Capítulo CXI

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                             (Renan)

   Em casa, um silêncio absoluto, eu estava sentado no sofá, olhando para o relógio, era possível ouvir o tic-tac, aquele barulho era agonizante. Eu esperava Heitor vir me buscar, conforme o combinado, ele me levaria para casa de sua avó. Na noite anterior demorei dormir, imaginado o que raios aconteceria. Espero eu que seja tudo coisa da minha cabeça, porque não estou com saco para brigar com a avó do Heitor, nem muito menos com ele próprio. Nesses últimos dias ficou um clima tenso e estranho entre nós, não por menos afinal disse algumas coisas que estavam entaladas a algum tempo.

   A única coisa que me confortava era o fato de Adamastor, eu o conhecia, era um homem sem preconceitos, muito a frente de sua geração. Tomara que possa pacificar o campo de batalha que aquela mesa pode se tornar, caso a avó de Heitor esteja planejando algo. Eu me arrumei bastante, queria ficar bonito para o meu amor, eu sei como ele gostava de me ver todo charmoso. Sei que ele não resistia quando me via bem vestido. Se bem que seu maior desejo era tirar minha roupa. Mas confesso, não seria má ideia. Gosto de como nossos corpos conversam entre si.

   Ouço a buzina de seu carro, saio correndo até a varanda para conferir se era mesmo ele. Pela janela abaixada ele me olha e solta um belo sorriso. Eu aceno e fecho a porta que dava acesso a varanda e depois sigo apressado para seu encontro. Nem era preciso dizer o quão nervoso eu estava. Eu temia pela minha segurança e também de meu relacionamento. Se a avó do Heitor expulsou ele de casa quem dirá eu. O pior de tudo é que ela parece sempre ser muito meiga. Ninguém espera que ela esteja aprontando algo. Ninguém exceto eu.

  — Nossa, tudo isso só para um jantar de família? —. Questionou Heitor depois que entrei no carro.

  — Não gostou? Se quiser posso ficar feio, assim você pode gostar —. Digo brincando, e finjo que vou beijar-lhe, mas em vez disso passo a língua por seus lábios e rio de sua cara.

   — Você está muito engraçado hoje, está  merecendo uma boa lição —. Ele segura minha cintura e me apertar. Ele segue para meu pescoço, meu ponto fraco, onde dá um beijo alucinante. Mordo o lábio, gemi baixinho. Eu ficava totalmente submisso àquele homem. Eu era totalmente dele, e isso ele bem sabia.

  — Dormiu bem? —.

  — Sim — Menti, não quis colocar coisas na sua cabeça, pelo seu rosto estava sendo um dia bastante especial e não seria eu quem iria estragar tudo — E você? —.

  — Bem também. Nem acredito que vamos comer juntos hoje, na minha casa como um casal —. Ele sorriu. Ver Heitor feliz daquele jeito foi uma das coisas mais satisfatórias de todas. Era nítido seu entusiasmo. E eu estava preocupado por ele. Afinal ele podia se decepcionar hoje mais uma vez, logo depois de uma grande decepção, que foi ser expulso daquela maneira de casa.

  — Também não acredito, mas olha só, esse dia chegou, só espero que corra tudo bem —.

   — Vai dar tudo certo para nós amor, eu sinto isso —. Era quase uma piada, Heitor otimista e eu pessimista em relação a esse almoço. Bom, se ele que mora com sua avó, disse que tudo daria certo, não vejo razão para não estar otimista também. O sorriso daquele homem me tirava do chão, era como uma janela para o céu, um céu estrelado, com estrelas e nebulosas. Um sorriso sincero, um sorriso de felicidade, um sorriso de amor, um sorriso sem maldade. Que ele continue a sorrir por toda a eternidade, pois isso me faz feliz, e isso acalma minha alma.

   Quando chegamos em sua casa, me deu um frio na barriga, mas Heitor de alguma forma percebeu isso, segurou minha mão, e juntos caminhamos porta adentro. Ouvi risadas, elas vinham da cozinha, junto de um cheiro indescritivelmente fabuloso. Olhei ao redor, tudo continuava do mesmo jeito, com aquele cheiro de lar, agora entendo por qual razão Heitor não querer nunca ir embora. Caminhamos até a cozinha, Adamastor estava sentado a mesa, como sempre muito elegante. Ele acenou como a cabeça.

  — Monsieur Donatello —. Disse, como sempre hábil no francês.

  — Monsieur Adamastor — Também acenei com a cabeça para ele — Madame Olga —. Digo e ela estranhamente foi muito educada.

  — Olá Renan, sente-se querido —. Sentei-me ao lado de Heitor. A mesa estava bem decorada. Ela havia preparado um banquete. Sei que ela parecia estar de bem comigo, mas no meu peito ainda existia aquela impressão de que esse almoço não acabaria nada bem. Olhei para Heitor, ele estava feliz, conversava com um belo sorriso no rosto, eu ficava calado a maior parte do tempo, apenas respondia a perguntas que de vez em quando um deles três me faziam.

  Eu só pude ter certeza que nada ficaria bem, quando vi um pouco de tensão no olhar de dona Olga, assim como percebi a inquietude de seus dedos, que produziam um ruído contínuo na mesa. Durante o almoço tudo corria bem, eu comi bem devagar e calmo, apreciando a comida. Confesso que fiquei com receio de comer algo, talvez ela estivesse aprontando alguma coisa justamente com a comida, mas não todo mundo estava comendo, se ela fizesse iss teria que ser em una coisa que apenas eu comeria. E também acho que ela deveria se bem mal e calculista para saber.

  O clima de tensão seguiu, mas até Adamastor também inquieto levantou-se da cadeira. Dona Olga olhou para mesa. Entendi imediatamente que naquele momento aconteceria alguma coisa.

  — Bom, meus amigos, agradeço a Deus por esse abençoado almoço, é realmente uma dádiva estar diante de pessoas tão agradáveis como vocês. Nesses últimos tempos enfrentei muito com problemas que eu mesmo criava. Foi difícil superar isso. Conforme minha idade foi avançando, pouco a pouco a vida foi perdendo o sabor. Até que em um fatídico dia... — Ele fez uma pausa misteriosa — Enfim, sou feliz pela união de dois jovens como vocês e isso me encoraja ainda mais a prosseguir. Portanto, diante de vocês, eu digo a você Olga Hoffman, quer casar comigo? —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

 

 

 

  

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