Hibernei igual um urso. Sério, nunca dormi tanto em toda a minha vida. Adormeci no início da tarde e só acordei de madrugada. Chequei a hora no despertador, que marcava quatro da manhã.
A desgraça da enxaqueca ainda está me atormentando. Tenho quase certeza de que tive sonhos macabros, mas não consigo lembrar direito. Minha melhor saída seria tomar um banho gelado, quem sabe o choque térmico aliviasse a dor.
Demorei cerca de vinte minutos debaixo do chuveiro. Havia achado que passar mais tempo mudaria alguma coisa, o que não aconteceu. Enxuguei meu corpo com a toalha e me enrolei em seguida.
Fui atravessando o corredor devagar pela incapacidade de enxergar naquele breu total. Quando pensei ter chegado na frente do meu quarto senti algo, ou alguém, se chocar brutalmente em mim.
— Ai, meu Deus.— Falei dolorida após cair no chão de vez. Pra piorar, a pessoa tinha caído por cima da azarada aqui. O peso estava quase me deixando sufocada.
— S/n?— Escutei a voz de Louis expressar confusão. Ah, claro. Tinha que ser.
— Não, a sua mãe.— Ironizei impaciente.— Sai de cima, porra! Vou acabar sendo esmagada!— Mandei zangada ao tentar respirar livre. Senti ele sair, porém a falta de luz não permitia eu ver a cena.
— O que está fazendo acordada à essa hora?— Indagou em forma de repreensão enquanto eu me levantava e ajustava a toalha. Ainda bem que está escuro, estou praticamente nua.
— Eu que te pergunto.— Retruquei mostrando sua hiprocrisia.— Acordei agora porque passei o dia inteiro de cama.— Expliquei como se desse para prever isso com a falta da minha presença, mas pelo visto não sou tão significante.
— Vai pro seu quarto.— Ordenou ignorando o que eu tinha dito.
— Era o que eu estava tentando fazer.— Contei sorrindo de modo sarcástico, apesar dele não conseguir ver. Louis bufou e pude escutar uma mão apalpar a parede.
— Não acende a...— Iniciei o pedido prevendo sua ação. Infelizmente não foi depressa o suficiente para impedi-lo. A luz acendeu revelando a figura de Louis vestido de pijama, diferente de mim. Desviei o olhar morrendo de vergonha, porém vi de relance meu corpo sendo avaliado. Não faço ideia de quanto tempo aquilo durou... Posteriormente, o garoto entrou em seu quarto batendo a porta com força. Logo escutei o barulho de algo ser jogado contra a parede lá dentro.
Ok... Ele surtou de vez.— Maluco.— Sussurrei entrando no outro cômodo confusa. Respirei fundo tentando esquecer o que diabos tinha acontecido segundos antes.
Vesti uma blusa de manga curta e uma calça jeans justa, planejando ser a roupa de ir pra escola. Tive que esperar amanhecer, então escutei todas as músicas da Kate Bush. Era a única coisa interessante que eu podia fazer enquanto o tempo passava, além de me distrair de pensamentos ruins, mesmo não contribuindo muito com a dor de cabeça.
Assim que deu seis da manhã, chamei Louis para irmos. Ele está estranho. Não que ele já não fosse, mas hoje está mais do que o normal. Tipo, não o vi olhar na minha direção sequer uma única vez. O mesmo me odeia, eu sei. Apesar disso, Louis nunca teve esse desprezo em me encarar.
— Abaixa!— Mandei poupando meus ouvidos daquela poluição sonora, causada pela música de rock que o garoto colocou num volume alto no carro. Será que ele tem amnésia e não lembra da enxaqueca horrível que estou tendo desde ontem? Porque não é possível.
— O que? Não escutei.— Disse sonso prestando atenção na rua ao aumentar o som ainda mais.
— Nem doente sou respeitada.— Reclamei fitando o vidro da janela. Havíamos acabado de entrar no estacionamento da instituição estudantil. Louis persistiu me ignorando e estacionou o veículo.
— Vai ter troco.— Garanti saindo com a mochila nas costas. Não trouxe meu skate hoje, eu iria acabar caindo se subisse nele. Mal estou conseguindo equilíbrio pra ficar em pé, quem dirá andar manobrando rodinhas.
Andei pelo pátio o deixando para trás e entrei na escola percorrendo o mesmo caminho dos outros dias. No momento em que entrei na sala de aula fiz questão de sentar na primeira cadeira que encontrei vaga, logo me curvando sobre a banca.
— S/n?— Escutei a voz de quem eu já esperava vir me infernizar. Levantei a cabeça desanimada e vi Dustin com uma feição preocupada.
— Oi.— Falei seca por conta da dor. Tá, assumo que estaria agindo assim de qualquer maneira.
— Está tudo bem? Você faltou ontem.— Relembrou como se soubesse que havia alguma coisa errada comigo.
— Sim, só tive uma crise de enxaqueca.— Falei fazendo pouco caso. Claro que vou omitir a parte que estou tendo pesadelos perturbadores, desenhando relógios sem querer, adquirindo hematomas súbitos no nariz e escutando vozes. Não estou a fim de ser internada numa clínica psiquiátrica.
— Ah, que pena. Espero que você esteja melhor.— Desejou gentil. Percebi que os outros três garotos encaravam nossa conversa de longe, bando de desocupados.
— Era só isso?— Perguntei querendo me livrar do diálogo.
— Na verdade também vim te perguntar outra coisa.— Contou decepcionando a mim.
— E o que seria?— Indaguei esperando que ele falasse de uma vez e fosse embora.
— Amanhã Steve, um amigo nosso, vai jogar na equipe de basquete. A escola inteira vai assistir depois da aula. Queríamos saber se você quer assistir com a gente.— Sugeriu criando expectativa. Calma... Eles são amigos de Steve? Daquele Steve? Por essa eu não esperava. Equipe de basquete... Louis provavelmente vai jogar nesse jogo, imagina a merda que daria se ele me visse torcendo pelo seu time adversário com os esquisitos, ainda mais sendo o time de Steve.
— Não sei, não gosto muito desse tipo de jogo.— Menti inventando uma desculpa. O professor entrou na sala bem quando eu falei isso. Glória, nunca gostei tanto do início de uma aula.
— Eu prometo que vai ser legal. Pensa direitinho e depois me fala.— Dustin assegurou sem desistir. Assenti enquanto o via voltar pro seu lugar.
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𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦
Hayran KurguS/n Lennox havia acabado de se mudar para Hawkins com sua família, tal qual era composta por sua mãe, seu padrasto e seu irmão postiço insuportável. Louis Partridge era um rapaz frustrado pela separação dos pais, então costumava descontar sua raiva...