Kombi Hippie

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As vezes a perda serve como uma forma dolorosa de expor os valores mais importantes, de revelar que possuíamos algo muito valioso sem ao menos perceber, assim vindo à tona as verdades. Eu não perdi Louis Partridge naquele fim de tarde, mas ter uma bela amostra disso me fez enxergar seu real significado para mim, o valor que ele tem na minha vida.

Louis sempre me fez sentir coisas, tais quais iam me transformando num enigma indecifrável. Com o tempo fui criando ódio por aquelas sensações, por ele, afinal não era justo um idiota completo ter tanto efeito sob mim. Apesar de tudo, esses últimos dias serviram para me mostrar uma nova perspectiva, um outro lado dele que eu não conhecia. No final das contas o Vecna estava certo, eu minto até para mim mesma. E sim, era mais fácil me esconder do que enfrentar a verdade.

— Como ele veio parar aqui?— Louis perguntou vendo Jason caído no chão inconsciente.— Ele tá vivo, né?— Supôs sem demonstrar preocupação, apenas por curiosidade. Eita como são amigos.

— Infelizmente sim.— Confirmei fitando o garoto com repugnância.— Seu amiguinho tentou me matar, mas não deu muito certo como pode ver.— Relatei debochando de sua derrota.

— Ele o que?!— Lançou em tom de revolta enquanto eu me abaixava para pegar a arma próxima ao corpo.

— Isso mesmo que você ouviu.— Garanti erguendo a arma no intuito de mostrar o meio utilizado.— Tudo pra te salvar da satânica aqui.— Contei rindo irônica da tamanha burrice, no entanto Louis permanecia absorvendo a informação.

— E como você conseguiu nocauteá-lo?— Eleven se meteu franzindo o cenho desconfiada, aparentemente questionando minhas capacidades.

— Graças a essa belezinha.— Revelei levantando a seringa derrubada no chão.— Eu só...— Interrompi minha fala após escutar passos ecoando no andar debaixo, feito quando Jason apareceu. Dessa vez eram dois garotos, ambos usavam o uniforme do time de basquete sujo de sangue, como se tivessem saído de uma luta acirrada.

— O que fizeram com ele?!— Um deles indagou agoniado, já o outro se aproximava de Jason para analisar seu estado.

— O que eu deveria fazer com vocês.— Louis respondeu afrontoso.— Covardes do caralho.— Xingou visivelmente estressado.— Pensei que Jason fosse normal, mas ele não passa de um maluco psicopata.— Assumiu com agressividade, deixando os garotos sem reação, provavelmente por terem o visto como aliado.— Agora deem o fora daqui.— Ordenou pegando a arma da minha mão em prol de ameaça. Eles se entreolharam assustados, porém logo levantaram Jason para levá-lo junto.

— Babacas.— Murmurei os assistindo saírem do sótão apressadamente, apesar do peso carregado gerar dificuldade. Não posso negar que fiquei surpresa com a atitude de Louis, afinal se intrigar do time é um atentado à sua popularidade.

— Com quem será que eles brigaram?— Eleven perguntou depois dos três terem ido embora. Sua pergunta me gerou reflexão, daí lembrei do sinal na floresta.

— Deve ter sido o irmão do Will e o tal amigo dele.— Presumi por serem os únicos que tínhamos conhecimento de estarem habitando a área fora nós.

— Pizza?— Eleven disse interrogativa olhando através da janela. Franzi o cenho sem compreender, então decidi olhar na mesma direção, desse modo avistando uma Kombi Hippie amarela com o logotipo da pizzaria "Surfer boy" estacionada em frente a casa.

— Será que...— Iniciei uma suposição sobre o paradeiro dos marmanjos citados, observando o veículo com estranheza por motivos óbvios.

— Num carro de entrega?— Louis indagou sarcástico, se adiantando ao me interromper após entender qual seria minha fala. Nem sabia que ele estava olhando também.

— Mais provável do que estarem entregando pizza aqui.— Debochei mantendo distância da janela. Louis fez o mesmo parando do meu lado.

