Capítulo XXIII

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                              (Heitor)

   Enquanto eu tomava meu café da manhã, pensava nos motivos pelos quais ele não havia me mandado mensagem mesmo tendo meu número. Isso me incomodava profundamente. Ele passaria alguns dias longe, em uma cidade muito distante daqui. Talvez eu estivesse lhe exigindo coisas das quais não posso exigir. Mas sinto que se eu não fizer isso algo de errado vai acontecer. Eu sentia como se existisse uma corda no meu pescoço, e quanto mais eu tentava fugir do Renan mais ela apertava. Dessa maneira, eu não podia simplesmente virar-lhe as costas, e seguir meu caminho, pois nem eu mesmo sabia para onde ir.

  — Você anda estranho esses dias —. Vovó disse sentando-se a mesa. Seu olhar observador não deixava nenhum detalhe escapar, por mais mínimo que fosse.

  — Estou bem, só pensando em algumas coisas da faculdade —.

  — Heitor, eu te criei sei muito bem quando você mente —.

  — Não é nada vó —.

  — Eu acho estranho você um moço tão bonito, nunca ter namorado, só com esses casos de vez em quando que não dão em nada. Aí você ultimamente anda todo estranho, com essa cara de cachorro abandonado. Tem certeza que não aconteceu nada? Ou apenas nao quer me contar? —.

  — Você não entenderia, é complicado até para eu mesmo aceitar, imagina para a senhora —. Nem tenho ideia de como ela reagiria quando soubesse de mim e do Renan. Nem muito menos de tudo o que aconteceu entre nós dois, principalmente dentro daquelas quatro paredes. Conhecendo as pessoas da sua idade, acho que seria uma grande decepção. Meu avô mesmo dizia que não gostava muito de um sobrinho dele que gostava de garotos.

  — Preferia quando você era menor, pelo menos me contava tudo. Quando foi que deixou de confiar em mim? Ainda sou eu, sua avó —.

  — É eu sei, mas eu já não sou mais eu —.

  — Então quem é você agora? —.

  — Eu não sei —.

  Me levantei peguei minha mochila e fui para meu trabalho, dei um tchau com a mão para minha avó, ela retribuiu, e ficou sentada toda preocupada. Eu não gostava de contar meus problemas para os outros, pelo simples fato de causar preocupação. Eu não consigo lidar com meus problemas, mas pelo menos consigo conviver com eles.

  Entrei no ônibus, ele estava cheio, era tudo tão estressante, monótono, outro dia na minha vida cinza.

  Quando cheguei ao batalhão ainda tive de aguentar aqueles imbecis falando tantas asneiras. Enfim, dias difíceis mesmo sendo tão igual aos outros.

  No meu horário de almoço, aproveitei para saber o que Renan estava fazendo em Manaus, entrei em seu Instagram, para ver seus stories. Havia fotos deles ensaiando, em uma pizzaria, dentro de uma banheira relaxando.

  — Que se dane —. Digo decidido a procurá-lo assim que ele chegasse aqui na cidade. Eu que não teria medo de um bailarino, ainda mais delicado como ele.

  E assim se passaram os dias, lentos e insuportáveis, sentado no jardim eu olhava as poucas estrelas que apareciam. No dia seguinte seria a apresentação de ballet, então ele deveria estar nesse momento tentando se acalmar, espero que ele durma tranquilamente, e consiga descansar para amanhã fazer uma grande apresentação.

   — Você parece o seu avô quando estava apaixonado por mim —. Vovó disse trazendo uma xícara de café para mim.

   — Bom saber —. Eu gostava quando alguém dizia que eu e meu avô tínhamos algumas coisas em comum, eu o considerava um grande homem.

   — Só não deixe ninguém magoar seu coração, às vezes pessoas confusas só chegam nas nossas vidas para bagunça tudo e depois vão embora sem nem olhar para trás —.

  — Por que está me dizendo essas coisas? —.

  — Por que eu não quero que você passe por essas coisas, eu não te criei para sofrer na mão de ninguém —. Ela passou a mão no meu cabelo e deu um beijo na minha cabeça.

  — E me dê logo um bisneto —. Disse brincando, logo em seguida entrou, fiquei pensando no que ela disse. Renan parecia se encaixar perfeitamente nessa categoria de pessoa confusa. Mas eu também estava confuso. Dessa maneira nenhum conselho parecia fazer conselho na minha cabeça. E sem falar que Renan não tinha cara de quem me faria algum mal. Aqueles olhos depressivos transmitiam tanta paz e tranquilidade.

                            (Renan)

   — Você está bem? —. Cauã me perguntou ao cessar o nosso beijo. Eu o havia lhe chamado no meu quarto para tentar relaxar. Eu estava pensando demais no Heitor, e ainda mais na apresentação de amanhã. Então pensei em tentar esquecer ambas as coisas com o Cauã.

  — Estou sim —. Digo. Ele era bem cuidadoso comigo, ele tinha um jeito mais maduro de agir, diferente de Heitor. Era para eu estar gostando daquilo, mas eu não consegui, então me afastei um pouco dele.

  — Tudo bem, eu entendi — Disse pegando seu celular na cama — Acho que você não quer isso, e só você não percebeu ainda —.

  — Desculpa, eu nem sei onde ando com a cabeça ultimamente —.

   — Tudo bem, acho que vou te deixar descansar, até porque quero te ver no palco amanhã, então tenha uma boa noite de sono, e tente relaxar —. Ele disse beijando meu rosto e logo em seguida indo embora.

  Deitei na cama, e percebi que eu tinha falhado, me sentir podre por dentro, me senti ainda mais quando vi a sua foto novamente. Acho que errei feio, tentando esquecer o Heitor. E o pior de tudo é estar enganando Cauã, pois eu não sinto nada por ele. Apenas estava o usando para esquecer o bombeiro.

  Eu estava me saindo uma verdadeira vadia. Liguei para minha mãe disse que não estava conseguindo dormir, ela me falou que dentro da minha mala em algum lugar tinha um comprimido, ela disse para tomar. Disse também para eu não me preocupar que era coisa leve e que geralmente ela tomava quando estava com insônia.

  Depois de tomar esse comprimido consegui finalmente dormir, e para acabar de completar sonhei com o bombeiro. Eu estava no sofá da minha casa, e quando eu abria os olhos o via sentado na mesinha da varanda, lendo um livro apenas de roupão e com os pés no parapeito. Uma coisa bela de se ver.

 

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

 

 

 

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora