Capítulo XLV

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                       (Heitor)

  Embora o tempo passasse, eu não conseguia esquecê-lo nem por um segundo. Pois as lembranças me atormentam todos os dias. Como uma assombração, ele vem até mim, mas nunca eu posso tocá-lo. Pois a sua forma não passa de simples lembranças, que embora sejam espetaculares, ainda são lembranças, ou seja são um passado. Passado do qual ele não quis dar um futuro.

   Semana após semana, minhas esperanças esvaíam-se, a cada dia longe dele, começava a aceitar o fato de que ele não voltaria para mim. Eu o esperava toda tarde, olhando pela janela do meu quarto, esperando que ele aparecesse como daquela vez. Mas isso nunca aconteceu. Minha vontade era de ir em sua casa, perguntar se ele realmente havia me esquecido, mas creio que já me humilhei o suficiente. Não adiantava insistir em algo que não resultaria em nada.

  Seria mais fácil se eu saísse com alguma pessoa para tentar esquecê-lo de vez, mas nem isso eu conseguia. Embora eu pudesse sair com todo mundo praticamente, o meu mundo era apenas uma pessoa, ele. Mas ele não aceitava esse fato e preferia não ser meu. Pois o mundo dele é incerto, entre as voltas que ele dá enquanto dança.

  Minha avó claro que percebeu minha mudança repentina de humor, e não me poupou de seu interrogatório carregado de preocupação para com meus sentimentos.

  — Por que não me fala nada? Não confia em mim? —. Estávamos na sala, ela havia me servido um chá, olhei para ela momentaneamente, senti um nó na garganta, como se um milhão de palavras estivessem a ponto de sair, mas eu a impedia com minha fraca vontade. E nisso meus olhos se enchiam de água.

  — A senhora estava certa, sempre esteve, eu estava me envolvendo com um pessoa, mas deu tudo errado, tudo errado. Eu quis um compromisso, mas... —. Caí no choro bem na sua frente. Na minha vida, eu só havia chorado em sua frente duas vezes, a primeira foi quando meu avô morreu. E a segunda acontecia naquele momento.

  — Eu sabia, eu sabia — Ela veio e me abraçou, colocando minha cabeça em seu peito — Não chora. Eu sei que você gosta muito dela, muito mesmo, entendo o que é isso. Amar e não poder estar perto da pessoa. Mas entenda uma coisa,  isso não é culpa sua. No mundo existem muitas pessoas e nem todas são como você. Não esperem que elas tenham uma direção na vida, alguns estão perdidos, mesmo estando em casa, entendeu? —.

  — Uhum —.

  — Não vou te falar mais nada, porque não quero lhe fazer sentir mais mal do que já se sente. Mas sempre que precisar de mim vou estar aqui. Posso parecer incompreensível por ser do século passado, mas minha cabeça é bem aberta. Eu te amo muito, viu meu menino —. Ela me abraçou e depois foi para o seu jardim. Eu fiquei ali, pensando em cada palavra que ela disse, minha vontade era contar toda verdade, mas diante daquela realidade, creio que não valia a pena.

  Na faculdade, embora não fosse nada fácil, eu conseguia evoluir dentro do curso. Era um ambiente hostil, onde muitos competiam para ser o melhor, eu queria apenas passar.
 
  Às vezes quando eu passava em frente a casa de Renan, eu reduzia a velocidade do carro, na esperança de vê-lo, mas isso nunca aconteceu. Agora parecia que entre nós não existiam mais aqueles encontros, que foram responsáveis por nos unir no começo de tudo. Ao que parecia, o universo também estava contra nós dois.

  E a saudade era algo crescente e agonizante. Antes de dormir, eu me deixava de lado, e ficava olhando pela janela. Pensando nas lembranças, doces lembranças que pareciam nunca mais voltar.

   Passaram um, dois, três meses e nada dele. Eu precisava me segurar todo santo dia para não aparecer em sua casa. E era difícil muito difícil. Eu prometi para mim mesmo que nunca desistiria dele, mas ao que parecia, mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. Aproveitei esse tempo para me dedicar a faculdade,  e também a pessoa que mais me amava nessa vida, minha avó. Ela sim estava do meu lado sob qualquer circunstâncias.

  Creio que o pior momento de todos, foi quando eu estava sozinho em casa um dia, vovó tinha saído com o Adamastor e eu fiquei em casa. E do nada na televisão tocou uma música que me tocou profundamente.

DEPOIS

Depois de sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós

Depois de tantos desenganos
Nós nos abandonamos como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também

Depois de varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão

Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também

Nós dois já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar, foi bom

Nós fizemos histórias
Pra ficar na memória
E nos acompanhar

Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também

Depois de aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos
Pelos de um outro alguém

Meu bem, vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois

  Naquele momento não contive lágrimas, eu estava devastado, depois de tantos meses, ainda eu sofria por ele. Porque era real, pelo menos os sentimentos da minha parte.

  Se ele não me procurou até agora é porque já me esqueceu, ou porque simplesmente não quer voltar pra mim. Pois então respeitarei sua vontade, e não o procurarei também. Mesmo que isso me cause dor, mesmo que isso me mate pouco a pouco. Nosso futuro, para mim não existe mais, não passou de um sonho e Renan me empurrou da cama, me despertando violentamente.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

  

 

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