Your own sister

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— S/n.— Escutei uma voz conhecida me chamar. Não poderia ser quem eu estou pensando... Ou poderia?
Abri os olhos e vi a figura do meu pai sentado na cama me encarando.

— Pai? O que está fazendo aqui?— Perguntei intrigada com sua presença. Pensei que estivesse na Flórida com sua nova esposa.

— Vim te ver, querida.— Disse me dando um abraço apertado enquanto eu sentava na cama. Estranhei a princípio, porém retribuí. Papai nunca foi de demonstrar muito carinho, ainda mais depois daquilo.

— Do nada?— Questionei ainda sem entender a visita repentina.

— Não posso mais visitar a única filha que me restou?— Indagou sorrindo como se não fosse nada demais. Ok... Isso está ficando estranho.

— Como é bom te ver crescida.— Falou persistindo no sorriso largo. Não nos vemos desde quando eu tinha dez anos, que foi quando mamãe se casou com Elliot e nos mudamos para a Califórnia. Por que ele viria para Hawkins só para me ver? Não faz sentido.

— Tão crescida quanto sua irmã seria.— Completou me gerando calafrios. Meus batimentos cardíacos foram acelerando.

— Seria se você não tivesse deixado ela lá, mesmo sabendo que o ônibus ia explodir.— Adicionou colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha lentamente. Vários fleck backs rodearam minha mente.

— Eu só fiz o que a professora mandou. E-eu era uma criança e estava com medo.— Me justifiquei com a voz trêmula.

— Você sabia que sair daquele ônibus sem ela significava deixá-la para morrer, e ainda assim nem hesitou.— Contou de um jeito sarcástico. Senti meus olhos encherem de lágrimas, que logo escorreram queimando meu rosto.

— Saí quando tinha começado a pegar fogo, eu também teria morrido se ficasse. Você disse que me entendia.— Relembrei a conversa de quando ele me acalmou após o acidente, dizendo não ter sido culpa minha. Apesar de sumir da minha vida depois disso.

— Acha que fui sincero? Todos sabiam que Clarice era minha filha preferida. Minha menininha perfeita, diferente de você que sempre foi virada do avesso.— Assumiu expressando uma postura de raiva e rancor.

— Pai... Por favor...— Pedi implicitamente para que ele parasse de falar sobre o assunto.

— Como teve coragem de fazer aquilo com sua própria irmã? Com sua própria gêmea.— Indagou utilizando uma pronúncia mais histérica. Engoli o choro, mas não adiantou muito.

— Eu não queria, eu juro!— Exclamei entrando em desespero.

— Você não passa de uma egoísta mimada, sua mãe não soube te educar.— Opinou sério. Pude sentir suas palavras como facas em meu coração.

— Para!— Implorei me encolhendo na cama enquanto chorava.

— Egoísta.— Afirmou me ofendendo de forma rude. A voz dele parecia se multiplicar e valer pelas de várias pessoas falando ao mesmo tempo. A ofensa dita foi repetida sem parar e ia aumentando o volume gradativamente.

— NÃO!— Gritei descontrolada ao abrir os olhos, dando de cara com meu quarto vazio.
Ufa, foi apenas um pesadelo.

Que susto do cacete.— Escutei uma voz sonolenta reclamar. Me virei na direção da voz e vi Louis deitado do meu lado na cama.

— O que está fazendo aqui?— Perguntei sem entender sua presença no cômodo e o porquê dele estar dormindo comigo. Fitei seu corpo coberto pelo mesmo cobertor que o meu.— Espera... Você faltou aula pra ficar comigo?— Indaguei sem acreditar. Louis coçou os olhos e me encarou com uma expressão cansada.

— Não é como se eu fizesse questão de passar a manhã inteira estudando.— Assumiu despreocupado.
Continuei o olhando chocada, então ele percebeu que precisaria complementar a explicação.— Fora que os patrões podem chegar a qualquer momento. Se eles te encontrassem aqui sozinha ia sobrar pra quem?— Disse revirando os olhos de forma óbvia.

— Entendi...— Aceitei para não discutirmos. Minha cabeça não dói tanto quanto antes, mas ainda incomoda. Pra falar a verdade eu não entendi. Ele não podia ficar em casa no quarto dele?

— Por que você gritou? Quase caí da cama.— Reclamou insatisfeito. Louis está na ponta da cama, e eu entre ele e a parede. Ainda bem que a cama é de casal, se não ficaríamos espremidos.

— Tive um pesadelo.— Contei ficando nervosa só de lembrar. O garoto mudou sua expressão e me encarou sério.

— Tem uma terapeuta na escola, deveria ir.— Aconselhou sentando na superfície do colchão.

— Você podia parar de me tratar feito uma maluca? Todo mundo tem pesadelos de vez em quando.— Justifiquei irritada com sua insistência em me ver como uma doente mental.

— Você tem todos os sintomas de quem precisa.— Falou como se tivesse propriedade no assunto.

— Como você sabe?— Questionei impaciente, porém logo parei para pensar melhor.— Calma... Você vai pra terapeuta?— Supus juntando as peças. Louis abaixou a cabeça aparentando estar envergonhado. Por essa eu não esperava. Sei que ele é um babaca problemático, mas não achei que estivesse no nível de procurar ajuda profissional. Afinal, Louis parece ser do tipo que não aceita a ajuda de ninguém.

— Se contar pra alguém já sabe.— Ameaçou sem olhar diretamente para mim. Arregalei um pouco os olhos com a confirmação da minha hipótese. Ambos ficamos calados por conta do clima pesado, foi aí que tomei a decisão de me levantar da cama.

— Cuidado, pirralha.— Falou se levantando da cama primeiro com pressa, logo fazendo eu me apoiar nele ao levantar. Franzi o cenho sem compreender sua ação. Já estávamos em pé, porém nossos braços ainda estavam entrelaçados. Levantei meu olhar até ele e vi que o mesmo encarava meu rosto, mas não meus olhos exatamente, e sim um pouco mais embaixo.

— Crianças?— Escutei a voz de mamãe soar pelo cômodo desacreditada. Nos afastamos agilmente e vimos os dois adultos parados em frente a porta.

— Não deveriam estar na escola?— Perguntou desconfiando da situação. Elliot apenas nos analisava silencioso.

— Eu... Acordei com dor de cabeça. Não aguentei ir pra escola.— Expliquei meio nervosa. Medo de levar bronca.

— E você?— Elliot entrou na conversa se direcionando ao filho.

— Fiquei para cuidar dela.— Respondeu o pai sério. Claro que ele só disse isso para sair bem na fita.

— Oh, querido. Você é um ótimo irmão.— Minha mãe disse o elogiando gentilmente. Ótimo, confia. Tenho ódio quando vejo ela babando Louis só pra ver se ele começa a ter uma relação boa com ela, é humilhante.
— Mas evitem faltar de novo, vocês estão numa escola nova e precisam se adaptar.— Aconselhou responsável. Todos ficamos calados.

— Bem... Vamos, temos que mostrar algo para vocês.— Avisou quebrando o silêncio. Eu e Louis nos entreolhamos e seguimos os mais velhos ainda receosos pelo diálogo anterior.

O que será que eles querem nos mostrar?

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora