Few hours left

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Acordei sentindo uma leve falta de ar, aparentemente minha cara estava sendo abafada por um travesseiro. Abri os olhos e me dei conta de que não era um travesseiro, era Louis. Não sei como diabos isso foi acontecer, mas estávamos dormindo abraçados.

Me afastei devagar tentando não fazê-lo acordar, contudo seus braços me puxaram para perto novamente, como se ele houvesse realizado o ato de forma inconsciente ainda adormecido.

Eu preciso sair, meu coração está acelerado e meu corpo parece elétrico. Calma aí, não fiquei assim por causa dele, só estou... Sufocada, é isso.

Ok, se ele não quer colaborar vai ser do jeito bruto. Empurrei seus braços e me levantei ágil. Louis acabou acordando, então quando me virei ele já estava sentado coçando os olhos.

— Aonde você vai?— Perguntou com a voz rouca. Seus cabelos estavam bagunçados e seu rosto expressava sonolência.

— Lugar nenhum.— Afirmei simples.— Não posso mais acordar?— Indaguei revirando os olhos ao tirar o walkie talkie de Dustin de dentro do meu bolso.

— O que é isso?— Questionou olhando o objeto com uma certa desconfiança. Pus o aparelho no canto da cabeceira da cama e fingi naturalidade.

— Um walkie talkie.— Contei me arrependendo amargamente de não ter tido cuidado em escondê-lo.

— E você fala com quem por ele?— Perguntou ficando mais esperto, alternando o olhar entre eu e a cabeceira.

— Não te interessa.— Respondi irritada, não só pela intromissão do garoto, mas também porque lembrei do motivo daquilo estar comigo. É hoje.

Se estou perguntando é porque interessa.—Argumentou de modo nada delicado pra variar.

— Olha minha cara de quem tá interessada em você se interessar.— Orientei adaptando uma repetição da palavra com sarcasmo. Louis me fitou insatisfeito, portanto esticou seu braço para alcançar o item.— Não pega, idiota!— Mandei conseguindo pegar antes dele.— Você não cansa de se intrometer onde não é chamado?— Perguntei bufando aborrecida.

— Pelo que eu me lembre você me chamou.— Disse dando uma intonação irônica, desviando o foco principal da discussão ao mencionar ontem.

— Sério?— Indaguei sarcástica.— Não me lembro de quando eu te chamei pra mostrar isso.— Debochei erguendo o walkie talkie provocativa.— Enfim, preciso ir no banheiro.— Avisei usando como desculpa para fugir do assunto. Comecei a sair do quarto rumo ao banheiro, e então ouvi passos vindo atrás de mim. Ou seja, Louis deveria estar me seguindo.

Me virei pronta para avistar a figura do garoto, porém meus olhos encontram apenas o relógio de pêndulo velho no meio do corredor.

— Louis?— O chamei tensa por ainda estar ouvindo passos. A princípio não obtive resposta, contudo instantes depois uma voz se pronunciou, e definitivamente não era a de Louis.

— Seu irmãozinho de fachada não pode te escutar.— A voz soou no ambiente sem revelar a face do dono. Fitei minha mão e percebi que o walkie talkie havia desaparecido.

— Quem está aí?— Questionei apesar de ter quase certeza de quem se tratava.— Vecna?— Apostei citando o nome com receio.

— É assim que me chamam, não é? Mas eu já tive outros nomes.— Contou mantendo um ar de mistério.

— Louis!— Exclamei entrando em desespero. Minhas mãos suavam frio enquanto uma névoa consumia o ambiente, deixando o clima sombrio e intimidador. Percebi meus batimentos cardíacos se acelerando pelo nervosismo. Eu temia que o pior acontecesse.

— Ele não vai te ajudar.— Garantiu convicto.— Por que ele te ajudaria?— Indagou em tom de ridicularização.— Ele te odeia.— Afirmou enfático como se quisesse me atingir de alguma forma.— Que pena, não? Já que seu sentimento por ele é justamente o oposto.— Lamentou fingindo se importar.

— O ódio é mútuo.— Corrigi sua conclusão precipitada.

Interessante...— Murmurou como se estivesse refletindo.— Você consegue mentir até para si mesma.— Alegou categórico.— Eu entendo, é mais fácil se esconder do que enfrentar a verdade, a rejeição.— Falou dando ênfase a última palavra.— Foi isso que você sentiu em relação ao seu pai, afinal ele te abandonou.— Introduziu uma lembrança traumática.

— Eu sei o que você está fazendo.— Comuniquei tentando me manter firme.— Não vou cair no seu joguinho.— Assegurei mostrando segurança.

Qual jogo?— Perguntou sonso.— Discutir a realidade?— Insistiu brincando comigo.— Sabe, S/n, vou ser sincero com você. Sua irmã teria se dado melhor.— Constatou tocando no meu ponto fraco.— Louis a preferiria.— Assumiu arrastando mais a voz.

Pouco me importa o que ele prefere.— Afirmei persistindo em não me deixar abalar.

É mesmo?— Duvidou objetivo.— Deve ser cansativo fingir todos os dias.— Opinou encenando empatia.— Agir como se não desejasse o próprio irmão.— Arriscou atiçando minha ira. Meus ouvidos estão sangrando, pelo menos não literalmente.

— Como ousa dizer um absurdo desses?— O enfrentei por impulso, sentindo meu corpo inteiro tremer de pânico.— Pare de mentir, filho da mãe!— Ordenei adicionando um xingamento.

Minha mãe está morta.— Afirmou direto.— Eu a matei.— Revelou sem demonstrar remorso.— E você será a próxima.— Ameaçou despreocupado.— Mas calma, ainda faltam algumas horas.— Tranquilizou sarcástico. De repente acordei no mesmo corredor, só que sem névoa ou aquela voz assustadora.

— S/n!— Louis me chamava enquanto mexia meus ombros.— Porra, que merda foi essa?— Perguntou aliviado vendo que eu tinha voltado ao normal. Respirei fundo e senti minhas mãos geladas coladas nas suas. O walkie talkie estava jogado no chão.

— Eu... Vou morrer.— Sussurrei absorvendo o fato. Louis arregalou os olhos como se eu tivesse falado um tremendo absurdo.

— Ãn?— Indagou estranhando, provavelmente acreditando que eu estava delirando. Desencostei nossas mãos e entrei no meu quarto trancando a porta antes dele entrar junto.— S/n, abre essa desgraça!— Mandou a batendo forte do lado de fora. Ignorei as batidas me encolhendo no pé da cama, chorando de soluçar.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora