First day

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Me despedir da Califórnia tinha sido mais difícil do que eu pensava. Não é como se eu estivesse deixando vários amigos para trás, porém mesmo assim senti uma enorme sensação de perda. Morei lá desde os meus dez anos, que foi quando minha mãe se casou com Elliot Partridge, meu atual padrasto.

No começo era apenas nós três, mas dois anos depois o filho do Elliot precisou vir morar com a gente. A partir daí minha vida começou a virar um inferno. Louis Partridge é o próprio demônio em forma de gente, nunca conheci alguém tão narcisista, controlador e estúpido quanto ele. Meu "maninho" vive escutando músicas de rock no último volume dentro do quarto, além de levar garotas que gritam como gazelas. Brigamos constantemente, até porque é quase impossível não reclamar das merdas que ele faz.

Pra piorar terei que ir para a escola com ele todos os dias. O idiota acabou de tirar a carteira de habilitação e já ganhou um carro, por isso nossos pais querem que a gente vá juntos. Juro, eu prefiro ir de skate do que dividir o mesmo espaço que ele todas as manhãs. Infelizmente não tenho essa opção, mamãe nunca me permitiria ir sozinha. Ela só deixava na Califórnia pois éramos literalmente vizinhos da escola.

Nesse exato momento estou dentro do carro do marginal, imaginando como será meu primeiro dia de aula. Chegamos ontem em Hawkins, mal tive tempo de conhecer a cidade, se bem que nem deve existir muita coisa para conhecer, a cidade é um ovo. A única coisa que visitei foi um fliperama no centro.

— Pode parar de acelerar? Nós já chegamos.— Falei achando irritante o barulho alto do motor, parecia que ele queria chamar atenção. Louis retirou o cigarro da boca e soprou a fumaça na minha cara propositalmente. Abanei o ar com a mão.

— Eu sou o mais velho aqui, eu faço as regras.— Disse piscando o olho de um jeito provocativo. Revirei os olhos como resposta. Eu tenho quinze e ele tem dezessete. Dois anos são o suficiente para fazer ele se achar o próprio adulto, sendo que eu claramente tenho mais maturidade.

— A partir daqui não nos conhecemos, entendido?— Falou ao estacionar o carro. Abri a porta e pus meu skate no chão.

— E por acaso eu te conheço?— Perguntei sarcástica saindo do veículo, logo me colocando encima do skate e andando sem me despedir. Percebi que os olhares de algumas garotas agora estavam concentrados em alguém, que obviamente não era eu.

— Quem é aquele?— Escutei uma menina perguntar surpresa. Me virei lentamente para ter certeza de quem elas falavam, em instantes meu olhar se encontrou com o de Louis. Claro, tinha que ser.

— Não tenho ideia.— Outra disse num tom malicioso. Quebrei nosso contato visual e voltei ao caminho até os interiores da escola. Entrei no ambiente e avistei o corredor de armários.

— É proibido andar de skate pelos corredores, mocinha.— Um funcionário da escola falou me barrando. Saí da superfície do objeto e o coloquei debaixo do braço.

— Isso fica comigo.— Mandou estendendo sua mão para pegar. Bufei insatisfeita e entreguei de modo grosseiro.

— Sabe onde fica a sala do primeiro ano?— Indaguei pedindo informação.

— S/n Lennox?— Presumiu ágil. Esqueci que cidade pequena só recebe dois novatos por ano. Assenti dando um sorriso falso.

— Me acompanhe.— Comunicou se preparando para atravessar os corredores. Segui o homem, que virou à esquerda e logo abriu a porta da primeira sala que havia naquele corredor. Merda, a aula já tinha começado.

— Deve ser a aula nova.— O professor supôs interrompendo a explicação do conteúdo.

— Sim, é toda sua.— O funcionário que me levou disse se retirando da sala. Continuei andando para achar um lugar.

— Espere, não vai se livrar tão fácil.— O professor falou interrompendo minha caminhada rumo aos fundos.

— Venha, não seja tímida.— Pediu brincalhão. Retornei e parei do seu lado desanimada.

— Dustin, rufe os tambores.— Solicitou a um garoto de boné sentado na primeira banca de sua fila. O mesmo virou o caderno e começou a bater nele de um jeito esquisito. Era só o que me faltava.

— Turma, deem as boas-vindas, da ensolarada Califórnia, a última passageira a entrar na nossa viajem da curiosidade, S/n.— Disse meu nome apontando os braços em minha direção. Escutei uns garotos da frente sussurrarem de modo surpreso.

— Ok, todos abordo. Pode se sentar, S/n.— Permitiu em seguida. Não esperei nem um segundo completo para andar até a cadeira mais longe possível. Sentei na última banca vaga e encarei a janela ao lado. Senti que estava sendo observada e dei de cara com os quatro garotos esquisitos da frente virados me encarando.

Será que eles não vão parar? É vergonhoso.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora