Capítulo IV

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                               (Heitor)
 
   — Vamos vovó, ainda temos que escolher nossas roupas —. Gritei por ela, seu entusiasmo em ir ao teatro era bem visível. Ela merecia sair um pouco, a pobrezinho já sofreu tanta nessa vida. Do desprezo da filha a morte do seu companheira, ela era muito forte de ainda ter forças para continuar.
 
  — Ah Heitor, mal posso esperar para entrar naquele teatro —.
 
   — A senhora vai ser a mais bela de todas hoje, pode ter certeza —. Brinquei, nossa relação era assim, bem próxima, mas também ela me criou, o que esperar senão uma relação assim.
 
  Fomos a pé, não tínhamos carro ainda, eu juntava um pouco de dinheiro, mas demoraria um pouco. Como eu estava de folga hoje, aproveitei para sair um pouco com ela.
 
  — Heitor? —.
 
  — Sim dona Olga —. Esse era seu nome  Olga, um belo nome, para uma bela senhora.
 
  — O que vai ter no teatro mesmo hoje? —.
 
  — Pensei que soubesse, não leu os ingressos? —.
 
  — Não —.
 
  — Será uma peça de Ballet, Romeu e Julieta —.
 
  — Ah Romeu e Julieta, lembro-me de quando fui a Julieta na peça da escola —.
 
  — Espera, nunca me contou essa história —. Vovó era uma caixinha de surpresas, quando eu era criança, adorava ouvir as suas estórias, sempre tinha uma nova.
 
   — Bem, pensei já ter contado, foi há muito tempo, no segundo ano do ensino médio, lembro que fiz o teste para Julieta e passei —.
  — Quem foi o Romeu? O vovô? —.
 
  — Não, foi um rapaz que estudava comigo, seu avô ficou tão enciumado, passou quase uma semana me olhando feio depois da apresentação —.
 
   — Imagino a cena de vocês dois —.
 
    Entramos em uma loja de roupa, daquelas que vendem de tudo e mais um pouco, vovó tratou logo de procurar o meu terno, caminhamos um bom tempo dentro da loja, ela olhava com atenção cada peça de roupa, sempre experimentando a textura do tecido.
 
  — Experimenta esse Heitor —. Ela disse me entregando um terno azul escuro, o peguei em mãos e fui até o provador, tirei minha roupa e depois vesti o que minha vó tinha pedido. Me olhei no espelho com muita atenção, até que eu não estava mal.
 
  — Que tal Vó? —.
 
  — Ah ficou perfeito, gostou desse? —.
 
  —  É gostei —.
 
  — Falta apenas a gravata —. Ela rapidamente fez sua busca entre as muitas coisas da loja e voltou com a tal gravata.
 
  — Pronto —. Falou e eu me olhei no espelho, não querendo me gabar, mas eu estava irresistível.

  — Que tal vovó? —.

  — Se fosse mais bonito seria preso —. Brincou.

 Brincou

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                              (Renan)

   — Vamos passar só um pouco de base aqui e já acabamos —. O maquiador diz, eu estava um pouquinho nervoso, mas por nada desistiria, esse não era meu instinto.

   — Tdo bem —. Eu tentava me concentrar nos acordes do violino.

   "— Você está bem? —". Como um raio, essa lembrança vem até mim, totalmente inesperado. Aquele bombeiro com cara de idiota estava na minha cabeça.

   "— Sai da minha cabeça —". Penso.

    "— Será que ele vem? Tomara que não —". Penso novamente.
    — Renan já acabamos —. O maquiador falou me trazendo de volta volta realidade. Me levantei, e caminhei em direção ao palco, aquele maldito collant estava apertado. Entrava inclusive nas minhas nádegas.

   — Olha só quem é a girafa —. Cassiano diz ao me ver.

  — O que vem de baixo não me atinge, aliás sua maquiadora faltou? —.

  — Não faltou, não vê o belo trabalho que ela fez? —.

  — Vejo, você parece um palhaço —. Ele pede um espelho ao seu capacho, e logo em seguida sai furioso em direção ao camarim.

  — Idiota —.

   Eu estava detrás da cortina, só esperando o meu momento chegar, ali naquele tecido havia uma pequena abertura, que permitia ver a plateia.

  — Será que ele veio? — Sussuro — E isso o que importa? —. Isso já estava me perturbando demais, me preocupar se um idiota que conheci ontem viria para minha apresentação.

  A curiosidade falou mais alto, então acabei dando uma espiadinha, e para minha surpresa, o estava lá na primeira fileira. Vestido com um terno, cabelos penteados para o lado. Ele estava elegante, muito elegante.

                            (Heitor)

   — Ingressos por favor —. Nos pediram assim que chegamos na entrada, peguei aqueles dois preciosos pedaços de papel e entreguei ao senhor.

   — Tenham uma boa noite —. Vovó estava do meu lado, ela colocou o braço ao redor do meu, e andamos para dentro. Ela estava muito bonito, vestida em um vestido preto, e com um belo penteado.

 Ela estava muito bonito, vestida em um vestido preto, e com um belo penteado

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   — Por aqui senhores —. Um funcionário do teatro nos conduziu até nossos assentos. Me surpreendi ao saber que eram na primeira fileira. Um excelente lugar, bem próximo ao palco, bem próximo mesmo.

   — Que lugar mais lindo —. Vovó disse.

   — Sim é lindo, foi construído no século passado por arquitetos franceses —. Um senhor de meia idade falou, ele estava no lado dela.

   — Muito prazer madame, me chamo Adamastor —. Falou e pediu a mão de minha vó para beijar, ela deu. Mas que velho mais babão, com aquele ar de sedutor, pensa que minha vó é uma qualquer.

   — Vai com calma aí vovô —. Falei, e ele olhou um pouco feio para mim.

   — Me chamo Olga —. Vovó disse com um sorriso de constrangimento.

   — Um belo nome, sabia que Olga foi uma rainha da Grécia? —. Falou.

   — Não, não sabia —.

   Só o que faltava, um tiozinho metido a dom Ruan dando em cima da minha vó.
E o pior de tudo é que ela ria das coisas que ele falava.

   Olhei para o palco, me lembrei da cena de ontem, do pequeno acidente, e dos vários insultos que recebi do bailarino.
Imagino que ele deva estar muito ocupado e nervoso nesse momento, o teatro estava quase cheio.

   De repente, as luzes se apagam, e resta apenas a luz do palco, uma orquestra começa a tocar lentamente uma melodia lenta e convidativa.

  — Ah vai começar —. Adamastor fala, minha vó me olha animada, pelo menos ela estava feliz com a noite de hoje, se ela estava feliz, eu estava feliz.

  Eu concentrava meus olhos naquele palco, saber se o raivoso bailarino estaria mesmo ali. E não teria desistido.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO
  

  
  

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