Capítulo CV

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                              (Heitor)

   Peguei a chave no bolso, caminhei pelo jardim lentamente, com toda calma do mundo, mas com o coração também acelerado. Coloquei na porta, criei bastante coragem e a abri. A casa estava em silêncio, tudo estava muito bem organizado, nada tinha mudado, nada mesmo, minhas fotos continuavam na parede, até as coisas que fiz na escola estavam na estante.

   Caminhei lentamente até as escadas, até que sou interrompido pela minha avó, que falou da mesa em que estava sentada na cozinha:

  — O que faz aqui? Ainda mais entrando sorrateiramente? —. Indagou. Olhei para ela e percebo uma expressão bastante séria.

  — Vim buscar minhas coisas, já que não moro mais aqui. Será que posso subir? —.

  — Ora, se as coisas são suas, suba lá e pegue, não tenha cerimônia —.

  Subo as escadas, mas paro no meio dela, haviam muitas palavras entaladas, e para o meu bem, era melhor que elas fosse faladas. Assim sem que fosse olho no olho.

  — Sabe. Não sei o que é pior, você ter me expulsado de casa, ou o fato de você não dar a mínima para a única pessoa que lhe restou. Por tanto tempo você falou que queria minha felicidade, mas não soube nem ouvir minha explicação. Não sei o que a senhora quer com tudo isso, mas lhe digo vovó, tenho certeza que meu avô morreria de desgosto de estivesse vivo, e não seria pelo fato do neto dele namorar outro homem, mas pelo fato da sua mulher expulso seu neto de casa. Porque eu sei, que ele aceitava a minha mãe, com todos os defeitos delas, que não são poucos, mas eu? Eu por acaso já fiz alguma coisa de errado? —. Indaguei e tive o silêncio como resposta, certamente ela não estava dando a mínima.

   — Eu só queria um pouco de compreensão da sua parte. Eu estava feliz até você me expulsar de casa. Posso ter mil defeitos, mas em nenhum momento pensei em lhe abandonar. Mas pelo visto minha consideração não é igual a sua. Nem sei porque estou falando ainda, seu que sou uma aberração para a senhora. Eu só vou pegar o resto das minhas coisas e vou embora — Uma lágrima caiu do meu rosto, eu a sequei, pensei que não havia mais motivos para chorar, mas pelo visto eu estava errado — Se quer saber, acho que estou matando parte de mim, ao sair desse lugar, ou melhor, a senhora está matando. Eu sempre te amei vovó, ou melhor, mamãe —. Subi as escadas, sequei as lágrimas que insistiam em cair, entrei no meu quarto, ele estava muito bem arrumado, como se minha avó tivesse arrumado.

  Peguei minha mala, a abri, eu estava sem forças, mas tinha que fazer aquilo, fui até meu guarda-roupa, peguei minhas roupas, peguei algumas lembranças muito importantes, como por exemplo uma pedra que achei quando fui acampar com o vovô.

   Segurá-la mais uma vez me fez chorar, eram muitas coisas que voltavam a minha cabeça, eu era uma criança ainda mentalmente, pois não estava pronto para essa vida de adulto.

   Fechei a mala, fiquei um tempo olhando as coisas do meu quarto, tentei imaginar como seria minha vida longe daquele lugar. Aquele espaço era simplesmente eu.

   — Você pensa que vai aonde por acaso? — Vovó entrou no quarto gritando e me deu uma chinelada nas costas — Eu por acaso te criei pra você fazer isso? —. Ela continuou me batendo até que segurei sua mão, ela estava chorando muito.

  — Foi a senhora que mandou eu ir embora —. Digo.

  — Mas não era pra você ir —. Ela solta a chinela e depois me abraça. Sentir aquele abraço mais uma vez, me deixa muito feliz, não pude conter mais uma vez as lágrimas que caíam do meu rosto.

  — Por que me expulsou então? —.

  — Porque eu sou uma velha doida, por isso. Graças a Deus você está bem, aonde você esteve esse tempo todo? —. Ela diz olhando no meu rosto.

  — Eu estava com o Renan, eu estou bem vó —.

  — Não Heitor, você não está bem, você está pálido e magro. Você não está comendo? —.

  — Eu estou —.

  — Mas não parece. Ainda quer viver longe de casa! Se você fizer isso de novo, eu te dou uma surra de cinta, e bem dada —. Eu estava feliz que estávamos conversando de novo. Mas minha avó em nenhum momento questionou sobre Renan, ou sobre o meu relacionamento, portanto tínhamos que ter uma conversa muito importante.

  — Vó precisamos conversar, sei que a senhora não está muito bem com que aconteceu, mas realmente precisamos dessa conversa —. Ela me olhou por um tempo, arrumou meu cabelo, e acenou com a cabeça.

  — Vamos pra sala, vou fazer um lanche pra você, com certeza estava comendo como um periquito onde estava —. Descemos as escadas, como era bom estar em casa de novo, minha avó, tirou um pedaço de bolo da geladeira, cortou uma fatia bem grande e serviu com suco de laranja.

  — Coma tudo —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

 

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora