Capítulo CXX

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                             (Heitor)

   Quando paramos em frente a igreja, vovó ficou olhando para a entrada, não sei o que passava na sua mente, eu também não queria ser invasivo, afinal ela também não sabia, ao que estava me parecendo. Ela estava linda, muito linda, não parecia ter 60 anos, se muito parecia ter 40. Seus cabelos loiros tinham ondas suaves e acima de sua cabeça uma tiara, ela parecia uma coroa na cabeça de uma rainha. Isso me fez lembrar do primeiro encontro que eles tiveram no teatro. Em que Adamastor falou sobre uma Rainha Olga de tempos antigos.

   — Vamos lá —. Falei, em seguida desci do carro, caminhei até sua porta e a abri. Ela estava querendo chorar, dei-lhe um abraço bem forte, deslizei meus dedos por seus cabelos, por debaixo do branco véu.

  — Entre naquela igreja e seja feliz, você merece —. Ela deu um beijo na minha testa, em seguida me deu o braço, a segurei e juntos caminhamos para dentro, bem devagar. A marcha nupcial tocava ao fundo, a igreja estava muito linda, os convidados todos olhavam para nós, ou melhor para a vovó, muitas luzes das câmeras piscavam, olhávamos para o altar onde estava Adamastor, tia Otávia e os padrinhos.

   Tia Otávia estava chorando feito uma menina cujo doce caiu no chão, vi Renan sentado perto do altar, ele estava muito bonito, seu cabelo estava lindo, e uma pequena flor vermelha estava no bolso de seu terno. Um terno marrom que combinava com seus cabelos e com seus olhos.

   Estranhamente uma felicidade foi me dominando aos poucos, sorri bastante ao ver a imagem de Jesus de braços abertos. Era como seu eu estivesse voltando para os braços do pai.

   Quando cheguei ao altar, entreguei a noiva ao noivo, coloquei minha mão em seus ombros. E disse baixinho:

   — Cuide dela, o melhor que puder —. Ele concordou com a cabeça. Em seguida os dois deram as mãos e olharam para o padre. Depois disso foi um daqueles longos discursos, fiquei lá em pé por um bom tempo, na verdade eu queria mesmo era estar com o Renan, e era difícil prestar atenção no casamento justamente quando ele estava ali perto, tão bonito. Frequentemente eu olhava para ele, era como se não existisse mais ninguém além dele assistindo o casamento.

   Quando dei por mim, o padre já estava pedindo que colocassem as alianças, Adamastor parecia o homem mais apaixonado do mundo, eu sabia disso pois era daquele jeito que eu olhava para o Renan, com aqueles olhos de quem se acha insuficiente, que quer apenas estar junto de quem tanto amamos. Daquele jeito desastrado e inquieto. Esbarrando em palavras, com as mãos trêmulas, olhos sempre covardes que se desviam Frequentemente. E sorrisos involuntários e curtos.

   Ele tremia bastante, quase que não acertava o dedo da minha avó, quando colocou sua aliança. Minha avó foi mais firme, ela sempre foi assim decidida. Seu olhar de ternura o acalmava, era como a chuva que caia sobre a grama, para deixá-la ainda mais verde.

   Acho que nunca pensei que iria sorrir ao ver minha avó beijando outro homem, mas eu estava completamente enganado, pois ver eles se beijando foi a melhor coisa daquela noite. Aquilo simbolizava a união deles, olhei para Renan e ele estava chorando. Achei aquilo muito bonitinho, com certeza ele pensava no nosso casamento. Nunca pensei que iria namorar e agora eu estava pensando em casar. Em um ano minha vida virou de cabeça pra baixo, e eu tenho certeza que foi para muito melhor. Quando o casamento acabou, seguimos para o clube em que ocorreria o jantar, ele ficava em um lugar um pouco afastado da cidade, mas era um lugar bastante bonito.

   — Nossa, acho que esse foi o casamento mais lindo que eu já vi na minha vida —. Renan disse no meu carro. Ele falava entusiasmado sobre tudo da cerimônia, desde a decoração ou do vestido da minha avó.

   — Olha que ver você com esse terno me deu vontade de subir naquele altar e sair te puxando pra qualquer lugar, só pra te dar uns amassos — Ele colocou seus dedos sobre meu tórax — E também pra fazer umas coisinhas —.

  — Deveria ter feito —. Sorri.

  — Não, eu sou um moço de família, me comporto como tal —.

  — Tá bom —. Falei em um tom irônico e recebo um beliscão no peito, ele percebeu minha ironia.

  — Está duvidando? —.

  — Claro que não —.

  — Acho bom, afinal sou uma pessoa com uma reputação a zelar —. Após dizer isso ele me dá uma mordida na orelha, que me deixa todo arrepiado.

  — Amor, eu estou dirigindo, assim você me atrapalha —.

  — E daí? —.

  — Daí, que eu não quero ir para hospital nem muito menos para o cemitério —.

  — Só sei que depois dessa festa, meu filho é melhor você se preparar, porque amanhã nem andar você vai conseguir —.

— Que tesão é esse Renan? —.

— Tesão de quem é doido por um certo bombeiro de terno, você não tem nem ideia do tamanho do meu desejo —.

— Fiquei até com medo —. Sorri.

  Chegando na festa ficamos por um bom tempo, estava tudo muito legal, o bolo dos noivos era uma coisa muito bonita, tinha inclusive um bonequinho da minha avó, sentando em um branquinho no jardim.

   Vovó estava muito feliz, ela não parava de sorrir, isso me deixou muito feliz.

   — Ei — Renan cochichou no meu ouvido — Roubei um para nós, nada melhor do que um vinho para aproveitar nossa noite —.

   — Não é roubo —. Sorri, em seguida dei um beijo em sua cabeça.

   Mais tarde, os recém-casados foram para o aeroporto, eles viajariam a noite, a lua de mel seria em Veneza. Fico feliz por Adamastor poder mostrar o mundo inteiro para minha avó, meu avô sempre sonhou com isso, acho que ele realizou, afinal ele sempre quis que minha avó conhecesse o mundo, e ela iria conhecer.



 

  

  

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora