Threats

1.4K 144 54
                                    

A noite havia se passado, já era de manhã, o início de outro dia. Por incrível que pareça ontem mamãe não questionou sobre o meu cabelo, ela nem sequer percebeu que ele estava molhado, seu estado de nervos a privou de pensar em qualquer coisa a não ser o problema de sempre, Elliot.

Chegou ao ponto de eu precisar intervir com palavras de consolo. Eu nunca tinha visto minha mãe daquele jeito, a mesma não parava de chorar, então preferi dormir no lugar do desgraçado para não deixá-la sozinha. Pelo menos isso me manteve longe de Louis, ficar com ele em casa não acabaria bem.

A noite foi longa, ela me contou cada detalhe, desde a desconfiança de traição até o desejo de se separar. Está óbvio que Elliot é um canalha, tê-lo longe de nós seria um livramento. Lembrar do que ele fez com a mãe de Louis me gera um pânico de pensar que pode acontecer algo parecido. Só que tem Louis... Se eles se separarem ele terá que ir embora com Elliot, o que seria horrível pelo fato dele odiar o pai. Além de que... Eu não quero que ele vá.

Pensar nisso me deixou inquieta ao ponto de não conseguir dormir, fora a orquestra de choro vindo do travesseiro de mamãe durante a noite inteira. "Acordei" quase pulando da cama, mais um minuto ali e eu surtaria. Me arrumei sem a mínima vontade, porém era necessário cumprir a carga horária da escola.

— Ela tá bem?— Louis perguntou assim que eu cheguei na sala pronta para irmos. Obviamente ele percebeu a situação de ontem, contudo não deve saber o motivo em si.

— Na medida do possível.— Respondi evitando falar sobre o assunto ao pôr a mochila nas costas.

— Foi por causa dele, não foi?—Supôs certeiro. O encarei sem precisar confirmar verbalmente, meu olhar dizia por si só.— Ela deveria dar um pé na bunda desse merda.— Opinou despejando seu típico e compreensível ódio por Elliot.

— E ela vai.— Murmurei atravessando a porta enquanto ele me seguia. Não consegui dizer olhando em seus olhos, logo preferi fingir naturalidade andando até o carro. Entramos no veículo e ambos ficamos estáticos, sem haver falas ou ações, Louis mesmo simplesmente não dava partida.— Sabe o que isso significa?— Perguntei o acordando de seus pensamentos. O mesmo inclinou sua face para mim, ele estava sério. Não aquele sério com segundas intenções, apenas... Sério.

— Sei.— Assentiu finalmente movendo o veículo. Apoiei minha cabeça no encosto do banco e tentei me acostumar com o clima tenso, mas acabei tomando uma atitude impulsiva para tentar amenizar.

— Você não vai ser mais meu irmão.— Afirmei querendo indicar um lado positivo. Louis olhou na minha cara como se eu fosse uma otária. Imagino o que ele esteja pensando.— Postiço.— Acrescentei minimizando o parentesco antes dele reagir.

— É, eu não vou ser mais nada seu.— Concluiu seco ignorando minha tentativa de melhorar as coisas. Pior que é verdade, ele na Califórnia e eu aqui... Nos reduz a nada. Elliot não terá mais algo que o prenda em Hawkins, viemos pelo trabalho da minha mãe.

— Não era isso que você queria?— Perguntei atraindo sua atenção.— Não ser meu irmão, não ficar preso nessa cidade de merda...— Listei o principal sem me prolongar.

— De merda e assombrada.— Adicionou outro defeito se inclinando um pouco para o vidro com intuito de julgar a vista com repugnância.

— Então o que te prende aqui?— Indaguei devido seu nítido estado de descontentamento. Eu sabia que era por causa do Elliot, mas no fundo eu queria que ele desse outro motivo.

— Só uma coisa.— Revelou oscilando o olhar entre mim e a direção. Senti uma onda de nervosismo me consumir, uma sensação que prendia meu estômago de uma forma que eu não sei definir se era boa ou ruim.

— Vê, você vai fazer dezoito anos e tem vários amigos na Califórnia.— Iniciei cortando o clima.— Pode tentar se livrar do Elliot lá.— Sugeri supondo ser a solução de seu conflito principal. Louis fez uma feição de puro desgosto.

— Ainda tem isso.— Reclamou como se estivesse lembrando desse detalhe apenas agora. Espera, ele não estava falando do Elliot? Era sobre... Enfim, prefiro não me precipitar pensando nisso. Paramos de dialogar e em instantes havíamos chegado na escola. Esperei Louis desligar o carro para sair após estacionar.

— Te vejo de...— Fui me despedindo antes de ser deixada falando sozinha. Tal atitude me desapontou, porém tento compreender seu lado e evitar estresse. Segui o caminho de sempre até os corredores, onde avistei meu armário e o abri para guardar os livros que não seriam relevantes nas primeiras aulas.

— S/n?— Escutei uma voz feminina se dirigir a mim de surpresa.— Me disseram que você é irmã do Louis.— Repassou fazendo que eu ficasse diante dela e a reconhecesse, era a Heather.

— Sim.— Confirmei adicionando mentalmente um "por enquanto". Fiquei confusa sobre o porquê dessa conversa do nada. Ok que seu interesse por Louis é nítido, mas não creio que eu poderia agregar em algum aspecto na visão de alguém como ela.

— Vocês se dão muito bem, né?— Alegou de uma forma estranha, causando um certo receio em mim.

— Na verdade não.— Neguei continuando na tentativa de entender o propósito daquilo. Heather se aproximou da porta do armário discretamente.

— Engraçado, não foi o que pareceu lá no beco do clube.— Ironizou revelando ter nos visto. Merda, isso não pode estar acontecendo.— Olha, só um conselho.— Introduziu persistindo no tom de ironia.— Acho que você não quer que a escola inteira descubra que seu irmãozinho te come nas horas vagas.— Disse soando ameaçadora.— Seria um escândalo.— Presumiu fingindo se importar.— Talvez seja melhor abrir espaço para que ele tenha uma relação de verdade.— Sugeriu claramente com interesse próprio.— Algo menos incestuoso, sabe?— Provocou demonstrando repulsa.

— Isso é uma ameaça?— Questionei ainda assimilando o que havia acabado de ouvir.

— Interprete como quiser.— Intimidou seguindo seu rumo pelo corredor. Quando você acha que não tem como piorar...

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora