O percurso de bicicleta durou cerca de dez minutos. Pensei que estivéssemos indo pra casa de algum deles, mas estacionamos na escola. Fiquei surpresa em estarmos lá, ainda mais porque adentramos num galpão dos fundos.
O primeiro rosto que avistei após atravessar a entrada foi o de Eddie. Ele não parecia nada contente com a nossa presença, ou talvez apenas com a minha.
— Pediu um substituto, e trouxemos.— Dustin falou de modo confiante para o mais velho. Eddie me inspecionou visualmente durante um mero instante.
— Exato, um substituto.— Repetiu dando ênfase ao gênero da palavra.
— Ok... Isso soou meio machista.— Me intrometi dando um sorriso falso ao perceber o intuito de sua fala.— Eu ser mulher não me torna incapaz de apreender a jogar esse joguinho de vocês.— Garanti em afronto, mesmo que participar definitivamente não fosse uma das minhas maiores vontades.
— "Joguinho", é aí onde está o problema.— Debochou convencido.— Essa campanha deve ser encarada com seriedade por jogadores experientes.— Afirmou claramente exagerado.— Homens maduros.— Especificou parecendo vangloriar a si.
— Chama esses três de homens maduros?— Questionei ao intercalar meu olhar entre Dustin, Mike e Will.— Pelo visto temos definições bem diferentes.— Ironizei soltando uma risada fingida.
— Ei.— Mike alarmou ofendido.— A gente ainda está aqui.— Avisou me fitando irritado.— Somos os melhores jogadores de D and D da cidade!— Constatou expressando ter certeza do que dizia.
— Claro, né?— Concordei sarcástica.— Até porque são os únicos.— Adicionei minha percepção em forma de zombaria.
— Sua...— Mike introduziu um provável xingamento, porém foi interrompido por Dustin.
— Limites, Mike!— Gritou apartando o debate.— Eddie...— Murmurou retomando o problema inicial.— Aposto que S/n conseguirá acompanhar o jogo, apenas dê uma chance para ela.— Pediu tentando resolver o impasse. O cabeludo me encarou refletindo, como se realmente estivesse cogitando a proposta de Dustin.
— Uma chance.— Aceitou só mostrando o dedo indicador.— E nada mais.— Especificou severo ao lançar outro olhar de inspeção sobre mim. Todos os presentes reuniram-se sentados entorno de uma mesa cheia de tabuleiros e caixas decorativas.
— Os cultistas encapuzados entoavam: "Salve o lorde Vecna."— Eddie narrou sussurrando de modo sombrio, metade do seu rosto estava tampado por uma placa preta cheia de instruções.— "Salve o lorde Vecna."— Repetiu me gerando uma certa angústia.— Eles viram para vocês e removem os capuzes.— Continuou a história sem sentido.— Vocês reconhecem a maioria de Makbar, mas um deles é desconhecido.— Disse persistindo no tom de voz esquisito.— Ele tem a pele engelhada, esturricada.— Caracterizou olhando pra mim na última parte.— E há algo mais... Além de não ter o braço esquerdo, também lhe falta o olho esquerdo!— Exclamou colocando a mão sobre um olho.
— Não!— Negaram indignados. Franzi o cenho completamente perdida. Vim parar num manicômio.
— Vecna morreu!— Mike contrariou em pleno estresse depois de esmurrar a mesa.— Kas o matou!— Afirmou com convicção.
— Era o que pensávamos, amigos.— Constatou retornado ao conto.— Mas Vecna está vivo!— Gritou se levantando da cadeira, logo pondo uma peça do jogo no tabuleiro de maneira rude. Talvez Louis esteja certo... Talvez realmente seja um ritual satânico.

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𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦
Hayran KurguS/n Lennox havia acabado de se mudar para Hawkins com sua família, tal qual era composta por sua mãe, seu padrasto e seu irmão postiço insuportável. Louis Partridge era um rapaz frustrado pela separação dos pais, então costumava descontar sua raiva...