Aquele foi o intervalo mais longo da minha vida. Tive que voltar para a mesa dos esquisitos e lanchar com eles. As conversas até pareciam codificadas em uma linguagem nerd, tanto que nem conseguir entender a maioria das palavras. Certamente era algo sobre aquele tal jogo.
O restante das aulas também durou por um longo período, mas finalmente fomos liberados daquela prisão de menores. Fui ao estacionamento encontrar Louis e ir embora o mais rápido possível. Quer dizer, não tão rápido... Tipo, sem matar ninguém atropelado de preferência.
Cheguei na área externa e me deparei com meu irmão postiço escorado em seu carro, provavelmente me esperando. Ainda bem, não estava com paciência para esperá-lo mesmo.
— Vai sair da frente ou quer que eu vá dirigindo?— Perguntei vendo que Louis não havia parado de se escorar na porta do banco ao lado do motorista, vulgo lugar onde eu sempre sento.
— Ok, me dá a chave. É impossível dirigir pior que você de qualquer maneira.— Falei provocativa após ele ignorar minha pergunta e permanecer imóvel. O garoto apenas fitava minha camiseta do club.
— Por que está andando com aqueles esquisitos?— Questionou fingindo não ter escutado minhas falas anteriores. Ah, não. De novo não.
— Sério? Você vai ficar implicando com qualquer pessoa que eu chegar perto?— Indaguei impaciente ao colocar meu skate no chão.
— O que mais posso fazer? Você só escolhe estar perto de merdinhas.— Retrucou achando estar completamente certo. De onde ele tirou que pode opinar na minha vida? Não entendo essa obsessão que ele tem em julgar todas as pessoas, ou melhor, garotos que andam comigo.
— E o que isso muda pra você? Nem me considera como irmã. Por que se importa?— Questionei a coisa que mais martela na minha cabeça. E não é de agora, desde a Califórnia ele age assim. Louis ficou me encarando em silêncio durante alguns segundos.
— Você é burra mesmo ou se faz de sonsa?— Perguntou voltando a postura irritada. Sua fala me intrigou ainda mais.
— Como assim?— Falei apenas isso sem entender.
— Infelizmente você sempre vai ser associada a mim, mesmo que eu não queira.— Contou como se fosse óbvio.
— Mas ninguém aqui sabe que somos... Enfim, que nossos... Que seu pai e a minha mãe são casados.— Relembrei me corrigindo para não aumentar a ira dele.
— Eu te levo pra escola todos os dias, pirralha. Se não descobriram é questão de tempo.— Disse persistindo num tom de clareza. É... Não posso discordar, isso é indiscutivelmente verdade. Inclusive fiz merda por ter falado para Steve, talvez ele possa espalhar a informação.
— A gente pode só ir embora? Se ficarmos muito tempo aqui, aí sim vão descobrir.— Sugeri exausta daquela situação criada pelo garoto.
— Vai mesmo chegar em casa com essa camisa satânica?— Perguntou voltando a fitar minha roupa. Realmente, mamãe faria um escândalo se me visse usando isso. Revirei os olhos e puxei a camiseta, porém percebi que a blusa debaixo estava subindo junto. Abaixei as duas e olhei para Louis envergonhada, até porque ele havia visto mais do que devia.
— Pode segurar pra eu tirar?— Pedi me referindo a blusa que ficava por baixo. O mesmo engoliu seco e segurou a bainha azul marinho com relutância. Puxei a camiseta tendo um pouco de dificuldade em desgrudar ambas, contudo tentei ser rápida para me livrar logo do contato. Retirei grosseiramente quando chegou no meu pescoço, o que fez meu cabelo se bagunçar. Tive que levantar ainda mais os braços para as mangas saírem. Finalmente tirei por completo, então encarei Louis, que persistia em segurar a bainha, mesmo não sendo mais necessário. Seu olhar não estava focado na minha face, na verdade não compreendi para onde ele estava olhando exatamente.
— Já pode soltar.— Alertei o fazendo acordar de um provável transe. Louis contornou o carro voltando a sua postura agressiva de sempre. Me abaixei para pegar o skate e entrei no carro em seguida.
— O que você viu naqueles nerds? Por que não vai fazer amizade com as garotas da sua sala?— Retornou ao assunto após dar partida no veículo. Eu gosto de estar com os esquisitos? Não. Mas Louis não tem o direito de se meter assim na minha vida.
— Porque nenhuma garota veio falar comigo.— Respondi sendo sincera. Eu sou do tipo que só fala com alguém desconhecido se a pessoa iniciar a conversa e aparentar querer estar perto de mim. Estou com os meninos por isso, além de terem me vencido no cansaço. Na real, prefiro ficar sozinha.
— Deveria tentar ser mais feminina.— Aconselhou de forma provocativa. Deus me livre ficar expondo meu corpo com roupas curtas e deixar de usar meu skate.
— Não vou mudar quem eu sou para agradar os outros, muito menos patricinhas metidas.— Afirmei sem parecer ofendida.
— Pois trate de se adequar, porque eu que não vou ser visto como irmão de uma esquisita.— Disse engrossando a voz.
— E você acha que eu quero ser vista como irmã de um babaca como você? A vida não é tão fácil, Louis.— Devolvi a grosseria sendo sarcástica. Escutei ele dar um suspiro longo, logo acelerando o carro.
— Vai fazer aquela palhaçada de novo? Quer saber, manda ver. Quem está mais a fim de morrer agora sou eu.— Instiguei desejando ser irônica, mas no fundo aquilo foi sério. Louis parou de acelerar e pude sentir que ele me encarava, enquanto eu olhava para outra direção na intenção de evitá-lo. O caminho restante foi um silêncio mortal.
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𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦
FanfictionS/n Lennox havia acabado de se mudar para Hawkins com sua família, tal qual era composta por sua mãe, seu padrasto e seu irmão postiço insuportável. Louis Partridge era um rapaz frustrado pela separação dos pais, então costumava descontar sua raiva...