— Então vamos lá?— Eleven propôs certamente para tirarmos uma conclusão, diante disso decidi voltar a observar o lado de fora, até porque queria me certificar de que a trupe de Jason já estava longe ali. Tive o desprazer de vê-los se retirando de dentro da casa, contudo o nível de desespero dos que carregavam o babaca mor acelerava o processo.

— Deixa eu pegar a mochila.— Notifiquei me preparando para irmos. Alcancei o caderninho e a caneta os colocando no bolso frontal da bendita mochila, adiante agarrando o taco de pregos.

— Pra que serve isso?— Eleven questionou suspeita vendo meu desafio em guardar o taco de volta por conta do longo cumprimento do objeto.

— Esterilizar.— Zombei inclinando minha cabeça em direção ao buraco aberto no chão.— Infelizmente não fui em frente, pessoas como Jason não deviam poder procriar.—Lamentei finalmente conseguindo pôr o taco dentro da mochila. Avistei Louis dar uma leve arregalada de olhos enquanto eu apoiava o artefato nas costas.— E aí? Vamos ou não?— Instiguei agilizando a ida.

— Aham.— Eleven concordou como um sussurro, assim pegando sua lanterna para luminar durante o trajeto. Começamos a sair do sótão, em seguida já estávamos descendo as escadas. No meio da descida Louis tomou a mochila que eu ia levando.

— Desde quando você virou tão prestativo?— Questionei estranhando, afinal não é a primeira vez hoje que ele toma essa atitude de "cavalheirismo".

— Sempre fui.— Disse quase me fazendo rir. Ainda descíamos, então preferi não retrucar sua fala claramente mentirosa. Depois de no máximo um minuto chegamos no térreo da casa, nos encontrávamos atravessando a porta e parando em frente ao veículo inusitado.

— Jonathan?— Eleven chamou alguém, supostamente o irmão do Will. A porta da Kombi foi aberta, relevando um marmanjo de cabelo longo preto que usava um boné chamativo com óculos de sol. Estranho... Ainda mais por estar de noite.

— Argyle na verdade.— Corrigiu limpando o suor da testa. Ops... Esquece, era sangue.— Ei, brou!— Exclamou se virando para trás.— A galera tá aqui.— Avisou prático, logo foi possível visualizar o tal cara de cabelo castanho curto.

— Eleven, quanto tempo.— O mesmo cumprimentou e a garota reagiu lhe dando um abraço rápido.— E você... É a famosa S/n, certo?— Supôs me fitando ao escancarar a abertura traseira que ele havia saído.

— Famosa eu já não sei.— Afirmei sorrindo sem mostrar os dentes de maneira falsa. No momento posterior o percebi notando Louis.— Ah, e esse é o Louis, meu...— Interrompi a apresentação travando na hora de citar o parentesco. É bizarro chamá-lo de irmão depois de nós... Enfim, deu pra entender.

— Rolinho?— Argyle supôs malicioso após reparar minha dúvida em nos denominar. Nem tive coragem de encarar Louis ao escutar aquilo, somente virei a cara pronta para negar de convincentemente.

— Ele é meu irmão.— Afirmei excluindo outra possibilidade. Senti Louis me fuzilar com o olhar, agravando minha inquietude.— Postiço.— Adicionei pois agora Eleven também me olhava. Vamos dizer que ela presenciou mais do que devia.— Irmão postiço.— Esclareci repetindo de maneira forçada. Ok, isso não foi nenhum pouco convincente.

— Já é.— Argyle disse risonho, como se estivesse zoando a situação. Meu desconforto era nítido, tanto que Jonathan viu necessidade em se impor.

— Não liga, ele tá meio chapado.— Informou tentando amenizar a tensão do ambiente, o que não funcionou muito, afinal todos ficaram calados.— Então... A gente pode deixar vocês em casa.— Ofereceu cortando o silêncio desagradável.

— Pode ser.— Aceitei entrando na Kombi sem cerimônia, fugindo de uma extensão do diálogo. Louis e Eleven entraram seguidamente, tornando minha atitude imediatista menos constrangedora. A partir dali eu só queria entender o rumo que minha vida estava tomando.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora