Capítulo XCIX

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   Votem

                         (Heitor)

   Mas era só o que faltava mesmo, aquela mulher dizer que eu era o responsável por todos os problemas do Renan. Já lidei com muitas pessoas malucas, uma delas a minha mãe, mas nenhuma dela estava me deixando mais assustado e furioso do que a mãe do Renan.

  — Estamos aqui discutindo o bem do Renan, eu tenho um plano alternativo, você quer ouvi-lo pelo menos? Ou caso contrário, prefere o ver assim como ele está? —. Embora eu reprovações cada ideia sórdida, advinda daquela sujeita, eu tinha que admitir que ela estava meio certa.

   — Prossiga —.

   — Muito bem, o Renan  pode entrar em uma outra companhia, dessa vez uma bem melhor, nos temos condições de pagar por outra e ele tem talento suficiente para entrar em algumas que são disputadas. Contudo temos um porém, essas outras companhias não ficam no Paraná. Poderíamos mandá-lo para Joinville, ao Bolshoi ele amou quando visitou a escola de teatro. Mas o conhecendo ele não vai querer ir, se fosse em outros tempos, nada o prenderia aqui, mas você chegou, você mudou tudo, você tirou ele do seu caminho glorioso —.

  — Já imagino onde essa conversa vai chegar, é melhor que não prossiga —.

  — Deixe-o ir, ele não tem nada a ganhar aqui, o convença a ir, será muito melhor para ele, em outro estado, outra cidade, longe de todas as coisas que o artomentam. Heitor, falo a você como mãe, você está fazendo muito mal ao meu filho. Renan já foi um bailarino melhor, hoje em dia está praticamente acabado. Você prende seu futuro, você o impede de voar —.

   — Eu não vou abrir mão do Renan, você nunca vau entender, nunca vai. Ele é o meu namorado, já foi muito difícil namorar com ele, por sua causa, porque você enlouqueceu ele o suficiente para ele bloquear todo sentimento bom. Ele hoje tem alguém que o protege, que o enxerga muito além de um bailarino. Ele está cansado, você exige demais dele, ele é apenas um garoto que mal amadureceu, ele deveria sair por aí, se divertir com seus amigos, se preocupar apenas com seu namorado, ou quem sabe com sua faculdade. Mas não, por sua culpa ele se cobra ao extremo, por sua culpa ele duvida de si mesmo constantemente, por sua culpa ele está definhando. Você que tem que se afastar do Renan. Porque você é a principal causa de todos os problemas dele —. Me exalto, e acabo falando um pouco mais alto que o normal. Os meus ânimos me dominam, e pouco a pouco perco a razão, esse era o seu objetivo, me deixar louco também. Ela era como uma serpente, rasteja por aí despejando seu veneno em quem cruzasse o seu caminho.

  — Você sabe que cedo ou tarde ele vai ter que ir embora, você vai querer o acompanhar? Suponho que não, afinal você tem muitas coisas que o prende aqui, sua avó por exemplo. Conseguiria você dormir em paz, sabendo que sua avó está do outro lado do atlântico sozinha? Suponho que não, você tem um bom coração garoto, isso é admirável, mas você, não nasceu pra ficar com meu filho. Você tem seus próprios sonhos, não vai querer viver as custas dele. Já passou da hora de acabar com isso, você é adulto, aceite sua realidade. Não deve lhe faltar pretendentes, largue o Renan, deixe ele ser feliz de verdade —.

  — Me pergunto se você não enxergou a mudança que ocorreu em seu filho, creio que sim, mas acho que o fato de eu ser pobre mudou sua percepção acerca disso. Minha vida não lhe diz respeito, o Renan não está mais ligado a você. Saia imediatamente da minha casa —. Minha vontade era pegar aquela mulher pelos cabelos e atira-la no meio da rua, mas ainda me restava um pouco  de sanidade mental, e também respeito às mulheres, mesmo que da mais baixa qualidade, como aquela que estava ali a minha frente.

  — Presumi que fosse dizer isso, por isso vim preparada para um acordo — Ela tirou da bolsa um talão de cheques, fiquei perplexo com aquilo, afinal não pensei que ela fosse tão longe — Me diz, quanto você quer pra deixar meu filho em paz? Você pode fazer muitas coisas com esse dinheiro, sua avó por exemplo ela precisa de muitas coisas nessa idade. Essa casa também anda meio caidinha, já passou da hora de comprar mobília nova e se livrar dessa ninharia —.

  — Você lava a sua boca pra falar dessa casa! Se você pensa que pode vir aqui e soltar esses seus insultos está muito enganada. Pegue a porcaria desse seu dinheiro e vá para o raio que a parta. Vamos saia da minha casa agora —. A peguei pelo braço. Confesso que essa não foi uma decisão muito pensada afinal ela começou a se contorcer e tentar soltar-se.

  — Me solta, seu porco fedorento —.

  — Heitor o que é isso? —. Minha avó perguntou do sofá.

  — Eu expulsando essa vadia dessa casa. Ela insultou nossa família, e tudo o que construímos durante nossas vidas —.

   — Me solta, eu me retiro sozinha desse chiqueiro, nunca vi um lugar feder tanto a mofo quanto esse. A senhora tome muito cuidado pra não morrer de diabetes, com o tanto de açúcar que coloca nesse café —. Como se já não bastasse ela começou a ofender minha avó, que não faz mal nem a uma mosca.

   — Vai embora sua cadela —. Falei e a fui empurrando até o lado de fora.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora