Capítulo 57

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- Do nada isso? - Franziu a testa. - Estou com você, não estou?

- Chega de fugir dessa pergunta, chega de evasivas. - Parecia que falava cada vez mais baixo. - Você me ama ou não ama?

- Lilian... - Tentou achar um modo de dizer que não a magoasse, mas não existia, então ele apenas negou com a cabeça e viu o esforço que a esposa fazia pra que as lágrimas não rolassem.

- Você amou algum dia? - Forçou a voz a sair. E obteve mais silêncio. - Responde logo e com a verdade.

- Não. - Suspirou. - Você sabe muito bem que a resposta é essa, senão não ia me perguntar. - As lágrimas rolaram pelo rosto da mulher. - Lili...

- Não precisa ter pena de mim. - Fungou. - Acho que você deixou isso bem claro hoje.

- O quê? - Ficou confuso.

- Ainda a ama. - Mais silêncio, havia gritado aquilo há pouco sem nenhum pudor. - Aquela mulher com cara de menina, ela desperta em você coisas que eu nunca consegui despertar nesses dezenove anos.

- O que nós temos é diferente, Lilian. - Passou a mão pelos cabelos da esposa. - Formamos uma família, temos carinho, respeito um pelo outro. Eu adoro você. Vivemos uma fase conturbada onde eu vacilei, eu assumo, mas já estamos bem faz tempo.

- Você chama de "fase conturbada" como se fosse apenas isso. - Ficou de pé e passou as mãos pelo rosto. - Mas você foi lá e se apaixonou por uma menina.

- Está falando isso como se tivesse sido escolha minha. - Rolou os olhos. - Se eu pudesse escolher, teria sido você sempre, mas infelizmente não é assim que funciona.

- Eu mereço mais que carinho. - Ela não sabia nem como estava aguentando dizer aquelas coisas. - Eu ganhei uma segunda vida e mereço vivê-la intensamente.

- O que quer dizer afinal? - Esperou a mulher se recompor pra falar e então ouviu algo que jamais esperaria ouvir da esposa.

- Quero o divórcio. - Fungou, ele sabia como estava sendo doloroso dizer aquilo. - Merecemos mais que essa vida medíocre que levamos.

- Lilian, não pode estar falando sério... O que vivemos nos últimos meses foi real, você sabe que foi real! - Foi pego de surpresa, estava desnorteado.

- Eu amo muito você e agradeço por ter estado comigo no momento mais difícil que passei.

- O que quer dizer com isso? - Fraziu a testa. - Eu escolhi ficar com você.

- Escolheu nada, foi arrastado de volta pra esse casamento porque a mulher que você ama é jovem demais e por isso não teve coragem de enfrentar as pessoas pra ficar com você. Eu fui a droga de um prêmio de consolação.

- Não pode pegar a nossa história e jogar no lixo assim! - Nem entendia bem porque estava ali falando aquelas coisas, ao invés de aceitar e comemorar. - As meninas vão me odiar de novo.

- Vamos conversar com elas juntos. - Sorriu. - Vou dizer que a decisão foi minha. Elas vão chiar, mas com certeza vai ser melhor que dá última vez.

- Não entendi porque está fazendo isso!

- Você merece ter a chance de viver essa paixão. - Ela colocou a mão no rosto do marido. - Convenhamos, estamos juntos até hoje porque aquela maldita camisinha foi esquecida e fizemos a Nathaly. Caso contrário, você nunca teria nem namorado comigo. Não combinamos.

- Para de se menosprezar, você é incrível.

- Não precisa me dizer mais nada. Liga pra sua Sophia e a chame pra conversar. - Suspirou. - Eu vou superar isso, vou encontrar um amor recíproco, afinal, eu mereço isso. Não acha?

- Você merece o mundo! - Sorriu. - E se encontrar um cara que não te valorize, vou lá e quebrar a cara dele eu mesmo.

- Para de ser besta. - Fungou e avançou pra um abraço em Micael. - Eu amo você.

- Eu também amo você. - Confessou, se deu conta de que a amava sim, só não dá forma que ela queria. - Sou muito grato por tudo que me deu ao longo desses anos.

- Eu também. - Fungou. - Agora vai, faz o que tem que fazer. Eu vi o jeito que a olhou quando ela apareceu lá. Faltou só um balde pra pingar a baba.

- Para de ser boba. - Sorriu. - Obrigado! - Repetiu e então saiu do quarto e da casa. Entrou no carro e não sabia bem pra onde dirigir. Ligou pra Arthur que atendeu no segundo toque. - Me passa o endereço da Lua! - Pediu com a voz urgente, já tirando o carro da garagem.

- Oi pra você também. - Resmungou. - Pra que hein?

- Preciso falar com ela. Fala logo! A Sophia saiu de casa e eu preciso saber pra onde ela foi, tenho quase certeza de que pra casa da Lua.

- Acertou, estamos aqui. - Deu um risadinha. - Anota aí. - Micael anotou e pediu ao amigo que não contasse que estava indo, pois sabia que ela iria fugir. Não muito depois ouviram a campainha. - Estamos esperando alguém? - Arthur se fez de desentendido, ele se levantou pra atender, deixando as amigas conversando no sofá. - E aí?

- Ainda está aí? - Perguntou esbaforido da pequena corrida que deu.

- Está com a Lua na sala, chorando desde que chegou, eu não sei como é que essa mulher ainda tem lágrimas. - Micael sorriu e pediu licença ao amigo, entrando na casa.

- Sophia?! - A voz foi reconhecida na hora e ela se virou assustada, assim como Lua ficou quando viu Micael ali parado. - Será que podemos conversar?

- Não é uma boa ideia. - Fungou. -  Não temos nada pra falar.

- Eu amo você. - Disse na frente de todos, que arregalaram os olhos. - Quase seis meses sem te ver, e uma simples faísca reacendeu tudo o que eu sentia, tudo que estava aqui dormindo desde que você terminou comigo.

- Fala sério! - Arthur disse por trás, surpreso com a coragem do amigo. Lua foi até ele o puxando para dentro.

- O que foi que aconteceu hein? - Ela o encarou séria. - Pra vir aqui me falar essas coisas?! Foi o tapa que meu irmão me deu? Tá com pena?

- Lilian pediu o divórcio. - Disse com um sorriso. - Depois de hoje, depois de tudo o que ouviu, ela disse que a gente merece ser feliz.

- A troco de nada? - Perguntou ainda desconfiada. - Ela chegou em casa e decidiu que queria o divórcio? Conta outra.

- Ela não é ruim, Soph. - Ele não tirava o sorriso do rosto.

- Ah para, você sempre falou mal dela, sempre chamou de insuportável, louca, possessiva. O que mudou? É a mesma pessoa!

- Não exatamente, a cabeça dela mudou depois da doença, hoje em dia ela é alguém bem mais agradável pra se conviver. - Deu de ombros. - Ela sabe que por melhor que a nossa relação estivesse, eu não a amo.

Súbito AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora