The bathroom girl

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Louis ficou na enfermaria sob cuidados enquanto eu fui ao banheiro. Não consegui permanecer naquele recinto por muito tempo. O que aquela mulher disse me deixou confusa, apesar de eu saber que ela estava completamente enganada.

Nesse momento estou virada para o lado oposto das pias do banheiro, afinal ali haviam espelhos. Peguei o analgésico que guardei no bolso da calça e engoli sem água mesmo. Minha mãe me deu uma cartela antes de eu ir pra escola.

Senti minha cabeça doer, então pressionei a região e acabei me virando inconscientemente. Abri os olhos de maneira lenta, logo vendo o reflexo do espelho. Clarice. Era ela que eu via, não a mim. Costumo imaginar como seria se eu que tivesse morrido.

Acordei daquela reflexão após escutar um som alto de tosse, vindo de uma das cabines do banheiro.

— Tá tudo bem aí?— Questionei prevendo que a pessoa poderia estar passando mal. Me aproximei do curto corredor de cabines e o silêncio pairou sobre o ambiente.

— Sim... Eu... Estou bem.— Uma voz feminina respondeu depois de um tempo, porém ouvi o barulho de algo líquido cair na privada. Ela deve estar vomitando.

— Tem certeza?— Insisti com preocupação, até porque aquilo era claramente mentira.

— Apenas vá embora, por favor.— Pediu devagar transmitindo fraqueza. Ignorei o solicitado e bati na porta da cabine que concluí ser a que a garota se encontrava. Não posso deixá-la desse jeito.

— Está surda? Eu mandei ir embora!— Falou de maneira alta e rígida ao dar descarga. Me afastei da porta instintivamente com sua mudança de humor.

— Mãe?— Escutei sua voz soar meio assustada. A coitada pirou de vez. Do nada ela gritou como se tivesse visto um fantasma. As luzes do banheiro começaram a piscar, me lembrando do que aconteceu lá em casa poucos dias atrás.

— Abre a porta!— Implorei batendo na superfície. Os gritos de desespero da garota estavam me deixando nervosa e assustada.

— Saia daqui!— Gritou chorosa repetindo essa frase várias vezes. Quanto mais ela gritava, mais as luzes piscavam.

— Abre a droga da porta!— Falei perdendo minha paciência. Segundos seguintes a fiação elétrica voltou ao normal e os gritos foram contidos. Consigo escutar a respiração pesada dela através da porta, que logo foi aberta, revelando uma líder de torcida ruiva. Chrissy se não me engano, a namorada do Jason.

— O que aconteceu?— Perguntei a fitando apreensiva. A garota aparentava estar perdida, circulando seu olhar pelo banheiro com estranheza e medo.

— Você também viu?— Questionou me encarando apavorada.

— Vi o que?— Indaguei intrigada.— As luzes?— Supus lembrando dos últimos instantes.

— Não só isso... A-aquela coisa.— Disse gaguejando pelo nervosismo.

— Coisa?— Repeti sem entender. Chrissy engoliu seco ao perceber que estava falando algo incoerente.

— E-eu... Preciso ir.— Afirmou se abaixando para pegar sua mochila no chão, logo saindo do banheiro às pressas.

— Credo.— Falei comigo mesma. Já basta de coisas estranhas na minha vida, tudo começou após nos mudarmos para essa cidadezinha. Saí daquele banheiro medonho e fui percorrendo o corredor até chegar na enfermaria novamente. Cheguei em menos de um minuto, afinal ambas localidades eram bem próximas.

— Terá que fazer compressa de novo quando chegar em casa.— A enfermeira orientava Louis enquanto eu atravessava a porta.— Não esqueça, é importante para a cicatrização.— Explicou ratificando a necessidade.

— Eu o lembrarei quando chegarmos.— Garanti me intrometendo na conversa.

— Você vai para a casa dele?— Presumiu nos encarando com desconfiança. Assenti querendo poupar os detalhes. Louis estava focado em mim desde que entrei na sala.— Os pais de vocês estão cientes disso?— Questionou num tom de julgamento. Calma, será que ela tá achando que... Não! Não pode ser isso.

— Sim.— Respondi persistindo em omitir a informação principal. Eu não queria falar que ele é meu irmão, ainda mais na frente dele. Contudo, o olhar cismado da mulher me fez precisar dizer.— Somos irmãos.— Contei me concentrando na face da mesma para não ver a reação de Louis. Ela arregalou os olhos, mas rapidamente tentou disfarçar a feição de surpresa.

— Ah, claro.— Falou recompondo sua postura.— Está liberado.— Comunicou ao garoto, que saiu de maneira ágil do ambiente. O idiota nem pra me esperar.

— É... Me desculpe pelo que eu disse.— A mulher iniciou vendo que estávamos a sós.— Interpretei errado.— Esclareceu envergonhada.— Eu deveria ter percebido, vocês até que são parecidos.— Se condenou batendo levemente na própria cabeça. Acho que vou começar a distribuir óculos por aí, a gente é muito diferente. Não é porque nós dois somos brancos de cabelos castanhos e olhos escuros que somos parecidos. Se for assim eu me pareço com mais da metade da população mundial.

— Tudo bem.— A tranquilizei gentil. Ela deve estar com peso na consciência pensando que somos irmãos de verdade.

— É... Seu irmão é muito ciumento, viu?— Brincou querendo deixar o clima mais leve.— O meu mal ligava pra mim.— Contou rindo sem mostrar os dentes.— Mas tem uns irmãos que são mais superprotetores mesmo.— Constatou tirando uma conclusão.

— Não é isso. Ele só estava com raiva por causa do jogo.— Expliquei ao tentar convencê-la. Sei que em parte ele realmente estava irritado com a minha interação com Steve, porém aquilo não era "ciúmes", e sim seu ego ferido pela jogada final e sua irmã postiça estar confraternizando com o inimigo.

— Ué, o time dele não ganhou?— Indagou demostrando dúvida.

— Sim.— Confirmei o óbvio. — Mas enfim...— Murmurei sem saber exatamente o que falar.— Louis e Steve não se dão muito bem.— Completei dando um breve contexto da situação.

— Entendo.— Disse compreensiva. Observei o local perdida em meus pensamentos, entretanto lembrei que Louis já tinha ido e voltaríamos juntos pra casa.

— Então... Eu vou indo.— Comuniquei me preparando para sair.— Tchau, obrigada pela ajuda.— Agradeci desejando parecer simpática.

— De nada, querida.— Retribuiu educada ao me ver saindo da enfermaria.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora