Capítulo CXVIII

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                           (Heitor)

   Lá estava eu, deitado, olhando o teto, pensando no dia seguinte aquela noite. O casamento da vovó ocorreria,eu tentava a todo custo me acostumar a isso, mas ainda assim, eu não podia lutar contra algumas coisas.

   Eu havia prometido levá-la ao altar, mas nem sei se conseguiria o fazer, afinal bem eu não estava, nem muito menos mal, eu apenas estava em um daqueles dias intermináveis, de noites mal dormidas, e de pensamentos involuntários e reflexões questionadores.

   Tentei de todas as formas dormir, mas isso simplesmente não acontecia, eu me mexia na cama de um lado para o outro. Tomei banho, tomei um copo de leite.

   Não quis incomodar o Renan, afinal ele estaria com certeza dormindo, talvez a única coisa que realmente me deixou feliz com toda essa história, foi o fato de que ele moraria comigo, no lugar que eu mais amo. Ele também ficou muito feliz, sei que isso sempre foi o que ele sonhou, acho que estamos dando passos verdadeiramente importantes na nossa relação. Na realidade estamos indo muito bem, sem pressa, nem atrasos, no momento que as coisas devem ser.

                                  •••

   Quando acordei era quase onze da manhã, a minha família já estava alvoroçada, todos eles ajudavam minha avó a se preparar, um monte de cabeleireiros e sei lá mais o que estava na sala. Eles me acordaram com o barulho. Tentei ir de fininho até a cozinha, mas logo fui percebido pela tia Otávia.

   — Heitorzinho, não vai se arrumar também? —.

   — Mais tarde tia, ainda é muito cedo, vim apenas comer alguma coisa —.

   — Como vai a vovó? —.

   — Ela está fazendo o cabelo agora, ela vai ser a noiva mais linda desse mundo —. Sorri, depois fui comer. Quando terminei, voltei para o meu quarto, e novamente dormi. O casamento seria a noite, então eu passaria o dia vagando pela casa, ouvindo aquelas pessoas alvoroçadas. Eu olhava o terno sob minha cama, me questionando se eu iria mesmo vesti-lo.

    Liguei para o Renan, conversamos por horas, ele disse que estava quase preparado, estava apenas em um banho relaxante, havia acabado de chegar do salão. O casamento seria na igreja, em uma bela igreja por sinal, foi quase dois meses de espera até a data.

   Semana passada foi apresentação do Renan, ele está a ficando cada fez mais perto de se tornar o maior. Ele se emocionou bastante quando foi aplaudido por todo teatro. Apenas não gostei muito daquele Christian, mas mesmo assim não sentia-me ameaçado por sua presença. Eu tinha que admitir que ele era quase tão bonito quanto eu.

   De volta às questões do casamento, quase todo mundo da nossa família foi convidada, até a minha mãe, mas creio que ela não virá, afinal nunca foi muito de dar importância a festas, ainda mais festas da sua família. Minha família do interior veio em peso, até que foi bom toda aquela algazarra. Tia Otávia me deu uma bela bronca devido ao fato de não ter ido passar o Natal em sua casa. Depois ela foi um pouco invasiva e perguntou sobre o Renan, e pediu pra eu mostrar uma foto dele.

   — É até bonitinho —. Ela falou, com uma cara de surpresa.

   Dois dias atrás Renan veio jantar conosco, aproveitei para apresentar eles a todos, ele estava bastante constrangido, mal falava, apenas sorria, mas logo foi se rendendo àquelas piadas sujas e histórias duvidosas.

   — O que você faz da vida Renan? —. Perguntou um dos meus primos.

   — Eu sou bailarino —.

   — Profissional? —.

   — Sim —. Falou.

   — Agora entendo porque o Heitor anda tão distraído —. No começo eu não havia entendido a piada suja, mas logo entendi, até porque todo mundo na mesa riu inclusive Renan.

    Minha avó ultimamente anda muito sorridente, sempre sorrindo por aqui e acolá, acho que era o fato de estar preste a se casar, e também o fato de estar reunido com toda sua família.

    Todo mundo da minha família gostou do Adamastor, não sei muito bem porque, afinal ele é um chato. O Renan diz que é pelo fato dele ter muita simpatia e elegância.

    Quando o relógio marcou seis horas, eu estava terminando de me vestir, penteei meu cabelo, arrumei minha gravata. Até que eu não estava mal, com certeza Renan iria amar, já que ele sempre teve uma tara por ternos azuis.
Quando desci as escadas, vovó estava terminando de arrumar sua maquiagem. Esperei quase meia hora até que estava pronta. Caminhei até próximo a ela. Olhei por um bom tempo dos pés as cabeças.

   — Está muito linda —. Digo. Vovó me olha, ela estava muito emocionada, era possível ser sua animação, ela tinha um belo colar no pescoço.

   — Obrigado, você também —. Sorri, ambos estávamos arrumados para nossos amados. Olhei no relógio e percebi que estava quase na hora do casamento, que começaria às sete.

   — Bem, já está quase na hora vovó, vou tirar o carro, chame a tia Otávia —.

   — Espera Heitor —. Me disse, fazendo com que eu parasse meu trajeto.

   — O que foi? —.

   — Queria te dar algo, algo muito precioso para mim —. Ela estendeu as mãos, e entregou-me sua aliança, e também a aliança do vovô.

   — Sua aliança?! —.

   — Uhum, agora colocarei outra aliança no meu dedo, mas acho que elas devem estar com outro casal. Acho que seria isso que o seu avô tanto iria desejar. Não quero que elas fiquem guardadas em uma caixinha, até que o tempo tirem delas toda a beleza —.

   — Não posso aceitar, isso é lembrança sua, isso é quase sagrado para mim —.

   — Você vai aceitar, pois um dia você vai se casar, espero que seja com o Renan, e todos os dias você olhará essa aliança e vai se lembrar que em algum lugar do mundo, alguém está pensando em você e te amando bastante —. Ela de uma só vez, colocou os aneis em minha mão, eu sei que aquele ato demandou muito de toda sua força, pois por mais de quarenta anos ela as usou. E agora tudo seria nada mais do que uma lembrança.

  — Obrigado, um dia irei pedir Renan em casamento com elas —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

  

 

   

 

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