Capítulo CXXV

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(Heitor)


    Eu estava dentro de um caminhão do corpo de bombeiros, escondido de tudo e de todos, eu estava pensando nele, sim eu só conseguia pensar nele, saber que ele iria partir me cortava o coração, mas o pior de tudo era que eu não poderia ir com ele, essa era a mais dura das realidades, acho que por muito tempo achei que esse seu sonho não viria a acontecer e esse foi o meu maior erro, pois ele iria embora. Logo agora que estávamos, eu não posso ir e ele não pode ficar essa é a realidade.

Esses dias foram péssimos para mim, eu queria mesmo estar com ele, aproveitar o máximo o tempo que nos restava, aproveitar cada segundo ao seu lado antes dele ir embora, mas era difícil para mim não desabar na sua frente. Pois só Deus sabe o quanto eu chorei nesses dias, deitado sozinho na cama dos meus avós, olhando o teto e sabendo que não nos veríamos tão cedo. Eu sempre quis o amor do Renan, mas esse amor tem que estar por perto, pois o meu desejo a minha dependência é mais forte do que qualquer coisa. A melhor parte do meu dia era quando chegávamos em casa, e ele me fazia carinho, até eu dormir e até acordarmos no dia seguinte.

Ele me manda uma mensagem, por um momento eu achei que tudo estava bem, mas ele terminou tudo comigo, depois de quase um ano de relacionamento, depois dos mais adversos problemas que passamos e superamos juntos ele me largou. Ele desejou minha felicidade, mas como eu seria feliz sem ele na minha vida, como eu poderia ser feliz sem ele me abraçando e me beijando. Desliguei meu celular e fiquei olhando a tempestade que se formava, nuvens escuras e ventos fortes. Mas quem desabou fui eu. Ali mesmo chorei mais um pouco, ironicamente naquele dia, tudo estava calmo, pude chorar à vontade sem que ninguém ou nenhum serviço pudesse me atrapalhar.

Ao voltar para casa, eu já não tinha mais ânimo, não era como das outras vezes em que ríamos no carro, nem mesmo quando estávamos em silencio, pois até nesses momentos tudo era bom, tudo era perfeito. Meu maior medo é que ele encontre alguém na França e me troque, pois o Renan é o homem mais bonito desse mundo e eu não duvido que todo mundo o queira. Ele me conquistou na primeira que o vi, aquela imagem de um garoto alto com cabelos longo, e com um corpo perfeito ficou na minha cabeça por semanas, e por mais que eu tentasse não dar tanta atenção para o que eu sentia, esse desejo em consumiu aos poucos, até o nosso primeiro beijo, eu não entendia porque, mas eu só queria beijá-lo como se isso fosse me dar a maior das recompensas e no fim o sentimento foi exatamente assim, pois nunca na minha vida me senti tão vivo como me senti no dia em que lhe beijei.

Entrei em casa, tudo estava em silencio, subi para o nosso quarto e ele estava perfeitamente arrumado, abri o guarda-roupas e lá dentro não havia nada seu, nada mesmo, exceto um cachecol, eu o peguei, e trouxe até meu nariz e o cheirei. Seu perfume ainda estava ali, aquele perfume doce, inesquecível e inconfundível do meu amor.

Olhei em direção da cama, e ao lado havia o porta retrato com nossa foto em gramado, aquela foto que eu tanto amava. De um momento que parecia ter acontecido em outra vida.

Me deitei na cama, eu estava com fome, mas não queria comer, eu estava com sede, mas não queria sair dali, olhei nossas alianças, as juras que fizemos parecem ter sido completamente em vão. Eu me perguntava se um dia ele voltaria para mim, pois ele iria para muito longe, como um cisne que voa através das montanhas, florestas e mundo. Ele era o melhor, sua carreira ia deslanchar disso eu não tenho dúvidas, mas eu me questionava se quando ele tivesse o mundo, eu ainda poderia fazer parte desse mundo, pois foi difícil fazer parte do mundo dele, mas nada que eu me arrependa.

Mas agora que estávamos oficialmente separados, eu não sabia mas nada sobre nada, não sei o porque do término, mas suspeito do motivo, não sei também se ele iria querer voltar comigo, tudo parecia incerto, e eu estava sozinho, completamente sozinho. Todos foram embora, restou apenas eu e um monte de lembranças, mas nem essas doces lembranças eram capazes de acalentar um coração partido como o meu estava naquele momento. Doía muito, se eu pudesse eu iria com ele, eu iria mesmo, largava tudo, mas assim como se ele ficasse não seria mais o Renan, se eu fosse não seria mais o Heitor, ia ser apenas um vagante.

Eu sei que agi com imaturidade, mas é difícil agir como um adulto em uma situação que exige tanta maturidade e razão. Só rezo para que ele seja muito feliz em Paris, e seja lá o tempo que ele passe, não se envolva com ninguém ou não me troque por alguém, pois minha vida não teria sentido, pois eu saberia que eu o perdi para sempre, e o pior essa culpa iria me perseguir por cada dia da minha vida, a cada instante, em cada momento.

Eu ainda pensei em mandar alguma mensagem, mas com certeza não iria mudar o fato que eu fiquei para trás. Eu sei que ele conseguiria nos manter, mas ainda assim eu não viveria bem, sabendo que estou dependendo completamente dele, e o que eu faria em Paris? Eu nasci em Curitiba, cresci em Curitiba, estou construindo minha vida em Curitiba, nesse momento eu não pude ir com ele, mas chegará o dia em que eu irei, seja lá o lugar que ele desejar.

Pois a noite é longa, ainda mais para um coração partido, ou por aqueles que anseiam por um amor que partiu, e o amor da minha vida está voando, o cisne voa para longe de casa, através do oceano, esse é o voo do cisne.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora