Go alone

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Não prestei atenção em nenhuma aula como de costume, mas tive bons motivos, o que surpreendentemente também não é uma novidade. Correr o risco de descobrirem sobre eu e Louis me gera um pânico, todos pensam que somos irmãos, a maioria nem sabe que não temos um parentesco real. Infelizmente a idiota da Heather está certa, seria um escândalo.

Fora que acabaria chegando nos ouvidos de mamãe e Elliot... Pronto, aí era o circo completo. Eu não podia sonhar em continuar ficando com Louis, ou sequer entrar no carro dele. Vai que aquela doida abre a boca por nos ver saindo juntos, apesar de morarmos na mesma casa.

Passei o intervalo com Robin e Nancy, já tramando usá-las como ponte para não precisar voltar com Louis. Inventei uma história de que queria muito alugar um filme em alguma locadora, assim pedindo para que elas me acompanhassem. Com essa desculpa eu teria como receber carona. As aulas terminaram e agora será o momento de colocar meu plano em prática.

— Bom que eu aproveito e devolvo Picardias Estudantis.— Robin disse erguendo uma fita, unindo o útil ao agradável. Nancy permaneceu neutra, dando a entender que não lhe faria diferença.

— Da última vez você devolveu pausado em 53 minutos e 5 segundos.— Steve surgiu entrando na conversa sorrateiramente.— Sabe quem faz isso?— Indagou engenhoso.— Gente que gosta de peitinho.— Respondeu sua própria pergunta sorrindo. Calma aí, ele está querendo dizer que a Robin... Ah, isso explica muita coisa.

— Arg, não fala peitinho.— A mesma o repreendeu fazendo careta. Não o vejo desde a última aparição do Vecna... Eu deveria falar sobre o ocorrido ou simplesmente fingir que nada aconteceu? É, acho que vou ficar com a última opção.

— Como você sabe o tempo exato?— Perguntei estranhando o tanto que ele foi específico, além de ser uma maneira de manter o assunto e não retornar ao fatídico final de semana passado.

— Ele trabalha na locadora.— Nancy informou expondo de onde vem a fonte de conhecimento do garoto.

— Ou só é tarado mesmo.— Robin acrescentou mais um opção o julgando para descontar.

— Qual é? Não é segredo que eu gosto de peitinho.— Assumiu sem receio em me olhar, seguidamente oscilando para Robin, que também me olhava.— O ponto é, você gosta de peitinho!— Exclamou em tom de zoação. Franzi o cenho em dúvida, até que Steve mudou de expressão de repente. Me questionei se minha cara havia ficado tão feia ao ponto de assustá-lo, porém logo notei a presença de Louis.

— A conversa tá boa pelo visto.— Se meteu lançando um olhar mortal para Steve.— Mas temos que ir.— Avisou se dirigindo a mim. Avaliei o ambiente com receio de Heather estar ali, mas por sorte ela não estava. Adiante percebi que minha preocupação tinha me atrasado em reagir.

— Eu vou pra locadora com eles, pode ir sozinho.— Mandei tentando parecer segura de si, contudo não vou mentir dizendo que seu olhar de decepção não me afetou. De qualquer forma teria que ser assim, uma hora ele terá que ir sem mim, seja apenas voltando para casa depois da escola ou partindo para o outro lado do país. Eu e Louis não nascemos para ficarmos juntos, em todos os sentidos.

— Tá.— Assentiu seco se virando a caminho do estacionamento. Fiquei em estado de transe o vendo sair, o que motivou Steve a me acordar de meus pensamentos.

— Tudo bem?— Perguntou atraindo minha atenção. Continuei meio voada, entretanto me forcei a responder, mesmo que não fosse uma resposta sincera. As meninas encaravam uma à outra como se estivessem mantendo alguma comunicação pelo olhar.

— Aham.— Confirmei mentindo descaradamente, tanto que notaram e o clima ficou pesado.— Você vai também?— Questionei me referindo a Steve, planejando desviar o foco do meu drama.

— Eu trabalho lá.— Steve relembrou mostrando ser uma ida óbvia.— Podem vir comigo se quiserem.— Ofereceu erguendo a chave de seu carro.

