Capítulo XV

2.4K 245 31
                                    

 
                            (Heitor)

   Em meio a tantas coisas na minha cabeça, a única certeza era que eu estava molhado. Andando rumo a minha casa, ainda pude ver seu rosto na varanda, me olhando partir.

  — Cara maluco —. Sussuro. Aquela cena que aconteceu não saiu da minha cabeça nem por um instante, nem mesmo depois de chegar em casa e pegar um longo sermão da minha avó.

  Nem mesmo durante o banho ou depois dele, nem mesmo na minha cama enquanto tentava dormir. Por mais que o fato de ele ter me beijado fosse extremamente confuso, não pude deixar de perceber que gostei.

  Agora pronto, aquele foi o ponto de início de todos os meus problemas, e o maior deles era não conseguir tirá-lo da cabeça. Antes era apenas a admiração pelo grande bailarino que ele era, mas agora ia além, além da minha compreensão.

   Vê-lo de novo na academia foi acalentador, mas ele estava me ignorando, não vou dizer que era sem razão, pois afinal acho que ambos passamos do limite.

   Todo dia o sentimento de culpa me consumia, ele me dizia para pedir desculpas, mas simplesmente eu não conseguia. Não era tão fácil assim para mim.

   No vestiário da academia nos encontramos, ele nem sequer olhou para minha cara, também paguei na mesma moeda. Entrei em uma cabine e tomei meu banho.

   De repente, enquanto a água do chuveiro molhava meu corpo, ouço alguém cantarolar. Uma música sobre amor, mas não sobe o começo, ou o presente de uma relação, mas sobre um término.

   Pela voz ficou mais do que claro que era Renan quem cantava, ele contou a penas um trecho e depois ficou em silêncio novamente.

   — Está com raiva de mim? —. Pergunto quando o vejo sair do banheiro, percebo a surpresa estampada em seu rosto.

  — Não tenho tempo para ter raiva —. Responde e vai até o seu armário.

  — Esguio como sempre —.

  — Olha só, foi você que saiu, ou melhor, que correu lá de casa naquele dia, então você não pode me chamar de esguio —.

  — Você foge das minhas perguntas —.

  — Como se não soubesse as resposta, não se faça de burro Heitor —. Pela maneira que ele falava, como me olhava, era evidente que estava aborrecido comigo. E isso me incomodava profundamente.

  — Tenho apenas uma pergunta —.

  — Hum —.

  — O que eu represento pra você? —.

  — Nada, ninguém, personne, nobody —. Ele termina de se vestir, pega sua mochila mochila coloca nas costas, e em seguida passa por mim, mas o impeço segurando seu braço.

   — Isso aqui me faz ninguém? —. Seguro por trás de sua cabeça e lhe, ele estava assustado, talvez pela brutalidade com que o segurei, ou pela proximidade entre nossos rostos. Mas logo se acalma. O beijo não durou muito tempo, pois algo ainda me incomodava.

  Solto seu braço, abro meus olhos, e vejo um Renan completamente diferente, dessa vez mais calmo, boquiaberto.

   — E-eu tenho que ir —. Fala todo atrapalhado, tropeçando nas palavras. Sai dali bem rápido, mas eu o acompanho. Ele não deixava eu me aproximar, sempre caminhava um pouco mais rápido.

  — Quem está fugindo agora bailarino? —.

  — Eu, de um cara doido como você —. Diz e se vira, permanece parado, de braços cruzados, talvez pedindo uma explicação.

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora