Capítulo XLVII

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(Renan)

  Quando me disseram que eu iria em um aniversário de um patrocinador no restaurante do Adamastor, eu não fazia ideia que se tratava do próprio Adamastor. E nem muito mesmo sabia que ele estaria lá, ainda mais vestido daquele jeito, com aquele terno com sua gravata vermelha, que me faz imaginar um milhão de coisas.

  Nesses meses, nunca minha vida havia sido mais difícil, viver sem ele provava para mim mesmo que naquela noite talvez eu tenha errado em não aceitar o seu pedido, mas mesmo assim o orgulho me impedia de lhe pedir desculpas.

  Ao vê-lo daquele jeito, o tempo simplesmente parou para mim, ele estava diferente, ainda mais bonito do que no dia em o deixei ir. Aqueles olhos sedutores estavam dentro dos meus. Por um momento acreditei que nada havia mudado entre nós, até o momento em que um rapaz cochicha em seu ouvido e ele sorri.

   Pelo visto ele havia conseguido me esquecer e eu ali naquela mesa de jantar, não era nada mais do que um fantasma atormentando-o com o passado. Um milhão de coisas se passaram pela minha cabeça, e quando ouvi o nome do rapaz tudo pareceu fazer sentido, Hugo, eles faziam faculdade juntos. Era um cara bonito admito. Heitor parece não ter tido dificuldade.

   Quando ele foi ao toilette, aproveitei e fui também, haviam muitas palavras engasgadas que precisavam sair o quanto antes. E agora depois de presenciar aquela cena, meu coração se enchia de raiva. E foi por isso que disse aquelas palavras a ele.

  — Pois bem, fale, melhor se justifique —.

   — Você é um hipócrita, porque vivia me dando lição de moral, pelo fato de eu ir para cama com qualquer um só para esquecer você e olha só, você não é muito diferente de mim —.

  — Me ofendendo, o quê mais eu poderia esperar de você? —.

  — Admita, você está saindo com aquele Hugo não está? —.

  — E se eu estiver? Você não tem nada a ver com isso, afinal não temos nada, e não foi por minha vontade. Foi porque você mesmo não quis. Então não me venha cobrar explicações, porque eu não lhe devo nada, pelo contrário já é um sacrifício lhe dirigir a palavra —. Ele demonstrava estar calmo, enquanto eu definhava pouco a pouco.

  — Você diz que me amava, mas mesmo assim nunca me procurou depois daquilo, o quê aconteceu? Seu amor sumiu? —.

  — Você também nunca me procurou, e agora que estamos frente a frente, em vez de pedir desculpas ou buscar por um diálogo, você vem até aqui me encher de xingamentos. O que pensa que eu sou? Um tapete onde você pode limpar seus pés e pisar com toda vontade e desprezo? —.

   — Só acho que você me fez sofrer demais nessa história, sumiu, não deu mais notícias, não me procurou mais, e agora descubro que está se envolvendo com outro. Já disse que ama ele Heitor? Já o pediu em namoro? —. Ele começa a rir, em seguida desvia o olhar de mim, e continua a lavar as mãos.

  — Olha pra mim enquanto eu estou falando com você -. Seguro em seu queixo, e viro sua cabeça em minha direção.

  — Me deixa em paz, se você não quer nada comigo, pelo menos me deixa em paz. Você não me ama, então não tem motivo para me cobrar nada. Me esquece, vai seguir com a sua carreira, se deita com quantos homens quiser, mas deixe eu viver minha vida. Só me procure quando tiver certeza de alguma coisa. E nunca mais me toque —. Ele afastou meu braço do seu rosto. Em seguida secou as mãos.

  — Então é assim, e se eu te tocar? —. Ele perguntou segurando meu ombro, eu novamente o afasto de mim, ele repete e eu também.

  — Quer saber de uma coisa? Eu deveria mesmo ficar com o Hugo, mas infelizmente eu não consigo, porque você enlouqueceu minha mente e me traumatizou o suficiente para que eu não consiga me envolver com mais ninguém. Parabéns Donatello, você conseguiu, não pode viver comigo, mas também não pode me deixar em paz. O que você pretende? Me mandar para um hospício ou para um cemitério? Porque isso você está conseguindo fazer —. Foi a primeira vez que senti um arrependimento imediato em meu peito, por cada palavra que eu disse. Ele parecia estar sofrendo ainda mais do que eu.

  — Tenha uma boa noite, talvez consiga alguém pra esquecer de mim, se já não tiver conseguido. Mas enfim, não temos nada então não preciso saber de sua vida —.

   Ele saiu do toilette, uma lágrima caiu do meu rosto, meu peito agora doía mais do que nunca, ele estava tão perto, mas estava tão longe. Saio também do toilette, vejo ele falar com Adamastor e com sua avó e depois sai dali rapidamente. Mais uma vez ele fugia de mim, mais uma vez.

(Heitor)

  — Idiota, idiota. Não sei porque você ainda tem esperanças, como se ele fosse voltar pra você e pedir desculpas. Não, ele não vai, porque você foi justamente se apaixonar pelo cara mais narcisista, egocêntrico e orgulhoso desse mundo —. Esbravejo comigo mesmo, dentro do meu carro enquanto dirijo de volta para minha casa. No semáforo, eu encosto a cabeça no volante e começo a chorar. Mais uma vez ele conseguiu estragar estragar minha noite, e conseguia lentamente estragar minha vida. A verdade era que ele só me fazia sofrer, principalmente de uns tempos para cá.

   Eu soluçava de tanto chorar, mas não adiantaria de nada, já que pelo visto nunca nos resolveriamos. Cheguei em casa, guardei o carro na garagem, deitei no sofá, e comecei a chorar abraçado a uma almofada. Como eu queria vê-lo novamente, mas não daquela forma que aconteceu. Ele parecia que gostava de me ver sofrer.

  — Você vai ter que me escutar, e só vou sair daqui depois que fizer isso —. Olho para a porta e lá estava Renan, que dessa vez me assusta com sua impetuosidade. Simplesmente do nada ele apareceu em minha casa, a surpresa foi tamanha, que não consegui dizer uma palavra sequer.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

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