Therapist's house

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S/n, S/n, S/n...
Era o que soava insistentemente na minha cabeça, uma voz grossa e temível. Escutar esse chamado acabou me atraindo de forma inconsciente para perto do relógio de pêndulo do corredor. É difícil expressar a sensação em palavras, contudo cada badalada daquele maquinário me deixa aflita e ansiosa. Os ponteiros contam cada segundo até chegar ao fim, ao meu fim.

Eu simplesmente perdi a capacidade de controlar meus próprios pensamentos. Memórias ruins e percepções pessimistas me invadiram tão profundamente que tomei atitude de procurar a única pessoa que poderia me ajudar de alguma maneira, Senhora Kelly.

Liguei pra escola perguntando o endereço da terapeuta e obtive após explicar tratar-se de uma emergência psicológica. A princípio achei que não atenderiam por hoje ser sábado, mas pelo visto a área administrativa da escola permanece aberta durante os finais de semana.

A posição se inverteu, agora sou eu que estou do lado de fora da casa de alguém apertando a campainha com insistência.

— S/n?— Kelly disse surpresa ao abrir a porta e me encontrar presente ali.

— Oi...— Falei envergonhada.— Desculpa atrapalhar seu final de semana, mas... Podemos conversar?— Sugeri com receio de estar sendo inconveniente.

— Podemos, claro.— Aceitou de imediato, porém parecia um pouco intrigada com a visita repentina. Fui adentrando nos interiores da casa cuidadosamente até Senhora Kelly indicar para que eu me sentasse no sofá, logo se posicionando em frente a mim.

— Aconteceu de novo.— Revelei transparecendo angústia no meu rosto.

— O que exatamente?— Indagou incerta.— Você e Louis brigaram outra vez ou foram as vozes?— Supôs duas alternativas baseadas na última sessão de terapia.

— Os dois.— Afirmei meio retraída.— Eu cansei, sabe? Cansei de absolutamente tudo.— Assumi massageando o topo da minha cabeça sem delicadeza.— Por incrível que pareça, esse lance de escutar vozes não é o que mais me aflige.— Falei com sinceridade.— E sim ele. Louis me trata como se eu fosse uma maluca pirada e implica com qualquer garoto chega perto de mim.— Contei bufando ao demonstrar exaustão.

— Você entende o porquê dele agir assim?—Questionou parecendo querer que eu tirasse uma conclusão sobre aquilo.

— Ele preza muito pela sua imagem de "fodão popular" e não quer que sua suposta irmã seja vista andando com esquisitos.— Repassei a explicação que Louis havia me dado.

— Acredita que seja apenas isso?— Insistiu como se desejasse me dizer algo indiretamente.

— Sim, né?— Respondi de maneira óbvia.— O que mais poderia ser?— Fiz uma pergunta retórica. Senhora Kelly me fitou dando um longo suspiro.— Isso nem é o pior.— Retomei meu desabafo.— Hoje Louis teve a cara de pau de contar pros nossos pais sobre eu ter saído com os meninos do Hellfire.— Falei sentindo indignação só de lembrar.

— Hellfire?— Repetiu aparentemente assimilando o nome citado.

— O clube do Eddie, vulgo suspeito assassino da Chrissy.— Especifiquei a fazendo erguer suas sobrancelhas surpreendida.— Fui para um tipo de campanha nerd com eles ontem e Louis surtou pra variar.— Contei ironizando no fim da frase.

— Mas nesse caso era perigoso mesmo.— Opinou estranhando minha aparente despreocupação com ter estado tão perto de um criminoso.

— Eu sei, mas o ponto é que ele não sabia disso.— Foquei objetiva.— Louis apenas não queria que eu fosse e criou um transtorno desnecessário, aí depois usou a notícia de hoje pra sair como o certo da história.— Detalhei para melhorar o entendimento da situação.

— E seus pais? Como eles reagiram?— Perguntou pegando um bloquinho de papel que estava próximo de seu assento.

— Mal, né.— Respondi simples.— Minha mãe ficou desesperada e Elliot encarou com sua frieza típica.— Contei em decepção.— Quando é comigo ele sempre se controla mais, já com o filho... Perde a sanidade.— Falei ressaltando a relação conturbada de Elliot e Louis.— Ainda não tivemos uma conversa séria sobre isso, eles só presenciaram eu e aquele marginal quase nos matando.— Esclareci fazendo cara de nojo. Kelly se preparou para dizer algo receosa, porém foi cortada pela campainha da casa tocando novamente.

— Um segundo.— Avisou se levantando a caminho da porta. Eu deveria ter ficado esperando, entretanto minha curiosidade de descobrir quem se encontrava do lado de fora falou mais alto. Me aproximei da janela da sala e abri uma fresta da cortina, possibilitando observar parte da rua. Havia um carro estacionado, mas o que me intrigou não foi isso, e sim as duas pessoas que estavam dentro dele, Dustin e Steve.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora