Capítulo CXXX

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Os dias infindáveis e monótonos passavam devagar, não havia sinais de melhora no estado do meu Renan, o seu eterno sono continuava mesmo depois de longas semanas. Ao menos as feridas em sua pele perfeita haviam sumido, ele estava mais magro, bem mais magro, seu rosto possuía agora mais detalhes, sua mão sempre estava quente eu gostava de segurá-la, e assim me agarrava na esperança de ele acordar quando eu estivesse com ele.

Todos os dias, três vez eu ia a capela, acendia uma vela e rezava com todas as forças que eu podia para Deus trazê-lo de volta, naquela capela havia uma estátua muito bonita do Arcanjo Rafael, segundo a tradição católica Rafael era o arcanjo da cura, aquele quem curava em nome de Deus, aquela estátua olhava para baixo e eu sentia como se ele tentasse entrar em contato comigo.

- Glorioso Arcanjo Rafael, que dignastes tomar a aparência de um simples viajante para vos fazer o protetor do jovem Tobias. Ensinai-nos a viver sobrenaturalmente, elevando sem cessar nossas almas, acima das coisas terrestres. Vinde em nosso socorro no momento das tentações e ajudai-nos a afastar de nossas almas e de nossos trabalhos todas as influências do inferno. Ensinai-nos a viver neste espírito de fé que sabe reconhecer a misericórdia divina em todas as provações e as utilizar para a salvação de nossas almas. Obtende-nos a graça de uma inteira conformidade com a vontade divina: seja que ela nos conceda a cura dos nossos males ou que recuse o que lhe pedimos. São Rafael, guia, protetor e companheiro de Tobias, dirigi-nos no caminho da salvação, preservai-nos de todo perigo e conduzi-nos ao céu. Assim seja. Por favor traga-me o Renan de volta para mim, restaure por favor a sua vida, eu nem sei o que faria em gratidão, eu o suplico com minhas últimas esperanças não me desampare nesse momento, Amém -. Orei a ele, eu nem sabia como ainda lembrava de toda aquela oração, pois fazia tanto tempo que não a repetia. Lembro do meu avô todos os domingos de manhã bem cedo rezando, ele me chamava para rezar com ele, e foi assim que eu aprendi.

"- Deus está muito acima de nós, nossas súplicas são insignificantes, nós somos insignificantes, mas ainda assim ele nos ama, por isso deu-nos os santos, para que interceda em nosso favor e sejam a ponte entre nós pecadores e o santíssimo -". Ele disse-me uma vez quando eu questionei por que não rezávamos diretamente para Deus.

Me levantei, olhei bem fundo nos olhos de mármore do santo, vi seu belo rosto sendo iluminado pela luz laranja das velas, me questionei se ele seria mesmo assim, belo com um rosto tão sereno. Saí da capela, eu já havia feito aquele trajeto tantas vezes que meus pés faziam o caminho sem minha mente, pois ela estava tão longe. Esses dias aflitos e obscuros haviam me destruído a vida inteira me julguei como uma pessoa forte, mas depois do terrível acidente percebi que eu sou fraco, talvez o mais fraco dos homens, que sou facilmente derrubado, e que minha vida não é apenas minha.

Cheguei na porta do quarto do Renan, e logo me desesperei, estava cheio de enfermeiros e médico.

- Ah não, por favor não me digam que não -. Eu imaginando o pior comecei a chorar, tentei passar a frente de todos e vê-lo com meus próprios olhos, mas eles me seguraram eles falavam algumas coisas em sua língua, mas eu não entendia nada.

- Me deixem passar, eu quero vê-lo -.

- Heitor o que houve? - O pai do Renan me questionou ao chegar com sua esposa no quarto, ela ao ver o alvoroço começou a chorar também, e fez o mesmo que eu tentou passar a todo custo por eles.

- Laisse moi passer -. A mãe de Renan falou batendo no peito de um dos enfermeiros.

- Calmez-vous madame, tout va bien, votre fils vient de se réveiller, on fait juste des tests -. Ela acalmou-se, olhou para a equipe que estava ao redor do leito do Renan.

- Ele acordou Heitor, ele acordou! -. Seu pai falou começando a rir e a chorar.

- Renan, eu estou aqui, estou aqui com você eu te amo, eu estou aqui -. Gritei bem alto para que ele ouvisse. Os médicos conversaram com a sua mãe, eles falaram por um longo tempo com ela, logo depois eles se abraçaram e ela o agradeceu.

Depois de uns longos minutos eles saíram do quarto, eu caminhei apressado por eles, ansioso para ver Renan, mas quando eu cheguei no seu leito ele estava dormindo. Aquilo foi um banho de água fria, seus braços estavam contidos no leito, ao que parece ele não estava muito bem.

- Ele acordou muito alvoroçado, ele estava gritando, chamando, ele chamava como se estivesse procurando por alguém, eles tiveram de dar um sedativo, ele vai passar a noite dormindo -.

- Pelo menos ele acordou, eu vou ficar aqui com ele -.

- Quem é Rafael? -. Sua mãe me questionou.

- Rafael? Por quê? -.

- Os enfermeiros falaram que ele chamava por esse nome, chamava por esse nome para ir à escola, imaginei que fosse alguém da sua família -. Ela falou passando a mão no cabelo de Renan. Eu quase não acreditei no que eu havia acabado de ouvir, dei um sorriso gigantesco.

- Foi o anjo! -.

- Como é? -.

- O Anjo o trouxe de volta, ele ouviu minhas súplicas eu implorei para o Arcanjo Rafael e ele me ouviu -.


CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora