Capítulo XLIV

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                               (Heitor)

  Das milhares de coisas que eu sentia, nenhuma delas superava a decepção. Ao sair daquele lugar, pela primeira vez em muito tempo, muito tempo mesmo, uma lágrima deslizou sobre meu rosto.

  Olhei para a varanda de sua casa, pensando que ele viria até lá, pelo menos para me xingar, mas percebo que isso não aconteceria. Entrei no meu carro, e fui para casa, me sentindo um lixo. Sei que me excedi em algumas coisas que eu disse, mas foi culpa da raiva. Ele dizia coisas que partiam meu coração, coisas que eu nunca teria coragem de dizer.

  A verdade era que Renan era muito imaturo, ele acreditava que a sua carreira era tudo na sua vida, e outras coisas não tinham importância. E pelo que eu percebi eu não tinha tanta importância assim em sua vida. Tudo o que eu mais quero na minha vida é alguém para segurar minha mão, e aceitar fazer qualquer coisa ao meu lado, sem nem perguntar. E pelo visto essa pessoa não era ele. Justo eu, um grande admirador e incentivador de seu trabalho, fui rejeitado, ou melhor trocado por sua carreira.

  Mesmo assim, eu espero que ele se dê bem, construa sua fama, porque ele merece, embora seja um pouco impetuoso às vezes, mas inegavelmente ele é um grande artista. Se ele não quer dividir sua vida com a minha tudo bem, eu aceito embora que com muita dificuldade assumo. Mas esquecê-lo isso eu nunca conseguirei fazer.

  Ao chegar em minha casa, vou direto ao meu quarto, tranco a porta, e começo a chorar. Para abafar o barulho mordo meu travesseiro. Meu peito doía tanto, era como se uma adaga estivesse cravada nele.

  Queria apagá-lo de minha vida, mesmo que isso me causasse dor, mas que queria apagá-lo. Talvez pela certeza que assim ele não voltaria a me procurar. Só para ele ter certeza que me perdeu pra sempre. Mas não, ele não me perdeu pra sempre, e nunca me perderia. Naquele momento eu não sabia qual seria meu futuro, mas de uma coisa eu tinha certeza, eu teria de continuar, teria de continuar sem ele. Assim como ele não desistiu de seu ballet, eu não desisti do meu sonho de se tornar um advogado.

                             (Renan)

  Lá estava eu deitado no tapete, pedindo a todas as forças do universo que ele se arrependesse e voltasse atrás. Mas isso não aconteceu, se tínhamos uma coisa em comum era que éramos bem firmes em nossas palavras.

  Aquela noite estava sendo tão perfeita, mas como sempre ele estava tudo, quando tenta de alguma forma mudar o que somos. E sempre quem acaba no chão sou eu. Ele sai daqui sem nem olhar pra trás.

  Tudo o que falei, foi da boca pra fora, apenas para irritá-lo, como ele disse para fazê-lo ficar, mesmo que parar discutir comigo. Porque eu preferia ali, bravo do que longe. Como exatamente estava naquele momento.

  Mas se ele pensa que eu vou acabar com minha vida por sua causa, está muito enganado. Me levantei, e fui para meu quarto. Deitei na minha cama, que não era mais nossa, já que ele saiu de minha vida. Mesmo assim seu cheiro não havia saído, o que me confortou por um instante, mas também me torturou, pois me fez refletir em cada palavra que eu disse.

  Eu já havia chorado tanto, que meus olhos ardiam, dormir chorando não é uma coisa nada boa. Mas infelizmente naquela noite foi isso que aconteceu. Depois dele dizer que me ama, disse que iria me esquecer.

  Se ele queria isso, ele vai ter eu lhe daria esse desprazer. Com todas as minhas forças eu lutaria para esquecê-lo, nem que eu tivesse de me deitar com todos os homens de Curitiba.

  Depois daquela noite, não o procurei, e nem ele fez o mesmo. Continuei indo ao ballet. Embora tivesse de enfrentar a fúria de Violeta todo santo dia.

  — Você o quê? Rena o que você tem nessa sua cabeça? Como é que você é tão tonto assim garoto? O bombeiro simplesmente fez a proposta da vida de vocês, e você deu uma resposta assim —.

  — Até você vai ficar contra mim Violeta? —.

  — Não, você está contra si próprio. Sinto lhe dizer, mas você é o errado dessa história. E é melhor que se arrependa, porque o Heitor não vai demorar pra encontrar alguém —.

  — Se ele encontrar, eu encontro também, o que não falta nesse mundo é homem, e com certeza deve haver algum melhor do que ele —.

  — Se você diz. Mas não diga que eu não avisei. A vida é sua, tome as decisões que quiser —.

  Ao ouvir nossa conversa Cassiano sorria sem parar. Ele era como um rato, que aproveitava as brechas e os buracos para fazer o banquete. O pior de tudo era que eu tinha de fingir que isso não me afetava, quando na verdade por dentro eu estava em erupção.

   E assim foram se passando os dias, eu pensando nele a toda hora, me sentindo sozinho no meio da tempestade, sem nunca mais poder me abrigar em seu peito que antes costumava ser meu abrigo. Depois de dias, semanas se passaram, ele nunca me procurara. Eu esperava todo santo dia na minha varanda. Quando eu entrava em meu prédio, sempre olhava para os lados, para conferir se ele não estava por perto. E para minha decepção, ele nunca estava.

  Apresentei peças como protagonista, embora eu estivesse feliz pelo impulso que minha carreira tomava, eu sentia sua falta no banco da frente. Naquele que antes havíamos combinados de ele ir me ver.

  Parecia que ele havia morrido naquela noite, pois nunca mais me procurou, nem me ligou. Eu só sabia que ele estava vivo, porque olhava em seu Instagram, mas até nisso ele havia mudado, postava pouquíssimas fotos. E nessa tortura diária eu estava, sem ele, sem eu mesmo. Apenas um resto de um bailarino. Um cisne com uma asa quebrada, que não pode voar sem as duas.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

  

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora