Pretty good

2K 208 38
                                    

Guiar Louis pela casa havia sido uma tarefa difícil, entretanto não desisti até deixá-lo deitado na cama do meu quarto. Apesar dele estar fraco, não acho que a pancada tenha gerado algo grave. Veremos se repousar será o suficiente para que ele se recupere, caso contrário precisarei envolver nossos pais, o que seria definitivamente péssimo.

— Pode pegar gelo?— Perguntei a Eleven, que se encontrava na porta do quarto me assistindo cuidar do garoto.— Fica na parte de cima da geladeira.— Especifiquei supondo que ela poderia não saber onde fica o frizer. A mesma demorou um pouco para reagir, porém saiu atendendo ao pedido.— Tá doendo?— Cogitei ajeitando o cabelo de Louis com cautela.

— Aquele arrombado.— Xingou de modo arrastado, desconsiderando minha pergunta.— Óbvio que eu não quero mana, não pode.— Disse sem sentido. Ele tá parecendo um bêbado.

— É o que, Louis?— Questionei franzindo o cenho confusa.— A pancada foi forte pelo visto.— Concluí em vista do provável delírio.

— Mas não pode.— Repetiu fechando os olhos ao escorar a cabeça no travesseiro. Em seguida Eleven apareceu me entregando um pano cheio de gelo.

— Obrigada.— Agradeci pegando educada, logo pondo na cabeça de Louis.

— Ai!— Grunhiu após sentir o choque térmico do gelo na região.

— Calma, é pra melhorar.— O contive até ele se acostumar com a temperatura.— Você consegue fazer isso sozinho, né?— Presumi fazendo com que ele mesmo segurasse o pano.— Tenho que resolver um negócio.— Avisei olhando Eleven de relance ao levantar da cama.— Descansa aí, qualquer coisa me chama.— Orientei pronta para sair do quarto.

— S/n.— Chamou interrompendo minha saída de imediato.

— O que foi?— Indaguei me virando na sua direção.

— Nada.— Afirmou simples.— Eu não podia chamar?— Perguntou achando aparentemente óbvio. Revirei os olhos tentando conter minha impaciência.

— Juízo.— Alertei me retirando do cômodo sem responder aquela pergunta desnecessária. Eleven havia saído um pouco antes de mim, resultando em nos esbarrarmos no corredor.

— Ele tá bem?— A garota indagou claramente por educação, ela não estava preocupada com ele, afinal a própria foi quem causou aquilo.

— Não sei.— Respondi incerta.— Precisava daquilo tudo?— Questionei me segurando para não acabar discutindo.— Ele pode ter algo sério.— Cogitei temendo o pior.

— Precisava.— Afirmou direta.— Ele só ia parar quando matasse o Steve.— Disse justificando sua intervenção.

— Não é pra tanto.— Discordei na defensiva.— Louis pode ser muitas coisas, mas assassino não é uma delas.— Contei demonstrando ter certeza. Não imagino Louis de fato matando alguém. Sei que ele ameaçou atropelar os meninos naquele dia, mas foi só para me assustar. No fundo ele não teria coragem, eu sei disso.

— Não foi o que pareceu.— Opinou a caminho da sala, portanto a segui para continuarmos a conversa, porém meu propósito é introduzir outro assunto.

— Nem tudo é o que parece.— Retruquei refletindo a frase.— Falando em aparências...— Iniciei tentando chegar no ponto onde eu queria.— Nossos pais provavelmente vão chegar ainda hoje e você vai ter que dormir aqui.— Expliquei a situação.— Então vou dizer que você é uma amiga minha da escola.— Comuniquei bolando o plano.— Posso te emprestar algumas roupas pra eles não desconfiarem.— Sugeri a analisando pensativa. Acho que o cabelo será o maior problema, quer dizer, a ausência dele. Não que eu me incomode, mas cabelo raspado em meninas gera preconceito, principalmente vindo dos mais velhos.

— Tudo bem.— Aceitou sem botar dificuldade.

— Ótimo.— Reagi satisfeita.— Ah, tem outra coisa.— Avisei lembrando de um detalhe importante.— Vamos ter que mudar seu nome.— Informei direta.— Eleven é um nome meio... Incomum?— Supus com medo de parecer rude.

