No final das contas meu plano da carona deu errado, depois do que Nancy disse eu me neguei a entrar no carro dela novamente, preferi voltar para casa andando. Pela lógica o percurso se alongou, mas nada que eu não aguentasse.
Atravessei alguns quarteirões chegando na minha rua. Fui me aproximando de casa e escutei um som ficando mais incidente, uma música que fazia tempos que eu não escutava e justo hoje surgiu em meus pensamentos, Suffragette City. Sim, aquela que Louis colocava para me irritar. Com certeza isso é obra dele, porém dessa vez não sou eu quem ele quer tirar do sério, visto que eu sequer estava em casa.
Abri a porta sorrateiramente e entrei pondo a sacola do filme em qualquer canto da mesa, encontrando Elliot de malas prontas. O encarei meio perplexa, afinal a rapidez da mudança foi uma surpresa. Não que eu me importe com a ausência desse idiota, o que me aflige é a possibilidade dele não ir sozinho.
Eles já vão?— Você vai embora?— Perguntei elevando meu volume de voz devido ao barulho que vinha do quarto de Louis.
— Não está vendo as malas?— Devolveu a pergunta com um mau humor esperado.— Sua mãe me expulsou.— Alegou como se a culpa fosse dela. Me segurei para não mandá-lo pra merda e foquei no que eu realmente queria saber.
— Só vai você?— Especifiquei não forçando mais minha voz. Senti receio por não ter a mínima noção do que ele acharia, ou por medo da resposta.
—Ãn?— Emitiu sem conseguir escutar. Me encorajei engolindo seco e tentei dizer de novo.
— Só...— Iniciei a repetição ainda num tom reduzido, portanto persistindo em dificultar o entendimento de Elliot, que logo se esgotou diante da poluição sonora.
— Já chega!— Exclamou indo em direção ao quarto do filho após se levantar. Era óbvio que aquilo não acabaria bem, portanto o segui para evitar que o pior acontecesse. Quando ele abriu a porta foi possível visualizar Louis sentado na cama de frente para o rádio.— Abaixa isso, moleque!— Elliot mandou impaciente, porém Louis fingiu não estar escutando. Como solução o mais velho puxou o fio da tomada, assim parando a emissão da música.— Cadê sua mala?— Perguntou notando a ausência do item furiosamente. Então ele também vai...
— Nem fiz.— Alegou com um semblante despreocupado, sem sequer olhá-lo nos olhos.
— O que?— Indagou desacreditado.— Como assim você não fez?!— Duvidou em forma de reclamação. Aquilo me aliviou, porém sei que a partir de agora o negócio vai ficar feio.
— Eu não vou.— Comunicou pouco se importando em desafiar o pai. Elliot franziu o cenho num misto de confusão e ódio.
— Acha que isso cabe a você?— Zombou transformando sua raiva em deboche.— Elizabeth me dispensou, viemos parar nessa merda de cidade por causa dela.— Contou óbvio mostrando repugnância.— Você é meu filho e vai comigo.— Afirmou lógico.
— Não, eu não vou.— Insistiu repetindo devagar, decidido em não ceder. Nesse ponto eu já estava no ápice do nervosismo.
— Desde quando gosta daqui?— Questionou sem entender.— Não lembra do showzinho que você fez para ficarmos na Califórnia?— Relembrou usando o antigo acontecimento ao seu favor.— Pronto, terá o que sempre quis.— Concluiu simplificando a situação. Louis me encarou como se quisesse me dizer alguma coisa.
— Não é sobre onde ele quer estar, e sim com quem ele quer estar.— Me meti criando coragem para intervir na discussão.— Vocês nunca se deram bem, morar apenas com você será horrível para ele.— Esclareci prevendo as consequências.— É melhor Louis ficar aqui pelo menos até minha mãe se decidir, tenho certeza de que ela não se importaria.— Propus solucionado o impasse.