— É que eu vou ter que voltar pra casa no meio do seu expediente.— Fui me precavendo.— Se formos no carro da Nancy elas podem me deixar depois.— Expliquei levando em consideração que caso o contrário eu voltaria a pé.

— Verdade.— Concordou entendendo as circunstâncias.— Então a gente se vê lá.— Concluiu em forma de despedida, sem demora saindo que nem Louis. Me virei para as duas espectadoras, que continuavam se olhando feito uma dupla de fofoqueiras.

— Vamos ou não?— Acelerei nossa ida querendo interromper a sessão de julgamento. Ambas assentiram e seguimos rumo à rua, já que não avistamos o carro da Nancy no estacionamento.— Por que você deixou o carro fora?— Indaguei curiosa. Nancy ficou sem graça e Robin riu maliciosa, provavelmente sacando o motivo.

— Foi o Jonathan, não foi?— Presumiu ainda agindo com malícia. O próximo riso de Nancy serviu de confirmação.— Safadinha.— Brincou satisfeita diante de seu acerto.

— Espera, o maconheiro?— Relacionei desacreditada, afinal Nancy é a última pessoa que eu imaginaria tendo um rolo com aquele tipo de cara. Se bem o Steve não passa muito longe disso.— Quer dizer... O irmão do Will?— Troquei a referência para suavizar a ofensa, antes eu havia perguntado sem pensar.

— O próprio.— Robin respondeu no lugar da amiga, que agora demonstrava um pequeno desconforto.

— Não é nada sério.— Nancy afirmou em defesa.— Talvez eu só esteja usando ele pra superar o Steve.— Confessou duvidosa, porém acho que ela apenas não está aceitando seus sentimentos. Posso estar errada, mas garanto que tenho uma propriedade no assunto.

— Que nada, você gosta dele de verdade.— Robin retrucou segura.— Dá pra ver pelo jeito que vocês se olham.— Opinou utilizando como argumento.— É fácil perceber quando duas pessoas se gostam, mesmo que pareça errado...— Evidenciou me fitando ao pausar sua fala, no entanto retomando após notar minha face intrigada.— Por ele ser drogado e tals.— Completou se explicando por ter usado o termo "errado".

— Deveria o orientar sobre isso, aquela kombi cheira a entorpecentes desconhecidos até pela ciência.— Aconselhei golfando só de lembrar o cheiro tenebroso. Paramos de andar por chegarmos na frente do carro, que logo foi destrancado por Nancy. Entrei no banco de trás tendo meu comentário ignorado.

— Qual filme você vai alugar mesmo?— Nancy questionou mudando a pauta da conversa para focar no objetivo principal, ou simplesmente fugir de um fato, que seu quase namorado precisa se internar numa clínica de reabilitação.

— Ah... Labirinto.— Falei o primeiro filme que veio na minha cabeça, provavelmente pelo lançamento ter sido um dos mais comentados desse ano.— Aquele da magia do tempo.— Especifiquei para passar mais credibilidade.

— O do David Bowie?— Robin reconheceu facilmente.— Mas lançou há pouco tempo, nem deve ter na locadora ainda.— Avisou me pegando no pulo da mentira, qualquer pessoa sabe que um filme que mal saiu do cinema não chega nas vitrines tão rápido assim.

— Eita, não tinha pensado nisso.— Afirmei fingindo surpresa, apesar de realmente não ter me ligado na hora de mentir.— Terá que ser outro então.— Minimizei priorizando a ida, o que saiu um pouco contraditório por anteriormente ter ficado claro que meu plano era alugar um filme específico que eu queria muito ver.

— Eu te ajudo a escolher.— Robin propôs prestativa.— Já trabalhei nessa locadora também, tenho boas indicações.— Contou como prova de certificar sua especialidade no tema.

— Valeu.— Agradeci aliviada pela minha contradição não ter sido questionada. Nancy deu partida no carro e iniciamos o trajeto. Espero que isso tudo não demore. Não que eu queira voltar pra casa de vez, muito menos ver um certo alguém.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora