Capítulo CXLI

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 Era dia de se voltar ao médico, Renan estava muito ansioso embora tentasse não transparecer, ele passava os dias andando pela casa, tentava ocupara sua mente com alguma coisa, ainda assim isso não era suficiente para fazer com que ele se acalmasse. Enquanto isso eu já estava estudando como fazer uma reforma na nossa casa, o que eu achava de extrema necessidade. Até a vovó gostou da ideia, inclusive ela me disse que já havia pensado nisso no passado ainda quando morávamos juntos. Ela vive viajando com o Adamastor para lá e para cá, visitaram a Argentina no mês passado e que pelo que soube os planos não acabam por aí.

Renan estava bem diferente, ele se dedicava por horas a seus livros e desenhos eu não sabia desse seu talento até ele me mostrar várias pinturas. Ele parecia ter mais paz dentro de si, ainda assim parecia que ele precisa voltar a sua antiga vida, ao seu antigo talento o maior de todos talvez o que por mais tempo ele dedicou. Então quando o dia de ir ao médico chegou, ele estava de pé desde cedo, quando acordei e procurei por ele, o vejo lendo em uma poltrona perto da janela. Ele sorri para mim e diz:

— Bom dia coisa linda —. Logo em seguida volta a ler.

Depois de um delicioso café da manhã entramos no carro e fomos a clínica, onde o médico nos recebeu com todos os exames que ele havia pedido, eu estava segurando na mão do meu amor, ele estava gelado e o seu pulso estava bem rápido, embora por fora ele parecesse completamente bem com a situação. Certa vez ele me disse que essa é uma de suas principais armas de defesas, de nunca deixar transparecer que está vulnerável.

— Então Renan, eu dei uma boa olhada nos seus exames antes de você chegar aqui, para nossa surpresa você se recuperou muito bem da sua lesão e visualmente parece que seus ossos nunca sofreram lesão qualquer, e não somente isso, sua musculatura também está em excelente estado, ainda um pouco abaixo do normal diante do seu histórico. Mas eu gostaria de salientar que você precisa aumentar sua exposição ao sol, pois sua vitamina D está um pouco abaixo do ideal —. Ele falou um monte de coisas, mas não chegou na parte mais importante.

— Então ele vai poder dançar novamente? —. Questionei quase me consumindo de ansiedade. Renan por outro lado estava com uma expressão de indiferença quanto às notícias recebidas.

— Não vejo nada que possa impedir você de dançar Renan, se quiser pode voltar a praticar o seu balé hoje mesmo, seu corpo está preparado. Acho que isso chamamos na medicina de milagre, uma melhora quase inacreditável no quadro clínico de um paciente, e olha só você aqui surpreendendo a todos —. Não consigo conter o sorriso com aquela notícia, abraço ao meu amor, ele também estava feliz. Com isso saímos para comemorar, primeiro fomos a uma pizzaria e pedimos uma bem grande com muito queijo como eu gostava.

Depois da notícia Renan estava bastante pensativo, ele olhava para todos os lados como se quisesse fugir daquele lugar ou pior, fugir de mim. Eu não o julgo afinal os últimos meses foram impiedosos com ele, afinal passar por tanta coisa como ele passou é de desestabilizar até a mais forte das montanhas. Eu não sabia qual era os seus planos, mas eu estaria do seu lado e apoiaria qualquer decisão que ele tomasse.

(Renan)

Estávamos na casa dos meus pais, Heitor insistiu em darmos a notícia pessoalmente, por sorte meu pai também estava em casa, uma raridade. Adentramos, eles ficaram curiosos com a nossa surpresa, meu pai estava arrumando sua coleção de livros enquanto minha mãe toma um pouco de vinho enquanto fazia alguma coisa no computador.

— Bom dia meu filho, a que devemos essa visita? Pela cara do Heitor deve ser alguma coisa muito boa, não consegue sequer esconder a sua alegria —. Meu pai disse sorridente e veio nos abraçar, minha mãe fez o mesmo.

— O que foi Renan? —. Minha mãe questionou.

— Fomos ao médico hoje, o melhor ortopedista de Curitiba, ele passou um monte de exames, e depois de ver o resultado o médico disse que o Renan pode sim voltar a dançar —. Meu pai parecia ainda mais feliz com a notícia do que o Heitor e abraçou a nós dois, e depois ficou pulando na sala com o meu loiro parecendo duas crianças não pude deixar de rir com essa situação.

— Mas isso merece uma comemoração daquelas, vamos Heitor, vamos ao supermercado comigo vamos fazer um churrasco para comemorar isso —. Heitor e o meu pai se davam muito bem e a relação deles dois melhorou bem mais depois do acidente, até minha mãe gostava do meu loiro, afinal quem no mundo não gostava daquela coisinha fofa?

— Quando vai contar a ele? —. Minha mãe me questionou. A princípio não compreendi o que ela quis dizer com ''Contar a ele'', mas creio que ela já suspeite da verdade.

— Contar o quê? —.

— Que você não quer voltar a dançar —. Então ela já sabia de tudo e o pior de tudo era que eu não havia falado a ninguém, nem para mim mesmo em voz alta. Acho que ela realmente me conhecia e apenas eu não sabia disso.

— Eu não sei como contar, imagino o quanto esteja decepcionada comigo, depois de tantos anos de esforço de tanta luta eu largar tudo por nada —.

— Nunca é tarde para se tomar a escolha certa, mudanças são coisas constantes, você vai mudar bastante ainda, afinal você tem apenas 22 aninhos, é praticamente uma criança ainda —.

— Acha que eu vou me arrepender disso depois? Quando muitos anos passarem e eu olhar para trás e ver que minha decisão foi péssima? —.

— Não sei e não sei de muitas coisas, se quer saber. Mas acredite, se você arrepender-se, chegará um dia que enxergará o mundo de outros olhos, e depois de viver uma vida com uma visão turva você finalmente enxergará a verdade nua e crua —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora