse voo. Eu tinha que falar com Heitor hoje, eu precisava disso.

  Dentro do carro olhei para o teatro Amazonas, com todas aquelas cores da cúpula, dei um leve sorriso. Certamente aquele era um lugar do qual eu jamais esqueceria, e que com toda certeza do mundo quero visitar mais uma vez. Melhor quero dançar naquele palco mais uma vez.

   Imagino a cara que o bombeiro faria ao olhar cada detalhe daquele teto. Ele certamente ficaria encantado. Então dá próxima vez quero que ele venha também, para me ver dançar. Só espero que não demore muito, pois já estou ficando com saudades daquele teatro.

  Ao entrar no avião, coloquei meus fones. Seria uma viagem até curta, mas eu preferia me desligar um pouco do mundo.

  Fechei os olhos, e me concentrei na música, e quase que inevitavelmente dormi. Só acordei quando o avião estava saculejando já aterrisando. Despertei e me arrumei.

   Já no chão, peguei minha bagagem de mão, e fui rumo a saída. Minha mãe me esperava lá fora.

   — Oi —. Digo, todo feliz, ela estava séria, tentando não sorrir também, mas as suas sobrancelhas entregavam tudo.

   — Você está quase bom, mas ainda tem que se esforçar bastante —. Vindo dela isso era mais que um elogio.

  — Obrigado, mas agora vamos, tenho algumas coisas para fazer —.

 

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

  

 

 

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora