— Ok...— Sussurrei ainda digerindo o que eu tinha acabado de ouvir.— Eddie andou vendendo umas ervas pra vocês também?— Perguntei franzindo o cenho com estranheza. Sério, um demônio que possui pessoas e vem do... Mundo invertido? Se tem alguma coisa invertida aqui é a mente deles. Ah, não posso esquecer o "devorador de mentes", mais um monstro pra lista fantasmagórica. E eu achando que eu era doida.
— Eu disse.— Steve debochou fazendo cara de tédio enquanto mexia os ombros. Claro que eu não acreditaria, assim como qualquer pessoa que tenha o mínimo de sanidade.
— É sério.— Dustin alertou franco.— Sabe o incêndio do ano passado? Não foi apenas um incêndio...— Revelou claramente angustiado. Caramba, ele transmite tanta segurança que chega a assustar.
— Já deu.— Falei esgotada daquilo.— É muita loucura num lugar só.— Afrontei me levantando de modo rude da cadeira que eu estava sentada.
— Calma, S/n.— Will orientou mais passivo.— Não estamos mentindo. Por que inventariamos tudo isso?—Disse na tentativa de influenciar meu posicionamento.
— Porque são loucos.— Supus óbvia ao dar um sorriso falso.— Aconselho vocês a fazerem terapia também, estão precisando mais do que eu.— Sugeri analisando a situação com sarcasmo.— Se bem que esse conselho não serve pra você.— Relembrei me dirigindo a Will, que coçou a nuca desconfortável.
— E por que você faz?— Steve perguntou cruzando os braços, como se estivesse duvidando da minha sanidade também.
— Não é da sua conta.— Afirmei sem maneirar na grosseria.— Acho que essa cidade deixa as pessoas doidas.— Concluí bufando irritada.— Enfim, bye bye pra vocês.— Me despedi abrindo a porta do escritório.— Ah, preciso disso.— Falei pegando a lanterna de Dustin ao me deparar com o corredor escuro.
— S/n, você não pode...— Dustin falou tentando me interromper, porém fechei a porta antes, logo me virando para o corredor escolar. A luminosidade reduzida deixava o ambiente macabro. Talvez eu esteja achando isso por estar sozinha dessa vez, mas havia outro fator me assustando... Um som de baladas de relógio.
Avistei algo no final do corredor e fui me aproximando ao dar passos curtos, a cada passo o barulho parecia ficar mais alto. Era um relógio de pêndulo, igual ao que tem lá em casa. Ele aparentava estar saindo pra fora parade, já que haviam várias rachaduras rodeando o maquinário suspenso.
S/n, S/n, S/n...
Era aquela voz de novo.— S/n!— Acordei com um grito de Dustin, que me balançava freneticamente. Estávamos nós quatro no corredor. Eu realmente me encontrava virada pra mesma parede, contudo não havia mais nada ali, nenhum relógio ou rachadura.
— O que aconteceu?— Indaguei arregalando os olhos assustada enquanto os encarava.
— Eu que te pergunto, você parecia estar em transe.— Dustin revelou extremamente confuso.— Viemos recuperar a lanterna e te encontramos assim.— Contou me fitando avaliativo.
— Vocês viram?— Falei apontando na direção da parede. Foi tão real, não pode ser que eu tenha apenas alucinado.
— Vimos o que?— Steve questionou circulando o olhar pelo ambiente de forma duvidosa.
— O relógio.— Respondi transtornada.— Estava bem aqui.— Expliquei detalhando ao mostrar o local específico.
— Ela parecia estar em transe.— Will repetiu a fala de Dustin como se quisessem insinuar algo. O mesmo compreendeu o raciocínio do amigo, pelo menos sua feição pensativa indicou isso.
— A mesma coisa que o Eddie falou que aconteceu com a Chrissy.— Dustin assimilou aflito. Suas palavras fizeram meu coração acelerar.
— Acho melhor voltarmos pra sala.— Steve opinou tentando apaziguar a situação.— Terminamos de ler os relatórios, aí sim tiramos uma conclusão.— Propôs sugestivo. Dustin e Will assentiram, diante disso eu apenas os segui desnorteada. Percorremos o corredor e entramos na sala novamente. Meu desespero me impulsionou a ir direto procurar o relatório da Chrissy.
— Deixa, eu procuro.— Steve se ofereceu me empatando de abrir a gaveta dos relatórios. Aceitei engolindo seco ao vê-lo desempenhar a ação.— Chrissy Cunningham?— Indagou lendo o nome de uma das pastas. Caramba, ele conseguiu achar bem mais rápido do que eu. Falando nisso, nem sei onde deixei minha pasta e a de Louis... Mas não importa, isso não é a prioridade agora.
— Sim.— Will certificou convicto. Os três foram até a mesa mais próxima e abriram o relatório às pressas. Fiquei numa distância de cinco passos deles.
— A Chrissy tinha muita dor de cabeça, uma enxaqueca que não passava.— Will contou concentrado na leitura do relatório. Lembrei da minha principal frase essa semana: "É só uma enxaqueca."— E depois... Pesadelos.— Adicionou me despertando um gatilho."Tão crescida quanto sua irmã seria."— Pesadelos que remetiam ao passado dela.— Especificou agravando meu medo.— Também começou a escutar vozes.— Complementou fazendo uma pausa dramática. "S/n, S/n, S/n." "Está chegando a hora."— E a ver coisas.— Finalizou erguendo sua cabeça para encarar minha face tensa.
— Que tipo de coisas?— Questionei com receio do que obteria como resposta.
— Um "monstro" e... Um relógio de pêndulo.— Revelou deslisando seu dedo indicador pelo papel para achar onde falava disso. Senti meu coração parar por um segundo. Não é possível... Ou é?
— S/n... Você teve enxaqueca essa semana, né?— Dustin relembrou desconfiado. Eu definitivamente não cogitaria achar essa história de "Vecna" verídica... Mas contra fatos não há argumentos. O relógio, as vozes... É muita coincidência, eu vi a merda do relógio.
— Quando foi a primeira visão?— Perguntei tão ansiosa que nem respondi a pergunta anterior.— Ontem ela estava passando mal no banheiro e viu algo.— Avisei assistindo Will procurar a informação necessária.
— Foi ontem mesmo.— Repassou parando de encarar o relatório. Engoli seco após imaginar o que aquilo podia significar.
— E ela morreu no dia seguinte...— Murmurei aflita. Não... Por favor, não.— Fazia quanto tempo que ela vinha sentindo as dores?— Fiz outra pergunta para confirmar minha teoria. Will retornou a análise de modo ágil.
— Há cinco dias.— Afirmou me deixando chocada. Devo estar pálida nesse exato momento.
— A minha começou há quatro...— Contei vendo os três ficarem mais tensos.— E eu acabei de ver aquele maldito relógio de pêndulo no corredor.— Falei sentindo minha respiração ficar pesada.
— Isso quer dizer que...— Steve foi interpretando devagar, como se não quisesse aceitar o fato.
— Acho que vou morrer amanhã.— Constatei ficando com a visão embaçada pela lágrimas que surgiam ao entorno dos meus olhos. Lágrimas de medo.

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𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦
FanfictionS/n Lennox havia acabado de se mudar para Hawkins com sua família, tal qual era composta por sua mãe, seu padrasto e seu irmão postiço insuportável. Louis Partridge era um rapaz frustrado pela separação dos pais, então costumava descontar sua raiva...