Visualizar os meninos através da janela me deixou desacreditada. Eles nunca vão parar com essa perseguição? Não é possível... Retirei minha face da abertura ao perceber que Steve sentiu estar sendo observado. Mal me reposicionei no sofá e Senhora Kelly retornou à sala acompanhada.
Um rosto conhecido entrou no meu campo de visão. Will? Tinha que ser um dos esquisitos.
— S/n?— Will falou como se estivesse surpreso. Quem ele acha que vai enganar? É óbvio que esse cabelinho de tigela foi mandado aqui para me espionar, afinal é o que eles fazem de melhor. Senhora Kelly alternou seu olhar entre nós dois desconfiada.
— Bem, Will. Estamos no meio da sessão, teria como esperar sua vez na salinha do andar de cima?— Kelly sugeriu ao garoto enquanto apontava na direção da escada. Mais um pra lista de traumatizados que precisam de terapia... Estou começando a achar que todos dessa cidade são malucos, incluindo eu.
— Não precisa, eu vou ser rápido.— Comunicou aparentemente focado no que tinha para dizer.
— Desculpe, mas não posso pular a vez de ninguém.— Disse se referindo a interromper o momento comigo. O menino acabou de chegar e já quer preferência, é cada uma...
— Ela pode ficar se quiser.— Falou permitindo minha presença no decorrer do diálogo.— Não é sobre mim.— Avisou indicando não ser uma consulta pessoal.
— E sobre quem seria?— Indagou sem conseguir prever o intuito de Will com aquilo.
— Chrissy.— Pronunciou o nome com temor. Pelo visto me enganei em achar que eu fosse o motivo dele ter vindo. Senhora Kelly franziu o cenho e ficou aparentemente incomodada, o que gerou um certo clima desagradável no ambiente.— Sei que você a atendia.— Afirmou de modo determinado.
— E também sabe que não posso falar sobre Chrissy ou outros alunos.— Relembrou decidida a não repassar informações sobre a garota.
— Sim, mas tipo...— Iniciou refletindo no que iria falar dali em diante.— E se tiver um assassino em série pela vizinhança?— Supôs precavido.
— Ele pode estar mais perto do que você imagina.— Provoquei acusando Eddie indiretamente. Will respirou fundo ao me escutar, porém não desviou sua linha de raciocínio.
— Chrissy mencionou alguma coisa sobre quem pode ter feito isso?— Retomou fazendo um questionamento mais direto.
— Desculpe, mas não posso mesmo falar disso.— Garantiu sem ceder à pressão.— Por exemplo... Gostariam que eu falasse de vocês pros outros?— Perguntou esperando nós negarmos.
— Se eu estivesse morta e isso ajudasse a pegar o assassino... Com certeza gostaria.— Opinei sarcástica. Will pareceu se agradar com o que eu havia dito.
— Vamos deixar a polícia trabalhar, está bem?— Propôs nos lançando um sorriso falso. Will engoliu seco e fitou o chão pensativo.
— Tem razão.— Concordou sorrindo tímido, me deixando confusa por conta da aceitação quase imediata.— A polícia está no controle.— Admitiu abaixando sua cabeça.— Posso ir ao banheiro?— Indagou educado. Será que ele está planejando algo?
— Claro, fica no primeiro andar à esquerda.— Orientou prestativa. Will assentiu e seguiu o caminho indicado, deixando eu e Senhora Kelly a sós de novo.
— Aonde paramos?— Questionou querendo se situar, contudo quase não ouvi por estar concentrada em fitar Will mexendo numa vidraça do corredor. O mesmo nem passou no banheiro e já saiu da casa após colocar uma chave dentro do bolso de forma suspeita.— S/n?— Chamou estranhando minha desatenção.
— Ah, eu...— Murmurei perdida.— Preciso ir, depois continuamos na escola.— Avisei me levantando apressadamente para dar tempo de alcançar Will. Saí da casa em questão de segundos, deixando Kelly intrigada com a fuga repentina.
— O que vai fazer com isso?— Perguntei gerando um susto no garoto ao aparecer do nada, o fazendo parar de atravessar a rua.
— Isso o que?— Indagou querendo desviar da minha pergunta.
— A chave.— Falei de maneira óbvia.— Vi você pegando.— Afirmei o deixando sem saída.
— Não posso dizer.— Falou olhando na direção do carro que Dustin e Steve estavam, ambos assistiam nossa conversa de longe.
— Que pena, então terei que contar para Senhora Kelly.— Ameacei cínica enquanto me virava.
— Vamos pro escritório dela.— Contou soltando a frase com rapidez. Voltei a ficar diante dele.— Minha ideia é pegar o relatório da Chrissy e tentar achar alguma pista.— Completou revelando seu plano. Se eles tivessem acesso ao relatório da Chrissy... Também teriam ao meu.
— Lá tem relatórios de todos os pacientes?— Indaguei apreensiva com a possibilidade de encontrarem algo sobre mim.
— Provavelmente.— Confirmou achando meio óbvio. Não posso deixar esses lunáticos terem a chance de descobrirem meus dilemas íntimos, fora que eu adoraria saber o que ela escreveu nas minhas sessões, ou até mesmo nas de Louis.
— Eu vou com vocês.— Constatei me impondo decidida. Will pareceu não compreender meu interesse súbito em ir, mas não dei abertura para ele retrucar. Eu e o garoto andamos lado a lado até o carro. Nossos passos foram bastante acelerados, então entramos no veículo em instantes.
— O que ela está fazendo aqui?— Steve perguntou se virando para me encarar. Dustin tinha um semblante similar.
— Nada, apenas dirija.— Will pediu fitando a casa da terapeuta, temendo que ela surgisse ali.
— Nada? Tá.— Zombou insatisfeito com a resposta que obteve.
— Steve, dirija!— Exclamou perdendo a paciência. O mais velho deu partida no automóvel sem opção.

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𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦
FanfictionS/n Lennox havia acabado de se mudar para Hawkins com sua família, tal qual era composta por sua mãe, seu padrasto e seu irmão postiço insuportável. Louis Partridge era um rapaz frustrado pela separação dos pais, então costumava descontar sua raiva...