Capítulo LII

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                            (Heitor)

   — Deixa essas coisas Heitor, eu faço isso, vai se arrumar, daqui a pouco os convidado vão chegar e você vai estar desse jeito —. Ele dizia enquanto terminava de arrumar a mesa na cozinha.

   — Tudo bem, mas se precisar de alguma coisa é só me chamar —. Subi rapidamente as escadas, fui para meu quarto, tirei minha roupa e entrei no chuveiro. Vovó estava certa eu não poderia estar todo sujo, ainda mais quando o Renan chegasse. Eu começava a aceitar a ideia de viajar no Natal com ele. Ficar sozinhos por uma semana seria muito bom, o problema era minha avó, eu também queria estar com ela. Não queria ter que me dividir entre as pessoas que amo dessa maneira, mas espero que ela compreenda. Além do mais ela vai estar junto da nossa família, talvez nem se lembre de mim.

  Hoje eu estaria ao lado do homem da minha vida e também da mulher que mais amo. Seria uma noite e tanto, pena que não poderemos estar juntos como um casal, embora isso seja muito incômodo, creio que essa situação demande um pouco de tempo, afinal durante toda minha vida vovó sonhou que teria bisnetos e chegar assim de repente, dizendo que tenho um namorado e que gosto de homens seria extremamente complicado. Sei que muito disso é culpa minha, por ter tentado enganar a mim mesmo, tentando me tornar uma coisa que nunca fui.

  Anseio pelo dia em que poderemos estarmos juntos, nos três, vovó, Renan e eu. Nesse caso só faltaria meu avô, mas acho que ele nunca me aceitaria, nem muito menos o Renan, lembro de como ele não gostava de um sobrinho dele, pelo fato de ser gay, eu via o ódio tomar conta do seu rosto, embora ele não dissesse uma palavra sequer. Mas certa vez ele me disse:

  "— Heitor, meu filho, me prometa nunca seja como ele —". Mesmo prometendo, na época não soube o que era, apenas tempos depois acabei sabendo. Eu sei que ele me amava bastante, assim como vovó me ama, mas mesmo assim dá medo, muito medo. Fixar sozinho nesse mundo, com as pessoas que você ama te desprezando, falando que você é uma decepção.

   Só espero que a vovó seja mais mente aberta, como ela diz ser, ou então eu vou ficar sem ela, e ela sem ninguém, e eu não quero que isso aconteça sob nenhuma circunstância.

   Depois de me vestir, desço as escadas, apenas Adamastor tinha chegado, ele era o convidado da vovó. Mesmo que ele fosse um velho assanhado, era bom vê-lo ali. Pois ele quis se fazer presente no meu aniversário.

  — Olha só se não é o aniversário, soube que está fazendo um quarto de século, como vai garoto? —. Ele deveria estar fazendo dois, mas mesmo assim agradeci e fui educado.

   — Vou bem e o senhor? —.

   — Vou levando, embora sua avó e você tenham insistido, não pude deixar de comprar uma lembrancinha. E não, não aceito não como resposta. Caso contrário me sentirei ofendido e não sou uma boa pessoa quando me sinto ofendido —. Ele tirou a sacola detrás de suas costas e me entregou. Eu odiava aquilo, mas tinha que receber.

  — Isso é em agradecimento aquele seu presente, você tem um bom gosto literário —. Dei a ele um livro, soube que gostava de ler e como ele era um homem que apreciava a cultura sob todas as coisas, achei mais do que adequado.

  Quando abri o seu presente fico surpreso com o que era, um relógio, muito elegante, e certamente muito caro, parecia ser de luxo. Olhei para ele boquiaberto e disse:

  — Obrigado —. Apertei sua mão, ele sorriu.

  — Um bom advogado nunca pode chegar atrasado aos lugares, nem perder as horas. Experimente, veja como cairá bem em você —. Coloque no punho, com muito cuidado. E não é que ficou uma beleza.

  Hugo chegou, ele também trouxe seu presente, mas ainda bem que não era uma joia, ou algo tão exuberante quanto o presente de Adamastor. Ele me deu uma blusa e uma calça, que também eram bem caras, pela marca. Ficamos conversando no sofá, ríamos do pessoal da faculdade, sobre como alguns deles eram estúpidos e outros engraçados.

  — Eu acho que se eu estivesse no corredor da morte, ainda assim, nunca eu chamaria para ser minha advogada, preferia esperar minha morte, do que ouvir ela falar mais uma vez —. Hugo disse.

  — Às vezes você pega um pouco pesado Hugo, mas é engraçado —. Digo limpado as lágrimas que saíram de tanto eu rir.

  — Eles formam um belo casal, não é? —. Apontou para Adamastor e minha avó.

  — Não diz isso nem brincando —.

  — Porque, com todo respeito sua avó ainda está conservada, parece que tem uns quarenta e o Adamastor é um bom partido —.

  — Nunca, jamais, ele vai se envolver com minha avó, entendeu? Porque o único homem que ela teve foi meu avô e ela o ama demais para fazer isso —.

  — Desculpa, não quis ofender. Mas é que todo mundo tem direito de não ficar sozinho não é? Não é pecado. E falando nisso, você namora? —.

   — Olha, não vamos falar mais disso por favor, se você for meu amigo —.

   — Tudo bem, a última coisa que eu quero é prejudicar nossa amizade —. Disse. Renan estava demorando tanto, tomara que ele não tenha desistido. Porque se isso acontecer, não terei motivos pra sorrir essa noite.

  — Deixa que eu atendo —. Adamastor disse, indo até a porta, depois de ter ouvido algumas batidas.

  — Monsier Donatello, boa noite —. Olho para a porta, esperando o momento que ele entraria ali.

  — Boa noite —.

  — Entre saia desse sereno —. Meu amor entrou, tirou seu casaco marrom, arrumou seus cabelos. Ele estava simplesmente deslumbrante. Olhou para mim e para o Hugo, e veio em nossas direções.

  — Boa noite e feliz aniversário Heitor —. Ele disse estendendo a sua mão para apertar a minha, era exatamente a mão onde ficava a aliança, ainda tinha marca dela uma parte de sua pele que não pegou sol.

  — Obrigado Renan —. Depois de cumprimentar Hugo, ele foi cumprimentar minha avó.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

 

 

 

 

  

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