A manhã chegou ao fim, assim como as aulas, porém aquela dúvida perdurou como eu havia previsto. Entreguei o papel assinado pela minha mãe na coordenação. Mesmo que eu ainda não soubesse se iria seguir a dica de Robin, era necessário para que Senhora Kelly não ficasse no meu pé.
Nem fiz questão de almoçar, fui direto para onde disseram ser a detenção, vai que tivesse alguma vantagem por chegar mais cedo. Adentrei no ambiente, uma sala compacta com várias cadeiras, contudo todas estavam desocupadas por enquanto. Me sentei na última do canto e fiquei esperando alguém aparecer, o fiscal talvez.
Dez minutos depois a porta foi aberta de maneira desleixada, revelando o ser mais desprezível da escola. Não, eu não estou falando de Louis, digo isso de Jason. Quando nossos olhares se encontraram senti um ódio instantâneo, porém a feição do garoto expressava algo nada similar, ele tinha medo. Me pergunto o porquê dele estar aqui. Não que seja surpreendente, esse daí só faz merda.
— Boa tarde.— Fingi educação com intuito de provocá-lo. Jason ignorou se sentando o mais distante de mim possível.— O que é? Não tá com sua arma agora?— Perguntei em tom de ameaça.
— Me deixa em paz.— Mandou quase sussurrando, mas foi o suficiente para ser ouvido, já que eu quis me levantar com objetivo de peitá-lo. Parei do seu lado rindo ironicamente.
— Te deixar em paz?— Repeti em forma de questionamento.— Tem certeza de que fui eu quem começou perturbando a sua vida?—Questionei franzindo o cenho debochando, logo fingindo reflexão após pôr o dedo indicador sob meu queixo.
— Se você pensar bem...— Murmurou dando a entender que eu estava envolvida no colapso de sua vida, na morte da Chrissy. Me preparei para rebater indignada, porém fui interrompida por outro estúpido entrando no espaço sem modos.
— Ué, só dois?— Um homem de farda, tal qual havia acabado de entrar, duvidou como se estivesse estranhando ter apenas dois alunos na sala.— Pelo visto deram uma aquieta nessa semana.—Concluiu de maneira descontraída. Aposto que é o fiscal dorminhoco.
— Ainda está cedo, talvez estejam atrasados.— Presumi fingindo naturalidade enquanto voltava a me sentar no mesmo lugar de antes, assim evitando uma discussão com Jason na frente do cara.
— É o que veremos.— Disse se sentando no birô de dar aula.— De qual ano vocês são?— Indagou manuseando os papéis que haviam ali, certamente atividades para fazermos durante a tortu-... Digo, detenção.
— Primeiro.— Respondi revelando ser iniciante nessa merda que chamam de High School.— Aquele lá é do último, apesar de não parecer.— Contei me referindo a Jason, que me lançou um previsível olhar de desprezo. Retribuí mostrando o dedo do meio de uma maneira que só ele visse.
— Estão esperando o que?— Lançou a pergunta em forma de reclamação.— Venham pegar as tarefas.— Notificou as regendo com impaciência. Revirei os olhos e me levantei atravessando a sala rumo ao babaca mais velho, em seguida pegando o bloco de folhas grampeadas. Quem organizou isso não estava com um pingo de boa vontade, por milímetros o grampo não ficou para fora.
— Tem que fazer tudo?— Questionei percebendo o tamanho extenso. Agora Jason também pegava o seu, que obviamente era diferente por não estarmos no mesmo ano.
— Claro, é o castigo.— Confirmou como se fosse óbvio.— Não sei o motivo que te levou a estar aqui, mocinha, mas se está é porque tem algum.—Debochou ratificando que eu teria que pagar pelos meus atos. Esse é o fiscal que dorme? Agora ele parece esperto até demais.
— Obrigada pelo esclarecimento, Senhor... Chaves.— Li seu nome no crachá com uma certa ironia. Caminhei retornando até o meu lugar no fundo da sala e abri a mochila para achar uma caneta que eu deixei solta lá dentro. Encontrei com facilidade, iniciando as questões sem mais delongas.
— Ei!— Escutei um gritinho vindo de fora da sala. Inclinei meu rosto desviando minha atenção, adiante avistando Robin através do vidro da porta. Ela fazia um sinal de joinha como se quisesse confirmar algo, e eu sabia bem o que era.
— Que barulho é esse?— Senhor Chaves perguntou ouvindo o chamado indiscreto da garota. Fiz o joinha de volta para que ela saísse rápido. Sei que isso significa que estou topando fugir da detenção, mas a cada segundo essa ideia parece mais atrativa.
