Capítulo XLVI

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                                (Heitor)

   Já haviam se passado três meses, e ele simplesmente sumiu de minha vida, isso já era um fato aceitável para mim, embora eu ainda nutrisse sentimentos por ele. O melhor de tudo é que nessa história, eu estava sendo um verdadeiro  palhaço, em um circo que se tornou minha vida. E isso não tinha a menor graça.

  — Já podemos ir? —. Vovó perguntou. Eu estava terminado de vestir meu terno, era aquele da noite da apresentação, que me trazia ainda fortes lembranças. Iríamos para o aniversário do velhote, confesso que ao passar desses meses ele ganhou um pouco do meu respeito. Sempre um cavalheiro com minha avó, embora seja nítido suas segundas intenções.

  — Já, mas vamos passar pela casa do Hugo primeiro e assim vamos juntos —. Nesse meio tempo também Hugo se aproximou de mim. Éramos amigos e ele era sempre muito prestativo e leal.

  — Tudo bem, estou bonita? —.

  — Sim, e eu acho que vou ter que ficar de olhos bem abertos com a senhora —. Brinco com ela que vistia um vestido vermelho vinho.

  Entramos no meu carro e assim fomos primeiro na casa de Hugo, minha avó fixou impressionada com a casa dele por fora, e ainda mais por sua personalidade.

  — Ele mora aqui e é todo humilde daquele jeito? —. Minha avó achou isso pelo fato de quando ele ia a nossa casa, fazia o que fazíamos. Diferente do Adamastor que sempre levava um pedaço de seu mundo.

  — Uhum —.

  — Boa noite —. Ele disse assim que entrou. Trocamos ainda algumas palavras enquanto íamos ao restaurante. Ainda bem que ele ia comigo, porque eu não saberia agir entre tantos ricos de nariz em pé, minha avó simplesmente sumia com o Adamastor e nem se lembrava de mim.

  Quando chegamos no seu restaurante, falamos nossos nomes e entramos. Adamastor veio pessoalmente nos conduzir até os nossos lugares a mesa. Hugo e eu preferimos sentar na outra ponta. Assim poderíamos ficar mais a vontade. Pouco a pouco os lugares foram sendo ocupados pelos seus convidados e enquanto esperávamos aproveitei para tomar um pouco de vinho. Fecho os olhos para aproveitar melhor o sabor, era simplesmente delicioso. E ao abri-los me surpreendi, Renan apareceu do nada no restaurante ao lado de seus pais. Meu corpo ficou congelado, ali estava ele, de terno também, mas preto. No começo ele não percebeu minha presença ali, mas quando nossos olhares se cruzaram percebi o susto em seu rosto. Mas ele não fez nada a não ser me olhar por alguns segundos até que sua mãe falou com ele.

   Renan não havia mudado nada, estava do jeito que minhas lembranças o guardaram em meu coração. Porém estava incrível. Seu cabelo castanho ainda era longo e sedoso, aquele seu olhar melancólico nunca mudara.

  Aquilo era uma coisa totalmente inesperada, por um momento eu pensei que ele fugiria, mas não o fez. Pelo contrário se sentou em seu lugar, um pouco próximo ao meu. No lado oposto ao meu. Meu coração palpitou, mas também meu desespero cresceu, eu não estava preparado para um reencontro, não depois de tanto tempo, e não depois de ter perdido as esperanças.

  Embora ele estivesse bem perto de mim, eu sentia que ele estava à quilômetros de distância.

  — Que cara é essa viu um fantasma? —. Hugo cochichou em meu ouvido e sorriu. Fiz o mesmo. Mesmo eu não tendo visto, senti o olhar de Renan sob mim. Olhei em sua direção e vi aquela sua mesma expressão de frieza.

  Foi aí que percebi, que mesmo depois de meses, e depois ter tentado esquecê-lo várias vezes, esse amor ainda queimava vivido em mim.

   O jantar foi servido e de vez em quando trocávamos olhares. Mas eram muito rápidos, ele parecia não se importar muito com minha presença. Isso me fazia simplesmente sangrar por dentro. Ao que parecia, o único estava sofrendo de verdade naquela história era eu mesmo.

  — Com licença vou ao Toilette —. Anuncio e me retiro da mesa. Minha vontade era sair correndo, já que ele não me dava a mínima. Fui até a pia, puxei as mangas do meu terno para cima e comecei a molhar as mão e passar no rosto. Eu precisava esquecer de tudo, porque não faria mais diferença.

  — Bem hipócrita você, não é? —. Ele  entra no Toilette de uma vez e me assusta. Lá estava ele parado em minha frente com cara de bravo, me dirigindo a palavra, em um tom visível alterado. A última coisa que eu queria era brigar. Fiquei parado por uns segundo, olhando no espelho o seu reflexo, olhando aquele cabelo que um dia tive o prazer de tocar, aquela pele macia que era única. Seus lábios finos, que embora finos, tornavam sua boca perfeita. Ele estava ali falando comigo, querendo brigar, mas eu não queria isso. Eu queria vê-lo, contemplá-lo, como uma joia, como um diamante, o meu diamante, que as ondas do mar levam e trazem de volta para mim.

   Depois de tanto tempo ele me procurou, não para ficar comigo, mas para me xingar, para me fazer me sentir pior do que já me sinto. Ele me mostra como seus objetivos eram me enlouquecer e simplesmente isso.

   Minha vontade era calá-lo com um beijo, e dizer o resto da noite que o amo, mas creio que não era isso que ele queria, eu nem fazia ideia do que ele queria.

   — Hipócrita eu? Veio aqui apenas me ofender? Porque se é esse o seu objetivo, pode dar o fora daqui —. Digo e volto a fazer o quê fazia antes. Em uma atitude violenta ele segura meu braço e diz:

  — Hipócrita, hipócrita sim e você vai ter que me escutar —. Ele estava visivelmente alterado. Nunca antes antes havia sido violento daquela forma.  Muito bem se ele tinha alguma coisa a falar, eu tinha que ouvir, mesmo que fosse apenas um Carnaval de ofensas, como parecia que seria.

  Estávamos tão perto um do outro, tão perto, eu poderia arriscar um beijo, mas certamente ele me responderia com algo violento.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

 

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