𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦

Look at me

As três últimas aulas após o intervalo passaram num piscar de olhos. Literalmente, eu dormi durante todas elas. Fui a primeira a sair da sala para evitar os esquisitos e ir embora o mais rápido possível. Caminhei pelo corredor dando passos apressados, porém tive que parar no meu armário. Abri a mochila com o objetivo de retirar os livros e deixá-los guardados ali.

— Oi, sumida.— Ouvi uma voz conhecida se direcionar a mim. Parei de encarar o interior do armário e vi Steve se escorando na parede.— Não te achei ontem.— Falou me olhando sacana.

— Estava me procurando?— Questionei franzindo o cenho.

— Talvez.— Revelou duvidoso. Ele é tão persistente quanto Dustin, nesse quesito faz sentido eles serem amigos.

— Faltei ontem.— Expliquei sem dar detalhes, logo terminando de guardar os livros.

— Eu andei pensando...— Iniciou enquanto eu fechava o zíper da mochila.

— Você pensa?— Interrompi fingindo surpresa. Steve revirou os olhos de modo sarcástico.

— Enfim.— Disse retomando sua fala.— Bem que você podia assistir meu jogo de amanhã.— Sugeriu como se não fosse grande coisa.

— De novo essa história de jogo.— Falei bufando ao fechar o armário.

— Como assim?— Perguntou confuso.— Eita, você é irmã do Partridge. Tinha esquecido desse detalhe.— Lembrou supondo que esse seria o motivo de eu já ter escutado sobre o evento.

— Não é isso. Dustin que me chamou.— Contei voltando a andar pelo corredor. Steve me acompanhou ao perceber minha partida. Pensei que eles tinham combinado entre si de me chamar.

— Dustin Henderson? Você é amiga do Henderson?— Indagou em estado de choque.

— Meio que sim.— Respondi incerta. Amiga é uma palavra muito forte, mal nos conhecemos.

— Por essa eu não esperava.— Disse segurando o riso. Atravessamos a entrada da escola e consequentemente chegamos no estacionamento.

— Eu que não esperava que você curtisse clubes nerds.— Assumi me referindo a amizade dele com os meninos do Hellfire.

— E não curto.— Falou de maneira óbvia.

— Então como vocês viraram amigos?— Perguntei demonstrando curiosidade. É raro ver amizades entre jogadores e nerds, principalmente se forem de anos diferentes.

— É uma longa história.— Constatou parecendo não querer entrar no assunto. Nesse momento senti minha dor de cabeça se intensificar de modo súbito. Gemi discreta ao apertar a região e interromper meus passos.— O que foi?— Questionou se aproximando desconfiado.

— N-nada.— Afirmei tentando deixar minha voz firme. Ergui minha cabeça para olhar Steve, entretanto acabei vendo Louis assistindo nossa conversa de longe. Ele desviou quando nossos olhares se encontraram.

— É... Eu preciso ir.— Avisei temendo o que Louis pudesse fazer.

— A gente se vê no jogo de amanhã?— Perguntou convencido. Retornei a caminhada acelerando os passos.

— Não conte com isso.— Alertei o deixando sem chance de falar novamente. Caminhei por uns vinte segundos e parei em frente ao carro. Louis fumava um cigarro concentrado em qualquer pessoa que passasse, menos em mim.

— Vamos?— Chamei para irmos. O garoto não disse nada e apenas entrou no carro. Fiz o mesmo, logo colocando o cinto de segurança. Precaução, né?
O veículo deu partida, estabilizando numa velocidade devagar. Repito, devagar. Tem algo muito errado aqui.

— Vai ficar assim até quando?— Perguntei prestes a perder minha paciência.

— Assim como?— Devolveu a pergunta ainda me ignorando ao fitar a direção.

— Ah, me poupe de cinismo. Você mal olhou na minha cara hoje.— Falei irritada o encarando.

— Quer que eu olhe pra você?— Indagou persistindo naquele joguinho estúpido. Sim, Louis Idiota Partridge. Quero que você me olhe. Quero muito.
E nem sei o porquê de eu estar tão incomodada com a falta de algo que sempre fiz questão de fingir não perceber.

— Esse não é o ponto.— Contornei desconfortável.— O que aconteceu com o seu pai ontem? Por que vocês brigaram?— Questionei o que me deixou intrigada desde quando escutei os gritos vindos do quarto.— Sei que é por isso que está desse jeito.— Afirmei convencida. Afinal, não havia outro motivo aparente.

— Não é da sua conta.— Advertiu seco. Com certeza foi sobre um assunto muito delicado, alguma merda das grandes que Louis tenha feito.
O que será que ele fez de tão ruim?

— Engraçado, agora você pode se meter na minha vida e julgar as pessoas que eu ando, né?— Falei sendo irônica.

— Você estava agora há pouco falando com o babaca do Harrington, e eu nem reclamei.— Citou finalmente me olhando. Seus olhos estavam cheios de ira.

— E era pra ter reclamado?— Perguntei expressando insatisfação. Eu sabia que aquilo não passaria batido.

— Você tinha me garantido que não iria mais falar com ele.— Relembrou arrogantemente. O filho da puta quase causou um acidente e ainda se acha certo.

— Por pura e expontânea pressão. Você ia atropelar quatro pessoas.— Falei indignada só de lembrar a cena.

— Claro que eu não ia, pirralha. Fiz aquilo pra te assustar.— Contou como se eu fosse burra por ter acreditado. Mas puta merda, ele não bateu por um triz.— E quer saber? Fique com os idiotas que quiser.— Encerrou dando um murro no volante. Tomei um susto após sua ação e me calei. Pelo menos significa que ele vai me deixar em paz.

Espero não ter sido da boca pra fora.