Huge anger

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Fui atender a porta e me deparei apenas com a figura da minha mãe. Eu sabia que ela e Elliot não estavam juntos, até porque ela disse na ligação que pensava que ele estivesse conosco, mas supus que eles pudessem ter se encontrado para voltarem juntos, já que estava anoitecendo e nenhum dos dois havia voltado ainda.

— Lar doce lar.— A mais velha recitou suspirando cansada.— Preciso esticar as pernas.— Decidiu sentando no sofá para tirar seu salto.

— Deve ter sido cansativo.— Deduzi tentando parecer compreensiva.

— Demais.— Confirmou terminando de ficar descalça.— Elliot já chegou?— Perguntou massageando seu pé esquerdo após se alongar.

— Não, até agora nada.— Afirmei assistindo sua face mudar de cansada para apreensiva.

— E Louis?— Alterou o sujeito como se quisesse interromper seus próprios pensamentos.

— Ele está no quarto com a El... Jane.— Contei me atrapalhando com os nomes.

— Ele trouxe uma garota?— Questionou fazendo uma expressão perplexa. Isso porque ela não sabe do histórico de Louis, afinal ele só traz garotas pra casa quando eles saem.

— Não, é uma amiga minha da escola.— Neguei de imediato para excluir logo essa possibilidade de sua mente.— Eu chamei ela pra cá.— Avisei adiantada.— Os pais dela também viajaram, achei que seria legal a gente fazer companhia uma à outra.— Expliquei evitando levar algum tipo de reclamação.

— Que ótimo, querida.— Comemorou para meu alívio.— Não sabia que você tinha feito amigas fora aqueles...— Interrompeu sua própria fala perdendo a animação ao lembrar deles.— Eu tinha até esquecido desse detalhe.— Constatou retomando a feição de cansaço.— Precisamos ter uma conversa séria sobre aqueles garotos.— Afirmou determinada.— Faremos isso assim que Elliot chegar.— Avisou aparentemente decidida. Estava bom demais pra ser verdade, óbvio que ela não ia deixar aquilo passar batido.

— Tudo bem.— Aceitei percebendo que contrariá-la seria pior.

— Mas se ela é sua amiga... Por que ela está com Louis no quarto?— Questionou raciocinado ao retomar o assunto anterior.

— Ah...— Murmurei refletindo no que responder.— É que ele tá meio mal.— Revelei sabendo que não daria para esconder o estado decadente de Louis, além de que não vinha outra desculpa na minha cabeça para eles estarem juntos.

— O que?— Falou assustada.— O que aconteceu?— Indagou claramente preocupada. Às vezes parece que ela se preocupa mais com ele do que comigo.

— Ele se machucou jogando basquete.— Inventei acreditando que poderia ser convincente.

— Meu Deus.— Clamou lamentando o corrido.— O esporte tem que ser moderado, tudo em excesso faz mal.— Orientou como se estivesse dizendo a ele.

— Pois é.— Concordei fingindo a existência da situação.

— Eu tenho que vê-lo.— Concluiu entrando nos corredores, indo em direção ao quarto de Louis.

— Ele tá no meu quarto.— Avisei antes dela entrar no quarto errado, então ela me encarou confusa.— Achei mais cômodo deixar ele lá, já que eu teria que cuidar dele.— Falei sendo sincera pela primeira vez durante a conversa.

— Hum.— Sussurrou relaxando a face de preocupação.— Vocês dizem se odiar, mas sempre cuidam um do outro quando é preciso.— Comentou rindo de lado enquanto continuava a caminhada, não me dando abertura para retrucar.

— S/a?— Ouvi Louis dizer meu apelido de forma desorientada ao entrarmos no quarto.

— Aí está você.— Mamãe disse avistando Louis deitado na cama.— Como se sente, querido?— Perguntou sentando na beirada do colchão.

— Meio merda.— Assumiu sem limitar o linguajar.