— Uma menina querendo entregar panfletos.— Inventei despistando meu envolvimento naquilo.— Ela já foi embora.— Afirmei me certificando da saída de Robin. Amém, atrás da porta não havia mais nada visível além de um corredor vazio.
—Hum.— Resmungou voltando seu foco ao jornal desinteressante que lia enquanto nos fiscalizava. Dar essa desculpa foi fácil, quero ver como eu vou enrolar nessa questão aberta sobre protozoários. Quebrei a cabeça e fui enchendo linguiça, o que perdurou diante das próximas respostas que eu não podia chutar. E antes que minha consciência venha me julgar, esses últimos dias eu estava ocupada tentando não morrer.
— A terceira questão está desbotada, não dá pra ler.— Jason avisou esperando receber uma orientação, contudo não obteve o desejado. Tinha se passado alguns minutos desde que havíamos começado, pelo visto o suficiente para um tal incompetente adormecer. Não que eu esteja reclamando, que ele durma à vontade e eu saia daqui em paz.
— Pula pra próxima, ué.— Solucionei propondo uma alternativa óbvia, sucessivamente me levantando do meu lugar de fininho. Pus a ficha sob o birô depois de percorrer todo o espaço devagar.
— O que está fazendo?— Ouvi a voz irritante de Jason se meter onde não foi chamado como sempre. Me virei com destino a porta, dessa forma precisando passar pelo intrometido de carteirinha.
— Saindo, não tá vendo?— Enfrentei em um sussurro para não acordar o fiscal. Continuei o caminho sem notar a presença de uma garrafa de água ao lado da ficha dele, então acabei esbarrando minha mão esquerda na mesma e a derrubando.— Ops, foi sem querer querendo.— Debochei vendo o estrago que eu havia causado em sua atividade. Foi satisfatório ver Jason se ferrando, apesar de ter sido acidental.
— Sua imbecil.— Xingou estendendo as folhas encharcadas. Me virei discreta para me certificar de que Senhor Chaves não tinha acordado devido à movimentação, ainda bem que essa anta dorme feito pedra. Saí da sala de vez e encontrei não só Robin, como também Nancy. Ambas estavam sentadas, certamente me esperando.
— Já tava pensando que você não vinha.— Robin assumiu se levantando com as mãos nas costas, no entanto Nancy permaneceu sentada.
— Mas eu nem demorei.— Afirmei considerando minha noção de tempo.— Não tinha ninguém lá, até o fiscal estranhou.— Contei repassando o cenário aparentemente incomum.
— Sério?— Duvidou franzindo o cenho.— Ninguém mesmo?— Insistiu interrogando sem acreditar a princípio.
— Ah, só o Jason.— Respondi tendo o desprazer de citar aquele idiota.— Resumindo, ninguém interessante.— Esclareci fazendo cara de nojo.— Enfim, vamos pro clube?— Acelerei o processo temendo que minha ausência na detenção fosse percebida antes de irmos embora.
— Jason Carver? O...— Nancy se meteu não contendo uma arregalada de olhos, entretanto sofreu uma interrupção vinda de mim.
— É, o idiota.— Confirmei apressada.— Tem como a gente focar na parte de dar o fora daqui?— Sugeri olhando a porta da sala com desconfiança, afinal continuávamos perto de onde eu acabei de sair.
— Nem trocamos de roupa ainda.— Robin relembrou apanhando uma mochila que se encontrava no chão, provavelmente guardando as roupas de banho.
— Eu que não vou andando de biquíni na rua.— Constatei prevendo meu desconforto. Não gosto de expor meu corpo... Sei que uma forma ou de outra isso vai acontecer, mas pra que prologar a vergonha?— É... Por causa do frio.— Justifiquei camuflando minha insegurança.— Podemos fazer isso no banheiro de lá quando chegarmos.— Propus a opção mais coerente.
— Verdade.— Nancy concordou me surpreendendo. Ok que realmente era melhor, mas ainda assim não deixa de ser Nancy Wheeler concordando comigo.— Vamos, logo.— Chamou se levantando para acompanhar meu ritmo. A seguir iniciamos o percurso para fora da escola, daí eu ia pensando se tomei a decisão certa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦
FanfictionS/n Lennox havia acabado de se mudar para Hawkins com sua família, tal qual era composta por sua mãe, seu padrasto e seu irmão postiço insuportável. Louis Partridge era um rapaz frustrado pela separação dos pais, então costumava descontar sua raiva...