— Meu verdadeiro nome é Jane.— Revelou me fazendo achar uma boa solução.

— Pronto, você vai se apresentar como Jane.— Orientei mostrando ser um nome admissível.— Inclusive esqueci de me apresentar, S/n Lennox.— Relembrei estendendo a mão para cumprimentá-la, contudo não obtive retribuição.

— É...— Murmurei constrangida ao desfazer o gesto.— Tenho que buscar uma coisa no porão.— Anunciei quebrando o clima. Caminhei até a escada que dava no porão e percebi que estava sendo seguida. Descemos os degraus e entramos no espaço. Haviam várias caixas espalhadas, por isso tive que vasculhar cada uma para encontrar o que eu tinha em mente.

— O que você tá procurando?— Perguntou me vendo abrir a terceira caixa.

— Finalmente.— Achei tirando a peruca loira de dentro do compartimento.— Eu não via isso há anos.— Comentei arrumando os fios desalinhados. Era de uma fantasia que usei no Halloween quando eu era menor.— Acho que serve.— Presumi vendo que a peruca estava conservada. Eleven me encarava como se estivesse à procura de respostas.— É pros nossos pais não estranharem, fora o pessoal da escola amanhã.— Expus o contexto para me justificar. Ela não disse nada, apenas começou a subir a escada. Imitei sua ação a caminho da parte superior da casa. Percorremos os corredores e retornamos ao meu quarto posteriormente.

— S/n.— Escutei a voz de Louis assim que abri a porta.— Pensei que você fosse me deixar aqui.— Falou com uma intonação dramática.— Vem pra cá.— Pediu persistindo no drama.

— Releva, ele tá meio biruta.— Esclareci a Eleven enquanto eu abria meu guarda-roupa no intuito de encontrar peças de roupa que servissem para ela.

— Eu tô o que?— Louis questionou desentendido, no entanto ignorei sua fala.

— Esse conjunto deve ficar bom.— Supus entregando uma calça azul turquesa e uma camisa rosa claro lisa de manga longa, além da peruca loira. Eleven fitava as vestes de maneira desconfiada.— Você pode se trocar no banheiro ali do lado.— Direcionei apontando com meu dedo indicador. A garota saiu do quarto dando passos leves, nada animada para se vestir.

— Vem, S/n.— Louis insistiu quando ficamos a sós. Bufei sentando na cama diante dele.

— Arg, olha o que você fez.— Reclamei notando que ele acabou deixando o pano cair e molhar a cama de gelo derretido.

— Eu não fiz nada.— Se defendeu fechando os olhos e puxando meu braço. Desfiz o contato e retirei o pano da superfície do colchão.

— Não fez nada mesmo.— Ironizei sorrindo sarcástica.— Só destruiu a cara do Steve.— Recordei mudando a pauta da reclamação.

— E devia ter destruído mais.— Garantiu sem arrependimento.— Mas ele fez macumba.— Constatou se referindo ao fim da briga. Dustin contou sobre Eleven ter poderes, contudo Louis não raciocinou isso pelo jeito. Se bem que ele não está raciocinando nada.

— Porra, Louis.— Afrontei irritada.— Não tinha necessidade de você ter partido pra cima, agora vocês dois estão ferrados.— Descrevi o óbvio.— Por que você fez aquilo?— Questionei sabendo que eu não teria uma resposta muito lúcida, porém não tive resposta alguma. Louis me encarava fixamente, até que a porta do quarto foi aberta, revelando Eleven vestida, logo sua atenção foi transferida de mim para ela.

— Você tá...— Iniciei cogitando fazer um elogio. A peruca loira e a roupa caíram muito bem nela.

— Bonita.— Louis completou me interrompendo.— Demais.— Prolongou o elogio.— Você tá muito bonita.— Enfatizou dizendo diretamente a ela. Uma sensação esquisita me atingiu ao escutar aquilo, um incômodo que nem eu mesma entendi. Tenho que considerar seu estado de desorientação.

— Muito... Bonita.— Concordei me embolando. Eleven agora fitava seu reflexo no espelho. Ela ia dizer algo, porém foi cortada pelo barulho da companhia tocando. Merda, eles chegaram.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora