I want you

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Elliot havia ido embora há poucos minutos atrás, então o clima ainda estava tenso. Os machucados espalhados pelo corpo de Louis precisavam de tratamento, sendo assim mamãe pegou o kit médico e iniciou o preparo dos curativos. Ele parecia desconfortável com aquilo, não apenas pela dor, mas também por não se sentir à vontade com a madrasta, afinal eles não tinham intimidade.

— Eu cuido disso.— Me ofereci para ocupar a tarefa.— Você precisa descansar, foram muitas emoções por hoje.— Aconselhei como forma de justificar minha prestatividade.

— Não tem problema, querida.— Mamãe minimizou continuando o que fazia.— Louis precisa de mim agora.— Atestou se preocupando com o estado do mesmo, que a encarava descontente.

— Não é de você que eu preciso.— Lançou uma indireta bem direta por sinal. Engoli seco condenando mentalmente a atitude do garoto. Logo agora que tivemos a sorte de Elliot partir antes de abrir a boca, se mamãe descobrir também já era.

— Ah...— Assimilou revezando o olhar entre nós dois.— Tudo bem.— Aceitou me entregando o algodão de fininho para que eu assumisse dali em diante.— Qualquer coisa me chamem.— Alertou ainda receosa, contudo prosseguiu indo em direção ao seu quarto. Me sentei do lado de Louis no sofá quando tive certeza de que ela havia saído. Eu queria alertá-lo sobre o perigo da sua última fala, porém minha preocupação com as feridas era maior. Comecei passando o algodão sob seu braço superficialmente.

— Seu ombro tá roxo.— Avisou enquanto eu colocava soro fisiológico para ajudar na limpeza.

— Isso é o de menos, olha pra você.— Atestei ressaltando a condição que ele se encontrava.— Tira a blusa.— Pedi planejando dar conta dos demais machucados. Meu pedido foi atendido de imediato. Me aliviei por não estar tão feio quanto eu pensa, ou melhor, não tinha nada de feio ali... Tá, parei.

— Faz uma compressa aí.— Aconselhou dando atenção ao meu ombro novamente.

— Depois eu vou, no momento a prioridade é você.— Esclareci o óbvio focada nele, que me encarava com uma certa intensidade. Não aguentei muito tempo sem encará-lo de volta, o que fez crescer dentro de mim a vontade de falar algo.— Fico feliz que tenha ficado.— Assumi envergonhada, portanto retomei a tarefa tentando disfarçar.

— É, eu também.— Revelou sustentando o olhar, apesar de eu não estar mais retribuindo. O silêncio dominou o ambiente, permitindo que surgisse uma reflexão desagradável em minha mente.

— Só tenho medo de uma coisa...— Expus aflita.— Acha que ele pode contar pra minha mãe?— Supus temendo o pior.— Sei lá, ligar pra ela.— Dei um exemplo mais possível, até porque acredito que Elliot vá demorar para conseguir olhar na cara dela depois do papelão que passou.

— Não sei.— Disse simples.— Mas não faz muita diferença, ela já deve saber.— Concluiu conformado, suspeitando ser de grande probabilidade.

— Como assim?— Questionei ficando espantada.— Nem ele sabia.— Reforcei extremamente confusa.

— Sabia sim.— Retrucou direto.— Desconfiava pelo menos.— Afirmou sendo mais específico.— Chegou até a brigar comigo.— Expôs para minha surpresa.— E olha que ainda nem tínhamos feito nada.— Ressaltou me intrigando, contudo uma memória veio em meus pensamentos. "Eu sou homem e entendo dessas coisas! Se eu perceber outra vez você vai se ver comigo!" Então era isso...

— O dia que eles voltaram de viajem...— Liguei os fatos falando em voz alta. Tive várias respostas numa só descoberta, agora tudo faz sentido. Eis o motivo pra ele ter ficado tão estranho comigo no dia seguinte, ou pela sua crise de raiva depois de termos trombado no corredor de madrugada.

— Aham.— Confirmou emitindo o som, que logo foi substituído por um grunhido de dor. Acabei passando o algodão com força sem querer.

— Ops.— Notei parando de pressionar.— Apesar disso, tenho quase certeza de que mamãe não sabe.— Retomei o assunto continuando apreensiva.— Ela nunca deu nenhum sinal de desconfiança.— Constatei lembrando de seu discurso sobre Louis me ver como uma irmãzinha mais nova, e por isso ter ciúmes.

— Se você acha.— Deu de ombros parecendo não ter uma opinião formada. Me mantive pensando naquilo, porém percebi o olhar triangular que vinha sendo lançado para mim. Ele encarava meus olhos, seguidamente minha boca e outra área do meu rosto que não consegui identificar.

— Eu acho que...— Murmurei perdida ao vê-lo aproximando nossas faces. Eu estava prestes a agir de maneira inconsequente, entretanto a ameaça de Heather veio à tona, assim como o medo de que minha mãe descobrisse.— Devíamos manter distância.— Completei me afastando de fato. Refiz minha postura recuperando o equilíbrio. Louis me imitou sem escolha, aparentando estar insatisfeito.— Não podemos permitir que ela descubra, ainda mais agora com você dependendo dela.— Expliquei me baseando no principal, apesar de estar omitindo outro ponto importante, o risco de todos descobrirem.

— Você ainda não entendeu que eu dependo de você?— Questionou enfatizando o último "você".— Se eu estou aqui é por sua causa.— Confessou direto.— Porque eu quero ficar com a única pessoa que faz eu me sentir em casa, que mesmo eu sendo um merda, sem querer acabou me ensinando a amar.— Expressou com sinceridade. É coisa da minha cabeça ou ele acabou de dizer que me ama?— Eu tô pouco me fudendo se sua mãe sabe ou não, eu só quero ter você, nem que eu precise fugir pra conseguir isso.— Declarou decididamente, transmitindo tanta certeza que me cambaleou. Minha vontade era de retribuir cada palavra, se eu pudesse...

— Louis... Não é tão simples assim.— Iniciei contida.— Eu queria de verdade, mas minha mãe também precisa de mim.— Justifiquei mostrando os dois lados.— Ela não merece outra desilusão depois de todo esse transtorno da separação.— Argumentei esclarecendo as circunstâncias. Não havia mais troca de olhares entre nós, ficamos curvados diante do chão. Eu até sairia dali, mas eu ainda precisava tratar as feridas.— Vamos com calma, ok?— Tentei amenizar para voltar aos cuidados, já Louis permaneceu calado, preferindo não dividir seus pensamentos.

Por que queremos justo o que não podemos ter?

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora