Capítulo LXXXVII

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                           (Renan)

  Lá estava eu voltando para casa pensativo, queria entender porque Heitor era assim, sempre arrogante. Sempre querendo fazer tudo e tomar todas as decisões dentro da nossa relação. Não é assim, eu não quero que seja assim.

  Ao chegar em casa, deitei na cama, peguei aquela foto que eu amava tanto, daquele dia maravilhoso em que estávamos felizes e sem preocupação alguma. Heitor era tão lindo, eu não cansava de dizer isso, amava espalhar ao quatro ventos que eu pegava o homem mais lindo de Curitiba e certamente do Brasil todo.

  Mas eu estava olhando aquela foto e me perguntando, por que tem que ser tão difícil? Eu não mereço ser feliz?

  Nos dias seguintes aquela confusão tudo parece ter se resolvido. Precisei passar um tempo tratando o Heitor friamente para ele me pedir desculpas pelo o que disse na confeitaria naquele dia. Hugo continuou na faculdade, mas segundo Heitor ele sentava muito longe dele, e não lhe dirigia uma palavra sequer. Não era isso o que eu queria, mas já era muito melhor do que antes.

  No ballet tudo parecia igual, não havia nada de novo, a não ser os chiliques do Cassiano que se tornaram mais frequentes.

  Certo dia eu estava ensaiando, sozinho como eu fazia às vezes, de olhos fechado, e ouvindo música. Até que quando abro os olhos vejo ele, não o Heitor mas o meu pai. Parado bem na minha frente, sentado em uma cadeira, me observando com atenção.

  — Você fica melhor a cada dia —.

  — O que faz aqui? Não deveria estar trabalhando? —.

  — Vim te ver, não posso fazer uma visita ao meu filho? —.

  — Pode sim, só espero que não venha me detonar como a sua mulher costuma fazer —.

  — Ela exagera eu sei, mas é porque ela se preocupa com você —.

  — Não pai, ela se preocupa com a minha carreira, todo o resto dane-se —.

  — Vocês andaram discutindo não foi? —.

  — O senhor contou a ela sobre eu e o Heitor? —.

  — Não contei, mas sabe como ela é, descobre o que quer saber em dois tempos —.

  — Que bom pra ela, e bem ruim pra mim —.

  — Renan, eu só acho que vocês dois precisam dialogar mais, ficar um tempo juntos, como mãe e filho —.

  — Isso depende não só de mim pai, a mamãe está mais preocupada com minha carreira do que com esses laços —.

  — Por que não leva o Heitor para um jantar em nossa casa? Sim você pode apresentá-lo oficialmente, além de fazer com que sua mãe perceba que você está sendo muito feliz —

  — Olha eu vou pensar nisso, mas sinceramente não creio que ela vá enxergar, afinal sabe como ela é. Arrogante ao extremo, prepotente, —.

  — Como está indo? Está tudo bem? Precisa de algo? —.

  — Preciso de um pouco de paz pai, isso viria bem a calhar —.

  O celular dele tocou. Ele falou um instante e depois despediu-se de mim, dizendo que tinha um encontro importante. Ele era sempre assim, muito ocupado. Mas fico muito feliz que mesmo entre tantos compromissos ele tenha lembrando de mim no meio do seu dia.

  — Pai — O chamei ele olha para trás curioso — Eu te amo, não esqueça disso —.

  — Também te amo meu filho —.

                             (Heitor)

  — Heitor, nunca mais soube alguma coisa do Hugo, nem muito menos ele veio aqui nos visitar. O que aconteceu? —. Vovó perguntou enquanto eu almoçava. Hoje não fui comer com o Renan, pois já fazia um tempo que minha avó almoçava sozinha e eu não gostava disso.

  — O Hugo vó nunca mais põe os pés nessa casa —.

  — Por que? O que ele fez? Ele sempre me pareceu um menino muito decente, que respeita todo mundo —.

  — Pois é, para mim também pareceu, mas infelizmente nos enganamos, ele não presta —.

  — Me fala o que ele fez? —.

  — Ele foi um nazista com o Renan, falou barbaridades, apenas pelo fato do Renan ser descendente de italianos, principalmente daquela parte mais do Sul —.

  — Ele fez isso? —.

  — Pois é, ele não deixa demonstrar, mas odeia todo mundo que não é como nós. Como eu, como a senhora e como ele —.

  — Eu não esperava isso dele, não esperava mesmo. O padrinho do seu avô era judeu, ele teve que fugir da Europa para o Brasil. Seu avô odiava nazistas, profundamente —.

  — Pois é, escolhi ficar do lado de quem foi prejudicado nessa história, no caso o Renan —.

  — Eu gosto do Renan, ele é um menino muito educado, se eu tivesse uma neta com certeza gostaria que ele a namorasse —. Nesse momento fiquei um pouco surpreso e também nervoso. Mas não foi nada do que passou pela minha cabeça.

  De volta ao trabalho, eu estava checando a mangueira do caminhão quando Renan me liga.

  — Amor, está ocupado? —.

  — Pra você nunca, pode falar —.

  — Então, meu pai nos convidou para um jantar, para te apresentar para minha família, no caso ele é minha mãe, vai ser na casa deles. Seria bem legal que você fosse, e também... —.

  — Tudo bem, eu vou —. Não esperei ele terminar o convite, adoraria fazer qualquer coisa por aquele homem.

  — Ah tudo Ben que você aceitou, primeiro eu te apresento para meus pais  e quem sabe um dia eu me apresento para sua avó, mas como seu namorado —.

  — Bom, quem sabe um dia não é? —. Falei um pouco incomodado com as palavras, ainda me causava medo a possibilidade da minha avó saber de nós dois —.

  — Lembra da promessa que você fez em Gramado? —.

  — Sim, que até a Páscoa eu contaria para minha avó sobre nós —.

  — Não é querendo te pressionar, mas é que, já não aguento ter que fingir que não sou ninguém pra você, poxa eu quero te abraçar, dormir com você, fazer amor com você na sua casa. Eu só queria poder te amar —.

   — Eu sei Renan, mas eu ainda preciso criar coragem, muita coragem inclusive, isso vai causar um impacto enorme na minha avó, sua reação eu não tenho certeza qual será —.

  — Sonho no dia em que poderemos jantar nós três. Sabe eu amo a sua avó, ela é um amor de pessoa, então a considero uma excelente sogra desde agora —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

 

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora