𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦

Movie rental

O curto trajeto facilitou em chegarmos ao nosso destino, a locadora que eu me atentei como se frequentasse esses lugares. Claro que assisto filmes, mas costumo fazer isso nos canais abertos da televisão. Na Califórnia até tinha cinema, aqui eu já não sei se tem. O espaço era maior do que eu pensava, mesmo assim não foi difícil de avistar Steve no balcão.

— Demoraram ein.— Ironizou provavelmente tendo acabado de chegar.— Qual vai ser o da vez?— Perguntou se referindo ao filme, que até então nem foi escolhido. 

— Deixa eu devolver o meu primeiro.— Robin se adiantou pondo a fita daquele filme que ela havia nos dito sob a mesa. A capa era bem estranha, tinha basicamente um adolescente loiro de aparência duvidosa com os pés esparramados encima da banca escolar. Eita que deve ser bem educativo.

— Sabe que era pra você ter entregado semana passada, né?— Steve alertou apontando para a data de devolução no computador.— Vai ter que pagar uma multa.— Notificou fechando seu punho e o batendo na palma da outra mão aberta, ou seja, um sinal de que ela havia se ferrado.

— Steve... Somos amigos, não somos?— Relembrou querendo o manipular para conseguir sair impune.

— Não vai funcionar.— Avisou a poupando de tentar.— Amigos, amigos... Negócios à parte.— Esclareceu decidido em seguir as normas da loja.

— Nem quando sua amiga é pobre?— Indagou ainda não se dando por vencida, porém logo bufou pois Steve imprimiu a nota fiscal e pôs à sua frente.— A vida é triste.— Disse abrindo a carteira coagida, em instantes pagando o valor necessário.

— E você, S/n?— Steve mudou sua atenção para mim após receber o pagamento de Robin.— Qual filme vai escolher?— Perguntou saindo de trás do bancão e parando bem do meu lado prestativo.

— Ainda não sei.— Assumi fitando as prateleiras repletas de fitas.

— Ela queria o novo do David Bowie, só que como é recente não deve ter chegado.— Robin informou também se colocando por perto. Ela havia dito que queria ajudar, porém sinto que Steve vai tomar a frente como vendedor.

— Labirinto?— Supôs reconhecendo o filme, portanto assenti.— É, realmente não chegou.— Confirmou a provável hipótese.— Mas temos outros filmes do Bowie aqui.— Constatou me guiando rumo onde eles estariam. Assim... Nada contra o David em si, as músicas dele são boas, mas não consigo escutar a maioria sem lembrar de Louis me tirando do sério na Califórnia. Quando a gente brigava ele se trancava no quarto e colocava as mais agitadas no máximo para me irritar, até hoje tenho pavor do refrão de Suffragette City.

— Olha, tem esse.— Indicou pegando uma das fitas da prateleira.— Fome de Viver.— Disse o nome.— John é o amante da linda vampira Miriam, que existe desde a época dos faraós. Ele acha que viverá para sempre, mas começa a envelhecer rapidamente e Miriam procura um novo companheiro.— Leu em voz alta a sinopse, tal qual não me interessou muito.

— Tem outro?— Perguntei procurando uma opção melhor, já que precisaria ser do David para não ficar tão na cara minha desculpa de vir aqui.

— Talvez...— Murmurou pegando mais um.— Homem que Caiu na Terra?— Indagou mostrando a capa.— É sobre um extraterrestre, acho que faz mais seu estilo.— Deduziu me entregando a sugestão.

— Por quê?— Questionei pensando se eu deveria ficar ofendida por ele ter me comparado a um alienígena.

— Ah, é que você tem um gosto diferente.— Justificou seu ponto de vista.— Não é que nem as outras garotas.— Afirmou como se fosse um elogio. Arg, quanta breguice. Diferente é sinônimo de estranho, ser estranha é algo que eu definitivamente não me orgulho.

— Era pra isso ser bom?— Lancei a pergunta franzindo o cenho por puro deboche.

— Sim, quer dizer que você é única.— Respondeu insistindo na ideia.— Original.— Adicionou notando que a reação não havia sido das melhores. Aquilo me deu ânsia, no mau sentido. Olhei para o lado de vi Nancy com uma cara parecida com a minha.

— Ah... Entendi.— Enrolei sem saber o que dizer.— Enfim, pode ser esse mesmo.— Aceitei apenas para encurtar a conversa. Steve sorriu satisfeito e retornou ao balcão emitindo o pedido no sistema.

— Você vai ter que devolver daqui três dias.— Avisou terminando de digitar no computador.

— Tá.— Concordei de forma prática, em seguida colocando a mão no bolso.— Merda, o dinheiro.— Notei externando meu pensamento. Não creio que eu armei isso tudo e não me liguei no essencial.

— Tudo bem, depois a gente acerta.— Steve simplificou o problema. Me aliviei instantaneamente, apesar da incoerência pela atitude ter vindo de alguém que havia acabado de esclarecer sobre amizade e negócios serem coisas à parte, e olha que nem amigos somos.

— Ah é?— Robin ironizou querendo indicar que ela também tinha o direito de não pagar. 

— Vou dar um desconto porque é a primeira vez dela aqui.— Se explicou abrindo uma sacola plástica para guardar a fita. Espero realmente que seja por isso, caso contrário eu terei que fazê-lo cair na real, assim como fiz com Nancy quando ela achou que tínhamos algo.— Bom filme, S/n.— Desejou me entregando a sacola, fazendo nossas mãos se tocarem. Ele demorou um pouco para reagir e soltar.

— Obrigada.— Agradeci no automático, planejando sair dali o mais rápido possível. De fato, em questão de segundos eu estava do lado de fora da locadora, sem ao menos notar que Robin e Nancy tinham me seguido.

— Nossa, ele nem disfarça.— Nancy reclamou bufando desacreditada.— Eu tava lá, que tipo de idiota fica dando em cima de alguém com a ex do lado?— Perguntou retoricamente para extravasar sua raiva.

— O Steve.— Robin respondeu dando razão ao descontentamento da garota.

— Calma aí, também não foi assim.— Discordei por não ter sido algo tão gritante como elas estavam dizendo, além de querer apaziguar a situação.

— Você é lerda ou só sem noção mesmo feito ele?— Acusou se irritando ainda mais com o meu comentário. Fiquei em silêncio, ela estava de cabeça quente e eu não queria arranjar confusão, até porque toda vez que eu entro em uma não acaba muito bem.— Quer saber? Vocês foram feitos um pro outro.— Finalizou amargurada enquanto ia andando com intuito de retornar ao carro.

Nem sei como cogitei ser amiga de Nancy Wheeler.