— Ah, porque ele ama a madrasta.— Ironizou achando graça, até que de repente sua feição mudou. Eu e Louis trocávamos olhares, tanto que a princípio eu nem percebi que Elliot oscilava seu foco entre nós dois.— Isso não tem haver comigo, não é?— Cismou instável.— Tem haver com ela.— Acusou apontando para mim, contudo não obteve retorno de nenhuma das partes.— Seu cretino, eu sabia!— Xingou prestes a explodir.— Você comeu sua irmã!— Gritou partindo para cima do filho, que não hesitou em revidar, lhe acertando um belo murro. Tal ato desencadeou uma série de agressões entre ambos.
— Parem!— Implorei em vão enquanto eles socavam um ao outro freneticamente. Louis começou ganhando, mas depois foi perdendo feio. Eu tentava apartar, mesmo sabendo que não daria conta. Num ato de desespero me coloquei no meio da briga, sendo atingida segundos depois, em compensação consegui os separar.
— S/n.— Louis veio até mim me avaliando para ver se eu estava machucada, como se ele mesmo não estivesse bem mais. Alisei seu braço limpando o excesso do sangue concentrado na região.
— Eu tô bem.— Declarei minimizando o impacto, apesar do meu ombro estar bastante dolorido. De repente mamãe surgiu entrando no quarto com uma cara de espanto.
— O que significa isso?!— Indagou arregalando os olhos. Ainda continuávamos no chão, no entanto Elliot já havia se levantado.
— Esse maluco me atacou.— Louis alegou apontando o pai como culpado, o que de fato era verdade. Mamãe encarou Elliot com um olhar mortal, intensificando sua raiva por ele, que desde antes disso a dominava... Imagine agora.
— Dê o fora daqui e nos deixe em paz!— Determinou severamente.— Não basta ter arruinado nosso casamento, ainda veio agredir nossos filhos?— O repreendeu acrescentando outro visível erro.
— Mas eles...— Iniciou prestes a nos dedurar, todavia teve sua fala interrompida pela mesma.
— Não importa, nada lhe dá esse direito!— Asseverou sem dar brecha para que ele revelasse. Soltei um ar que eu nem notei ter segurado.
— Ele é o meu filho.— Afirmou como se tal parentesco lhe desse o passe livre para fazer o que bem entendesse.
— Você deixa de ser pai no momento em que prioriza seu ego do que o bem-estar do seu próprio filho!— Constatou dando uma lição de moral.— A verdade é que você nunca foi um pai para Louis, sempre o desprezou.— Delatou convicta.— Eu tentei suprir isso e acabei recebendo dele o desprezo que você o dava.— Expôs sentida.— Mas não o culpo, como alguém que cresceu sendo tratado dessa forma conseguiria expressar outra coisa?— Lançou compreensiva.— Você destrói tudo que está ao seu redor, por isso vai acabar sozinho.— Finalizou condenando a realidade. Orgulho de dizer que é minha mãe.
— Sozinho? A Tiffany não diria isso.— Provocou certamente por não ter mais argumentos. Então ele realmente a traiu... Imbecil.
— Pode ficar com quantas vagabundas quiser, no fundo lhe restará apenas solidão.— Assegurou o achando digno de pena.— Nunca terá o prazer de dormir com a consciência limpa.— Atestou firme.— Cada crueldade sua te assombrará pelo resto da vida.— Garantiu detalhando sua punição.— Agora saia daqui.— Decretou logo se abaixando para ver como eu e Louis estávamos.
— Sabe que enquanto de menor a guarda dele é minha, não sabe?— Alegou vacilando em ir sozinho. Não falta muito para Louis atingir a maioridade, ainda assim não deixa de ser verdade.
— Quer resolver isso num tribunal?— Sugeriu sem hesitar.— Posso apostar que eu ganho, e pra completar te dou atestado de insanidade mental com medida protetiva.— Ameaçou convencida.
— Você vai se arrepender.— Disse enfurecido ao se preparar para sair.
— Quem tem motivos para se arrepender não sou eu.— Indicou com desdém. A partir dali nos livramos do demônio chamado Elliot Partridge.
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𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦
FanfictionS/n Lennox havia acabado de se mudar para Hawkins com sua família, tal qual era composta por sua mãe, seu padrasto e seu irmão postiço insuportável. Louis Partridge era um rapaz frustrado pela separação dos pais, então costumava descontar sua raiva...