Phone call

2.1K 231 29
                                    

Eu e Louis voltamos para casa em silêncio durante o trajeto. Foi desconfortável por haver um clima estranho entre nós, mas pelo menos não discutimos, com certeza isso seria bem pior.

Ao chegarmos em casa fomos abordados pela minha mãe, que ficou desesperada quando viu o machucado de Louis. Obviamente ela quis saber o motivo daquilo, então dei a mesma explicação que dei pra enfermeira da escola. O garoto confirmou minha versão, logo mamãe acreditou.

Meu passatempo desse fim de tarde estava sendo assistir televisão. Fiz pipoca e peguei o resto de coca-cola que tinha na geladeira. A princípio aquilo me agradou, porém o momento de paz foi interrompido.

— Sai, folgado! — Adverti Louis, que pegava o balde de pipoca para si enquanto sentava do meu lado no sofá. Recuperei o recipiente com grosseria, mas não adiantou muito, já que ele encheu sua mão de pipoca. Não sobrou quase nada nessa merda!

— Sério, Karatê Kid?— Disse julgando ao fitar a televisão. — Me dá esse controle.— Pediu planejando mudar de canal.

— Nem vem, eu cheguei primeiro.— Afirmei agarrando o controle antes que ele pegasse. Louis revirou os olhos e se posicionou novamente. A cena que passava era Johnny e Daniel lutando.

— Não vai me dizer que você é mais uma das tietes desse garoto.— Falou se referindo ao personagem principal. Ralph Macchio, ator que interpreta Daniel, é o garoto mais desejado da atualidade. Ele tem uma legião de fãs.

— Claro que não!— Neguei de imediato.— O Johnny é bem melhor.— Murmurei dando um riso reprimido. Louis fechou a cara e me encarou com desprezo.

— Eu escutei.— Avisou colocando vários grãos de pipoca na boca.

— Era pra escutar mesmo.— Falei num tom desafiador.— Sabe como é, né? Loiros sempre são os melhores.— Provoquei sorrindo de forma maléfica.

— Digo o mesmo sobre as loiras.— Disse devolvendo na mesma moeda. Foi impossível não lembrar daquela menina que ele... Enfim. Franzi os olhos falsamente e voltei a prestar atenção no filme, porém continuei sentindo o olhar de Louis sobre mim, o que fez eu olhá-lo de relance.

— Já fez a compressa?— Perguntei após lembrar desse detalhe quando vi seu olho vermelho. É uma surpresa não ter ficado roxo até agora.

— Sim, mãe.— Confirmou ironizando de maneira grosseira ao me chamar de mãe.

— Olha quem fala, você que vive dando uma de pai pra cima de mim.— Constatei ficando irritada com seu cinismo.

— Quando eu fiz isso?— Questionou como se eu tivesse falado algo muito nada a ver.

— Sei lá.— Falei sarcástica.— Talvez quando quis me proibir de andar com os meninos só porque você não gosta deles.— Citei uma das diversas situações.— Ou quando cismou que eu tinha tentado me matar.— Persisti utilizando sarcasmo.— Ah, não vamos esquecer de quando eu estava doente e você simplesmente me fez faltar à força.— Adicionei perdendo a paciência.— Quer mesmo que eu continue?— Indaguei franzindo o cenho ironicamente.

— Deveria me agradecer por não ter te deixado ir.— Iniciou severo.— Era capaz de desmaiar na frente da escola inteira naquele estado.— Disse supondo o pior propositalmente.

— Isso não vem ao caso.— Afirmei contendo minha raiva.— Apenas deixe de hipocrisia.— Finalizei soltando um suspiro cansado. Louis ia retrucar, entretanto o telefone da sala começou a tocar alto.

— Vai lá.— Pediu se esparramando no sofá com preguiça.

— Eu não, vai você.— Mandei ainda estressada. Louis bufou se levantando do sofá ao perceber que eu não iria de jeito nenhum. Ainda bem, não aguentava mais escutar aquele barulho irritante do cacete.

— Quem é?— Perguntou com sua delicadeza de sempre após atender a ligação.

— Ela saiu.— Comunicou seco. Prestei atenção no diálogo e presumi ser alguém do trabalho da minha mãe, mas algo me deixou intrigada... Ela está em casa. Elliot realmente saiu, contudo Louis falou um pronome feminino.

— Louis, ela está!— Alertei pensando que ele pudesse não saber disso, apesar do mesmo tê-la visto assim que chegamos.

— É, não sei que horas ela volta.— Respondeu ignorando minha fala. Foi aí que me toquei... Aquela ligação não era para mamãe, e sim para mim. Levantei do sofá agilmente, logo puxando o telefone de sua mão.

— Alô?—  Falei colocando o aparelho sobre meu ouvido ao afastá-lo de perto.

— S/n?— Escutei a voz de Dustin do outro lado da linha. Mostrei o dedo do meio para Louis após certificar o contexto.

— Sim.— Confirmei tentando não transmitir a raiva que eu estava sentindo no momento.

— Era seu irmão?— Supôs certeiro.— Acho que depois de hoje nem preciso perguntar, né?— Falou relembrando o episódio do jogo.

— Exato.— Concordei simples pois Louis ainda permanecia do meu lado em pé.

— Indo ao que interessa, vamos ter uma campanha de D and D daqui duas horas.— Contou apressado.— Lucas não poderá ir e precisamos de um substituto.— Explicou direto.

— Ok... E o que eu tenho haver com isso?— Questionei fingindo não ter entendido seu objetivo. Deus me livre jogar aquele jogo esquisito com eles.

— Você pode ser a substituta.— Propôs parecendo achar uma ótima ideia.

— Não vai dar, não tem quem me leve.— Falei como desculpa. De fato era verdade, Louis não aceitaria me deixar, fora que eu nunca pediria isso a ele.

— Podemos passar aí de bicicleta e te dar carona, sem problemas.— Sugeriu simpático ao solucionar o empecilho. Ótimo, agora estou sem saída.

— É que...— Iniciei procurando criar alguma outra forma de negar o convite.

— Perfeito, nos vemos daqui duas horas.— Terminou desligando a ligação antes da frase ser completa.

— Alô? Dustin?— Chamei escutando somente o eco da linha telefônica. O filho da puta desligou na minha cara mesmo.— Vai pra merda.— Xinguei recolocando o telefone em seu compartimento estupidamente.

— O que foi?— Louis se meteu cruzando os braços.

— Ah, vai pra merda você também.— Falei impaciente enquanto me retirava da sala dando passos pesados.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora