Capítulo CXXXIV

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                              (Heitor)

   
E tudo voltou a estaca zero, eu em Curitiba, o Renan bem longe da minha vida, só que agora tudo havia mudado, eu estava sozinho, sozinho no lugar onde eu pensava que seria feliz independente de tudo, mas que na realidade eu não estava nem um pouco bem.

   — Heitor meu filho, não quer ir dormir conosco, não precisa ficar aqui sozinho nessa casa —.

   — Não vovó, eu estou bem, vou ficar bem —.

   — Olha, eu sei que nunca conversamos muito sobre o seu relacionamento com o Renan, mas se quiser conversar eu estou aqui para te ouvir está bem? Você tem se isolado bastante ultimamente, já não tem muitos amigos e agora é do trabalho para faculdade e depois para casa. Precisa de um descanso e alguém para conversar —.

   — Eu amo ele vovó, eu amo o Renan demais, eu nunca duvidei disso, nem por um instante sequer, amar ele é a melhor coisa que eu sinto e é também a pior coisa que eu sinto, depende muito do momento. Mas na realidade o tempo que passamos quando estamos juntos, vale mais que qualquer coisa. Eu amo tudo nele, amo demais, o cabelo, os lábios, a forma como ele sorrir com os olhos, aquelas sobrancelhas grossas, aquela pele macia de cor perfeita, os olhos avelã. São detalhes, detalhes pequenos que podem passar despercebidos a qualquer pessoa, mas que são muito preciosos para mim, eu o amo, muito mesmo, não me pergunte porque, poderia dar mil respostas, mil porquês, mas um apenas não seria suficiente —.

   — Fico feliz que você esteja amando alguém assim, amar é uma coisa maravilhosa, vocês tem sorte, tem vários anos pela frente, quando esses anos passarem e vocês já não forem as mesmas pessoas esse sentimento vai continuar, porém maior é maior. Quando olhar para tudo o que conquistaram juntos, por mais simples que sejam as conquistas, você sentirá que está completo e que não precisa de nada mais. Não há nada melhor do que sentir isso —.

   — Quando a senhora soube que não precisava de nada mais? —.

   — Quando você nasceu —.

  
•••


T

rês semanas se passaram, as únicas coisas que eu sabia do Renan era que ele estava bem e estava com a família dele, essas eram as notícias que o seu pai gentilmente me dava, já que ele insistia em ignorar minhas mensagem, pensei várias vezes em visitá-lo, mas acho que eu não seria muito bem recebido.

Me olhei no espelho, eu estava tão diferente, minha barba estava grande, há tempos que eu não fazia ela, meu cabelo igualmente, estava quase parecido com o cabelo do meu amor, mas não tão bonito como o seu.

Tirei a barba, esse não era eu, o Heitor não gostava de barba grande, cabelo sim, mas barba não, e eu sei que o Renan gosta assim também.

(Renan)
  

— E o seu namorado? —. Questionou violeta, estávamos sentados na varanda da casa dos meus pais, fazendo um lanche, apreciando um ipê amarelo que estava florido.

— O que tem ele? —.

Ele vem te visitar bastante? —.

— Terminamos.—.

— Terminaram? Por quê? —.

— Porque não damos certos juntos, mão nascemos para ficarmos juntos, eu entendi isso a muito tempo, mas tentei ignorar —.

— Ficou maluco? Depois de tudo o que vocês passaram juntos, você me diz que não nasceu para ficar com ele? —.

— É a realidade violeta —.

— Não Renan, a realidade é que você tem o namorado mais perfeito do mundo, e o seu namorado igualmente. O que acontece é que você está de luto, e está tentando barganhar sua perda e você optou pelo seu relacionamento —.

— Eu optei pela felicidade dele, eu não sei se um dia eu vou voltar a ser o mesmo, eu sei que eu vou andar, correr e fazer tudo o que eu quiser, mas é quanto a minha mente? E quanto ao que eu desejo? —.

— O que você deseja? —.

— Não sei, e seria tão mais fácil se eu soubesse, mas agora o que eu queria mesmo era poder andar, poder sair correndo por aí, ser livre —.

— Quer sair comigo? Podemos fazer um passeio, hoje o dia está bastante agradável —.

— Melhor não Violeta, não quero sair, quero ficar aqui, por incrível que pareça, este lugar está sendo um lar para mim, pela primeira vez em muito tempo —.

— Vocês quem comer mais alguma coisa? —. Minha mãe perguntou ao chegar na varanda, ela colocou a mão no meu ombro e depois beijou minha cabeça.

— Não, obrigado mãe —. Depois de tudo, ela estava tão legal comigo, eu sempre acreditei que se um dia minha carreira acabasse, ela seria a primeira a me chutar de sua vida, mas não, ela estava comigo, cuidando de mim, finalmente sendo a mãe que tanto eu precisei.

— Como vai a sua carreira? —. Indaguei a Violeta.

— Apresentações, ensaios, a mesma coisa de sempre. Acho que depois que você foi embora, o ballet nunca mais foi o mesmo —.

— Às vezes eu acho que eu não deveria ter ido a Paris, caso tivesse ficado, ainda poderia estar dançando. Mas enfim, meus ossos estão quebrados, não há o que fazer —.

— Foda-se o ballet, você é muito mais que isso, ser bailarino é apenas uma parte de sua personalidade, a ponta do iceberg, o que significa que precisa descobrir o que mais faz parte da sua vida, o que mais você precisa fazer é viver —.

— Procurar um outro sentido para viver? Já estou nessa minha cara, mas o que eu penso agora é apenas em sumir, virar pó —.

— Você poderia ser modelo, poderia atuar no teatro, você é um excelente ator também, sua voz é linda, poderia cantar. Ou apenas viver una vida comum, ninguém precisa ser grande coisa pra ser feliz —.

— Acho que quando eu poder andar vou viajar, passar alguns dias fora, Argentina quem sabe, ou então em Gramado, só Deus sabe como eu amo aquela cidade —.

— Conversa com o Heitor, ele deve estar sofrendo muito, ele te ama demais —.

— E você acha que eu não o amo? Eu amo aquele branquelo bombado mais do que tudo nesse mundo —.

— É eu sei, enfim, meses atrás eu te disse que gays eram complicados, agora eu tenho certeza —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora