Presumptuous

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Cerca de duas horas se passaram. Até perdi a vontade de ir pro fliperama depois daquela discussão. Além disso, assumo estar com medo de entrar num carro em que Louis seja o motorista. Eu estava realmente cogitando voltar atrás na minha ideia inicial, contudo essa saída virou um tipo de castigo para o babaca. Ele merece sofrer pelo menos um pouco.

Coloquei um moletom preto da banda Queen e uma calça jeans justa. Desci as escadas apressadamente pois escutei a buzina do carro de Louis. É capaz dele me matar se eu demorar mais um milésimo de segundo.

Avistei o veículo e entrei em seguida. O garoto permaneceu calado. Vou colocar o cinto dessa vez por precaução. Louis logo deu partida, pelo menos agora a velocidade do carro está normal.

— Esse lugar é uma merda.— Falou bufando como se estivesse falando para si.

— Não é tão ruim.— Opinei apenas com o objetivo de contrariá-lo. Hawkins realmente é bem pior do que a Califórnia. Porém, chamar de "merda" é exagero. Eu diria desagradável.

— Não?— Questionou irônico e então abriu o vidro do carro sem aviso, consequentemente tampando o nariz para não inalar o cheiro da rua.

— Sentiu esse fedor, S/a? É literalmente merda! Merda de vaca!— Afirmou num tom alto, utilizando meu apelido em forma de provocação.

— Eu não estou vendo vacas.— Falei cínica observando o vidro se fechar aos poucos.

— Porque não viu as garotas do último ano.— Disse dobrando o voltante de um jeito bruto. Voltei a observar a janela na tentativa de evitar trocar olhares com o mesmo.

— O que é? Você gosta daqui agora?— Indagou expressando deboche.

— Não.— Respondei fazendo careta.

— E por que tá defendendo?— Questionou irritado, seu cenho se franziu.

— Não estou não.— Enfatizei apoiando meu pescoço no encosto do banco.

— Mas é o que parece.— Falou inclinado o rosto para me fitar.

— É que estamos presos aqui, então...— Expliquei revirando os olhos ao lembrar desse detalhe.

— Verdade, estamos presos aqui.— Concordou dizendo as palavras com desprezo.

— E sabe de quem é a culpa?— Perguntou me encarando fixamente. Não acredito que ele vai remoer isso. Nos mudamos por conta do trabalho da minha mãe, ou seja, a culpa seria teoricamente dela. Mas vale lembrar que seu histórico de rebeldia na Califórnia influenciou bastante a decisão de Elliot.

— Sua.— Sussurrei desviando o olhar.

— O que você disse?— Perguntou parecendo ter escutado muito bem o que eu havia dito.

— Nada.— Respondi tentando fugir da ira do garoto.

— Disse que a culpa minha.— Repetiu insatisfeito.

— Eu disse mesmo.— Confirmei desistindo de negar. O carro parou naquele instante, havíamos chegado no fliperama.

— Sua sorte é que já chegamos, filha da puta.— Falou destrancando a porta e me empurrando para fora do automóvel.

— Puta é a sua mãe!— Revidei fechando a porta com força propositalmente. Louis acelerou o carro feito uma bala. Mostrei o dedo do meio enquanto via o veículo desaparecer dali.

Maravilha, a porra do skate ficou no carro.
Andei até a entrada do fliperama. Assim que entrei fui direto pro Dig Dug. Iniciei a partida agressivamente, descontando minha raiva nos botões do jogo.

— Você é incrível! Quer dizer... Você joga muito bem.— Um garoto fala me desconcentrando da tela. Aí Deus, são os espiões. Quem falou foi o de cabelo cacheado e boné, já o outro é negro e meio alto. Pelo visto estão faltando dois.

— Obrigada, sombra.— Respondi irônica retornando minha atenção ao jogo.

— Sombra?— Perguntou rindo confuso.

— Sim, vocês não são minhas sombras?— Falei em forma de deboche.

— Não, na verdade... Não estávamos perseguindo você.— O outro negou transmitindo nervosismo e dúvida.

— Não, só estávamos preocupados porque você é nova e tal.— Complementou o de cachos.

— Sim, pela sua segurança.— Concordou agilmente.

— Ah, claro.— Zombei vendo meu antigo recorde ser batido.

— Meu nome é Dustin, e o dele é Lucas.—  Se apresentou numa provável tentativa de mudar de assunto. Acho que eles estavam esperando algum tipo de saudação educada, porém continuei em silêncio.

— Então... Nós conversamos e decidimos que você pode sentar com a gente na nossa mesa do refeitório, já que você é nova na escola e não deve ter nenhum amigo por enquanto.— Dustin convidou confiante.

— Posso?— Falei sendo sarcástica ao sorrir.

— É, nosso clube é uma democracia e a maioria votou ao seu favor.— Explicou utilizando uma linguagem formal.

— Nossa, eu não sabia que era uma honra assim sentar com vocês.— Assumi ainda fingindo animação.

— Sabemos como pegar o pudim de chocolate que sempre está em falta na cantina, achamos que você ia querer.— Disse se vangloriando.

— Como vocês são presunçosos.— Constatei irônica.
Ambos aparentam não saber o significado da palavra.

— Realmente.— Dustin concordou retornando a pose convencida. Percebi que a partida do Dig Dug havia encerrado.

— Então, ãn... Você vai?— Perguntou esperançoso. Revirei os olhos e fui me retirando daquela área do fliperama.

— A gente se vê amanhã! Na hora do intervalo!— Falou num volume alto enquanto eu me afastava.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora