Morrer... A morte não era algo muito relevante pra mim até meus oito anos. Apenas quando Clarice morreu que tive o desprazer de realmente entender essa etapa trágica e inevitável da vida. Uma etapa que sempre temi, mesmo que no fundo desejasse.
Já vi a morte passar bem na minha frente, jamais esquecerei a imagem das chamas consumindo o bendito ônibus. Eu ter saído viva não anula o fato de que uma parte de mim morreu naquele dia.
Minha irmã, minha outra metade.Descobrir que tenho grandes chances de morrer me assusta, ainda mais sabendo se tratar de uma morte certamente torturante e dolorosa. Desde pequena imaginei o que Clarice sentiu antes de tudo simplesmente acabar, e pode ter certeza que pensamentos assim estragam a mente de uma criança.
Tentei não demonstrar fraqueza perto dos meninos, mas por motivos óbvios não consegui esconder meu real estado de pânico. Um silêncio atormentador se instaurou na sala, sendo quebrado somente quando o walkie talk de Dustin emitiu aquela mesma voz de momentos atrás.
— Não vai dar pra irmos aí, nos encontramos na casa dos Wheeler.— Comunicou falando de maneira arrastada.— É uma emergência.— Avisou em forma de justificativa pela alteração do plano inicial de se encontrem na escola.
— Emergência? Estamos em apuros aqui!— Dustin retrucou intercalando seu olhar entre eu e o aparelho. Steve o repreendeu a partir de gestos, aparentando ter curiosidade em saber qual seria o motivo da emergência.— O que aconteceu?— Questionou por influência do amigo.
— É sobre o Mike e a...— Interrompeu a si, provavelmente incerta se deveria falar a próxima palavra, que de certo era o nome de alguém. Pelo artigo, uma garota.
— É quem eu tô pensando?— Indagou arregalando os olhos desacreditado, logo recebendo um "aham" como resposta. Os outros dois também pareceram sacar de quem se tratava.— Chegamos em dez minutos.— Afirmou decidido ao desligar o walkie talk.— É melhor irmos.— Opinou nos olhando agitado. Will e Steve concordaram de imediato, porém eu me via perdida por não ter conhecimento do contexto.
— Tem como vocês me situarem, por favor?— Pedi utilizando uma intonação de deboche, apesar do meu olhar desesperado entregar que eu não estava de boas com aquela situação e necessitava de respostas.— É o mínimo.— Ressaltei os assistindo guardarem alguns objetos dentro da mochila de Dustin, incluindo o relatório da Chrissy. Ver a pasta me fez lembrar de que eu havia deixado meu relatório jogado por aí, além do de Louis é claro. Aproveitei esse instante para analisar a sala à procura das duas pastas, que por sorte estavam num lugar bem visível, literalmente sob o birô da Senhora Kelly. Não fiz questão de ser discreta ao pegar ambas.
— A gente te explica no caminho.— Dustin garantiu planejando me apressar para acompanhá-los. Acabei indo impulsivamente, afinal ficar sozinha não era uma alternativa muito segura pra alguém que corre o risco de ser possuída por uma versão 2.0 do capeta. Corremos durante o percurso dos corredores até o estacionamento, então chegamos no carro num curto período de tempo.
— Será que agora dá pra me situarem?— Retomei o assunto pondo o cinto enquanto Steve dava partida no veículo. Dustin e Will nem tiveram a prudência de se protegerem também. Eles certamente não vão pra escola todos os dias no carro de um motorista doido e imprudente, isso explicaria não terem as mesmas paranóias que eu.
— É coisa do Mike.— Dustin respondeu sem detalhar o conflito do cenário.
— Porra, isso eu já sei.— Retruquei ficando impaciente com aquela enrolação toda.— Quem é a tal garota? Vai, desembucha.— Insisti mandando de forma severa, contudo os três continuaram calados.— Qual é? Ela é um demagorgon?—Ironizei mencionado o monstro para justificar o receio deles falarem sobre ela.
— O contrário disso.— Will murmurou para si, contudo escutei e o encarei esperando ele fosse mais específico.— A El é a maga.— Falou me deixando confusa. El? Deve ser apelido pra... Sei lá, Elena?
— Tá mais pra super-heroína.— Dustin corrigiu sentado ao lado de Steve no banco da frente. Franzi o cenho agravando minha confusão.— Ela tem poderes.— Revelou direto. Loucura? Sim, mas nessa altura do campeonato não duvido mais de nada.— Achávamos que ela tinha morrido ano passado, mas pelo visto não.— Contou supondo quase certo.
— Por que já presume que ela esteja viva?— Falei questionando sua conclusão.— A garota do walkie talk mal citou ela.— Afirmei achando incoerente.
— Como eu disse: Achávamos.— Enfatizou iniciando uma explicação.— Eleven desapareceu depois do que aconteceu no "incêndio" do shopping. Se tem uma emergência envolvendo ela e o Mike... É, dá pra presumir.— Esclareceu sendo sarcástico na última frase. Eleven? Que tipo de mãe dá nome de número pra filha? Esquisito.
— O que o Mike tem haver com ela?— Perguntei curiosa em ligar os pontos.
— Eles tiveram um lance.— Disse me surpreendendo. Alguém quis ficar com aquele cara de sapo arrogante? Caramba, tem gosto pra tudo. Terminei não prolongando a conversa, até porque a vida amorosa do Mike está longe de ser algo que desperta meu interesse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦
FanfictionS/n Lennox havia acabado de se mudar para Hawkins com sua família, tal qual era composta por sua mãe, seu padrasto e seu irmão postiço insuportável. Louis Partridge era um rapaz frustrado pela separação dos pais, então costumava descontar sua raiva...