Capítulo CVI

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                             (Heitor)

   Vovó estava em pé, olhando eu comer, com certeza pensando em tudo o que tinha acontecido. Mesmo estando tudo bem, eu precisava muito lhe falar sobre tudo o que aconteceu nesses últimos tempos, e lhe esclarecer de uma vez por todas que eu amava o Renan acima de qualquer outra coisa.

   — Vó, a senhora sabe que estou namorando com o Renan, não é? A senhora aceita isso? —.

   — Eu sei — Ela suspirou e prosseguiu — Não vejo problema nenhum nisso, só não estou preparada para isso tudo sabe?! E convenhamos que você não ajudou muito omitindo toda essa história —.

   — Eu tinha medo da sua reação vovó, e depois do que a senhora fez, acho que tem que entender meu lado, eu estava certo —.

  — Disso tudo Heitor, o que mais me deixou magoada foi você ter mentido pra mim, você trouxe o Renan pra cá, dizia pra todo mundo que namorava uma moça, que ela tinha problemas com a família, você criou toda uma história, e depois aquela mulher vem até aqui e diz que tudo é mentira. O que você esperava que eu fizesse? —.

  — Não sei vó, mas não foi fácil pra mim também, a vida toda eu cresci com você e o vovô criando todo um futuro pra mim. Até eu mesmo acreditei que isso pudesse se tornar realidade. E ainda me lembro do dia que o vovô me disse que eu devia evitar a todo custo ser igual ao Pietro, só porque ele o achava um mal exemplo —.

  — Heitor, seu avô achava o Pietro sim um mal exemplo, mas ela era pelo fato dele viver afrontando suas tias, não era por ele ser gay. Olha eu não sei muito bem qual seria sua reação se soubesse de você, mas tenho certeza que ele não lhe viraria as costas —.

  — Eu sempre tive medo de perder vocês dois por causa disso, por anos tive pesadelos com isso —.

  — Não existe neto melhor que você nesse mundo, você é o filho que eu nunca tive, ou melhor o que eu com toda certeza gostaria de ter tido, mas o importante é que eu tenho você —.

  — Desculpa por ter mentido —.

  — Não precisa se desculpar meu amor —.

  Ela veio até mim e beijou minha cabeça, eu me senti seguro, protegido  outra todos, se aquilo fosse um sonho, eu não queria acordar. Chorei de felicidade, e também de alívio, pelas coisas terem dado super certo.

  — Há quanto tempo você está com o Renan? —. Ela questionou sobre o meu amor.

  — Tem uns meses já, mas nós conhecemos um dia antes da noite em que fomos ao teatro —.

  — Você ama ele de verdade? Tem mesmo certeza disso? —.

  — Tenho certeza sim, inclusive foi com suas palavras que tive certeza que eu amo mesmo ele —.

  — Então era por causa dele que você andava tão cabisbaixo naquela época —.

  — Eram sim —.

  — Mas o Renan?! Ele ama você? Porque  você chegou aqui mal tantas vezes, que tenho minhas dúvidas —.

  — Ele a sim, só passamos por uns momentos difíceis, devido ao medo que ele sentia —.

  — Medo da família? —.

  — Não, medo de ser feliz mesmo, medo de furar a bolha —.

  — Mas você disse que a família dele não aceitava você —.

  — A mãe dele é uma doida, o pai até que é uma boa pessoa, mas quando disse isso, me referi a você. Desculpa por isso —.

  — Não gostei mesmo daquela mulher, mas me diga uma coisa, o que ela queria naquela noite? —.

  — Ela veio tentar me comprar, me ofereceu dinheiro pra ficar longe do Renan, porque ela achou que foi culpa minha o Renan ter sido expulso do ballet —.

  — Nunca entendi essa história do Renan ter sido expulso do ballet. Mas essa mulher é muito nojenta —.

  — O Renan foi expulso porque prestou queixa contra o Hugo por racismo, aí o Hugo ligou pra direção do ballet e pediu que o Renan fosse expulso —.

   — Mas o que o Renan fez pro Hugo ter tanta raiva assim dele? —.

  — Nada, o Hugo gosta de mim, e ele sentia muita inveja do Renan, e o Renan ciúmes dele —.

   — Mas o Renan cuida bem de você? —.

   — Muito bem —. Acho que eu ainda estava um pouco incomodado de estar falando com a minha avó sobre o meu relacionamento.

   — Olha Heitor, eu quero muito que você seja feliz, se você encontrou sua felicidade, ou seja, possui pessoa que você ama de verdade, então não posso lhe dizer uma coisa senão seja feliz. Vejo em seus olhos o mesmo olhar do seu avô, quando ele olhava para mim apaixonado. Eu sei o quanto é difícil não estar com quem você tanto ama. Não quero que você seja obrigado a passar por isso, vagar por anos, tentando apenas cicatrizar algumas feridas, sobreviver em meio ao desgaste que o tempo faz nas memória. Eu vivi muito, a maioria desse tempo ao lado do seu avô  e tudo parecia tão fácil, cada momento, foi uma grande aventura. Pena que o tempo foi mal o suficiente para nós separar, ainda tínhamos tantas coisas para fazer —.

   — Um dia vocês dois vão se encontrar novamente, lá em cima, tenho certeza que ele está te esperando, vocês dois vão poder se abraçar novamente. Mas é uma pena que não vou poder estar com vocês —.

   — E por que não poderia estar? —.

  —  Bem a senhora sabe, pessoas como eu não entram no paraíso —.

   — E quem mais seria bom o suficiente pra entrar, meu filho? Nunca diga uma besteira dessas de novo, vamos todos estar lá reunidos novamente —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

  

 

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