— Como você se machucou?— Indagou se aproximando mais do garoto. Persisti em ficar em pé ao lado de Eleven, de quem minha mãe aparentemente não notou a presença, ou só não ligou.

— O babaca do Harrington...— Começou a contar em tom de xingamento, mas logo foi interrompido por mim.

— É o garoto que esbarrou nele no jogo.— Completei para não estragar a mentira que eu havia inventado.— Louis acabou caindo e batendo com a cabeça.— Interliguei com o que realmente aconteceu.

— Tem meninos que jogam pra machucar mesmo.— Mamãe opinou em puro desgosto.

— Verdade.— Admiti encarando Louis de maneira cínica.

— Vou buscar um analgésico, ok?— Avisou se levantando cautelosa, dando de cara com Eleven.— Ah, eu nem lhe cumprimentei, Jane.— Lembrou abraçando a mesma, que ficou constrangida.— Estou muito feliz de S/n ter feito uma amiga na escola nova.— Celebrou finalizando o abraço e a garota apenas sorriu sem vontade tímida.

— Sim, somos muito amigas.— Confirmei rindo de modo extremamente forçado, influenciando Eleven a agir igual.

— Bom, vou lá pegar.— Anunciou retomando a ida atrás do analgésico, deixando nós três no quarto.

— Jogo?— Louis repetiu ainda desajuizado, não compreendendo minha colocação no instante anterior.

— Queria que eu dissesse o que?— Questionei impaciente.— Que você foi lançado na parede por telecinese?— Sugeri irônica o real acontecido.

— Fala baixo, ela pode escutar.— Eleven aconselhou fitando o corredor precavida.

— Dai-me paciência.— Bufei irritada.— É que ele já é insuportável por natureza, aí desse jeito fica impossível.— Expus me revoltando. Uma raiva enorme dele estava me consumindo, e eu mal sei o porquê de tudo isso.

— Mas o que eu fiz?— Perguntou fazendo cara de cachorro abandonado. O que ele fez? De fato ele vive me tirando do sério, mas não consigo explicar o motivo de eu estar estourando agora por um mero comentário, mesmo sabendo que ele está fora de si.

— Nasceu.— Respondi curta e grossa.

— Não fala assim comigo, era pra você estar cuidando de mim.— Mandou persistindo na babaquice de se fazer de vítima.

— Pede pra Eleven.— Propus me retirando do quarto às pressas, desejando me livrar dele, contudo minha atitude me fez trombar com mamãe no corredor.

— Que estresse é esse, S/n?— Estranhou a feição de raiva estampada no meu rosto.— O que houve?— Indagou esperando entender a causa daquilo.

— Nada.— Afirmei evitando explicar algo que nem eu mesma estou entendendo.

— Tem haver com sua irmã?— Supôs quase hesitando.— Você realmente foi no cemitério hoje?— Perguntou parecendo estar aflita em imaginar a situação.

— Fui sim, mas não tem haver com isso.— Relatei negando sua suposição.— Na verdade não tem haver com nada, eu estou bem.— Garanti tentando omitir sobre eu estar mal com alguma coisa.

— Tem certeza?— Insistiu não muito convencida.

— Sim, mãe.— Enfatizei o "sim", contendo minha impaciência.

— Tá certo.— Aceitou direta, apesar de sua face ainda demostrar desconfiança. Em seguida ela voltou a andar em direção ao meu quarto.— Vou dar o remédio pra ele, você não vem?— Questionou se virando quando percebeu que eu continuei parada.

— Não, pode ir.— Permiti cruzando os braços e escorando meu corpo na parede do corredor. Mamãe retornou enquanto eu encarava o tenebroso relógio de pêndulo que havia ali. Fiquei brisando nele por um tempo, porém "acordei" após escutar a campainha tocando novamente.

— Deixa que eu atendo.— Mamãe apareceu saindo do quarto afobada, como se visse uma necessidade extrema de receber quem estivesse na porta.
Deve ser Elliot.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora