Capítulo CXVI

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                           (Renan)

  Eu estava tendo um daqueles dias chatos, em que qualquer coisa poderia me tirar do sério. Faltava uma semana para a grande apresentação, eu tentava mesmo me concentrar apenas no ballet, mas Heitor estava me tirando do sério, sete meses de namoro, e as vezes parece que já cansei dele, é apenas impressão, pois eu dependo profundamente daquele homem.

  Como eu disse qualquer coisa poderia me tirar do sério, Heitor me ligou naquele dia para reclamar do casamento da sua avó, eu apenas mandei ele crescer e para de encher meu saco com isso, ele desligou na minha cara. Até agora estou pensando se fui grosso ou não. Esse sentimento de culpa anda me atormentando profundamente.

   Não consegui me concentrar depois disso, tomei um belo banho e depois fui para casa. Meu pai me ligou depois e falou sobre o processo que eu joguei em cima do Hugo, ele falou que foi arquivado por falta de provas, eu nem estava com muita fé que isso daria em alguma coisa mesmo, mas pelo menos ele sumiu do mapa, sem e nunca mais apareceu para o Heitor nem para mim.

   Decidi tirar um dia interio apenas pra mim, sem Heitor nem ballet para encher o meu saco, fui ao shopping comprei roupas, livros e coisas que fazem eu me sentir bem, fui ao salão fiz o cabelo, hidratei minha pele, fiz minhas unhas, me depilei, recebi uma massagem divina.

   Depois disso fui passear pelo jardim botânico de Curitiba, tentando manter os problemas o mais longe possível. Eu estava sempre preocupado com qualquer coisa menos comigo mesmo, eu precisava pensar mais Renan, mesmo que pensar no Heitor fosse legal.

   Voltei para casa, tirei um longo cochilo, naquele dia não falei mais com Heitor, se ele quisesse que me procurasse. E assim ele fez, no outro dia quando eu estava saindo para o ballet, esbarrei com ele na frente do meu prédio, com a blusa dos bombeiros e de braços cruzados bem encostado no seu belo carro.

   — O que faz aqui? —.

   — Posso saber por que não fala mais comigo? —.

   — Por vários motivos, o primeiro deles é que você está se tornando insuportável e você está mais preocupado com a vida da sua avó, ou melhor em atrapalhar a vida da sua avó do que em nós dois. E eu acho que mereço alguém um pouco mais maduro, coisa que você não está sendo nem um pouco nesse momento —.

   — Eu estou aqui Renan, eu me preocupo com você também —.

   — Você só está aqui porque deixei de falar com você, e porque sua avó está brigada com você, e agora é por sua causa, então não venha tentar se desculpar, nem tentar colocar a culpa das suas ações sobre mim —.

   — Mas eu não estou querendo fazer isso, mas pelo visto você também não está querendo me ouvir —.

   — O que você tem dizer? —. Acabo cedendo aquela chantagem emocional barata, porque eu sabia quando ele fazia aquilo alguma coisa geralmente boa iria acontecer.

   — Toma café comigo que eu te conto —.

   Eu olhei no meu relógio o horário, vi que dava tempo. Acabei entrando naquele carro, sentei no banco da frente.

  — Nem vem com gracinha senão arranco teu brinquedinho —. Logo aviso, pois Heitor gostava de me apalpar naquele carro, mas naquele dia eu não estava nem um pouco afim.

   Ele me levou a um café diferente, tinha um nome legal, e era bem no centro da cidade, era um dia bastante frio e com muito vento. Suas bochechas estava coradas, e ele estava trêmulo.

   — Fez alguma coisa no cabelo, não foi? Está diferente —.

   — Não enrola Heitor, não posso passar o dia inteiro nessa bajulação —.

   — É o seguinte, vim aqui lhe comunicar que desisti de tudo, não vou mais me opor ao casamento da minha avó e do velhote, mas eu não vou mais morar com ela. E eu queria que você viesse comigo escolher uma casa para eu alugar, uma que fosse do seu agrado —.
Aquele Heitor era mesmo uma piada, ele sabia que morar com ele era o que eu mais queria, e dessa vez ele não estava apenas me usando como segunda alternativa apenas enquanto estava brigado com sua avó —.

   — Você já conversou com sua avó sobre isso? —.

   — Não, não temos conversado muito ultimamente, mas eu pretendo falar, acho que já chegou a hora de eu sair debaixo da sua asa —.

   — E o que fez você pensar assim? —.

   — Ela não precisa mais de mim, ela agora tem o velhote para lhe fazer companhia, isso pelo menos é uma bela vantagem, e é inegável. Pelo menos o Adamastor é uma boa pessoa —.

   — E só agora percebeu isso? Só agora depois de ter feito a sua avó sofrer por semanas? —.

   — Antes tarde do que nunca não é? —.

   — Olha eu aceito morar com você, mas você vai ter que conversar com sua avó e o Adamastor, sem isso pode esquecer qualquer chance de morar comigo —.

   — Tudo bem, eu preciso conversar com eles mesmo —.

  
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora