Capítulo 105

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- Fala sério, vamos mofar aqui. - Uma das meninas sentadas ao lado de Sophia comentou. - Pra que essa mulher marcou com a gente se não dava pra atender?

- Será que ela só vai entrevistar a gente depois do almoço com o bonitão? - A outra respondeu e Sophia trincou o maxilar.

- Cê acha que os dois se pegam? - A primeira respondeu. - Eu aposto que sim, deve ser legal esse lance de promotora e advogado. - As duas deram risadas. - Não acha, colega? - Se virou pra Sophia.

- Não acho que se pegam.- Ela respondeu sem paciência.

- Sério? Achei que ficou um clima no ar. - Continuou rindo. - Eu aposto com vocês, ou já se pegaram, ou vão se pegar. - Deu de ombros. - Mas também, quem pode julgar? Os dois são lindos, se bobear se merecem.

- É você tem razão, os dois sãos lindos. - A outra concordou. Sophia ficou ali, ouvindo as duas tagarelarem sobre o possível caso de Micael com a promotora por muito tempo.

Sua barriga roncava e nada da mulher aparecer, aquela entrevista nem tinha começado e já estava irritada. Quando apareceu, por volta de meio dia e meia, Micael estava junto com ela novamente. Os dois riam, pelo visto o acordo tinha acontecido.

- Meninas! - Amanda se aproximou. - Peço desculpas pelo inconveniente, como puderam notar, tivemos um imprevisto. - As duas meninas sorriram, dizendo que não havia sido nada demais, Sophia não tinha uma cara muito boa. - Eu preciso de ao menos mais meia horinha pra forrar o estômago antes que eu desmaie de fome, espero que não se importem, deviam inclusive ir almoçar também.

- Tudo bem! - As três disseram juntas.

- Está ótimo então, uma da tarde eu volto e começamos. - Olhou pra Micael. - Eu vou pegar a bolsa e já volto. - Ele assentiu e a mulher entrou na sala. Micael se permitiu encarar a namorada e reparou que estava claramente brava, possivelmente por ciúmes. Rolou os olhos e obviamente não disse nada. Amanda saiu da sala e ambos se dirigiram ao restaurante.

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Pontualmente meia hora depois a promotora chegou do almoço, sozinha e entrou na sala. As três já estavam ali, aguardando. Ouviram o nome Eduarda Marinho ser chamado e a primeira menina se levantou e entrou na sala.

A entrevista levou quinze minutos pra cada menina. Sophia estava bem séria enquanto sabia que as outras duas eram puro sorriso e simpatia. Não conseguia, estava com ciúme e ia se odiar se perdesse o estágio dos sonhos por causa de ciúmes.

A tarefa que determinaria quem ficaria com a vaga era escrever um discurso de considerações finais pra um caso. Sophia pegou a pasta com o resumo do caso, pediu licença e saiu dali, devia voltar pra apresentar em dois dias.

Deu graças a Deus quando deixou o prédio do MP. Pediu outro carro e ao invés de ir pra casa estudar seu caso, foi até o escritório tirar satisfação com Micael. Encontrou Nathaly, Arthur, Lua e Rosana conversando entre risadas.

- Micael está com algum cliente? - Chegou afobada, não deu boa tarde a ninguém, estava com raiva.

- Não, está lendo os arquivos do caso atual... - Nath justificou e Sophia pois se a andar novamente. - Ele pediu pra não ser incomodado. - Nath falou, mas a menina não deu a mínima, apenas invadiu a sala do namorado que levou um baita susto.

- Que palhaçada foi aquela? - Disse alto, despertando a curiosidade dos três, que caminharam pra dentro da sala, atrás da loira. Micael ainda tinha os olhos arregalados, não recuperado do susto.

- Precisa disso tudo? - Disse após respirar fundo, sabia que a menina ia brigar, mas não imaginava que chegaria ali daquele jeito. - Perdeu o juízo?

- Qual é a treta entre você e a promotora, Micael? - Ele rolou os olhos. - Não haja como se eu fosse idiota e não ouse me chamar de louca, alguma coisa tem ali.

- Não tem nada ali, eu e Amanda nos conhecemos há anos. Ela é uma das pessoas que eu mais enfrento no tribunal. Apenas isso.

- Não fode! - Falou alto de novo. - Deu pra ver na cara dela que tava te dando mole. E é ridículo você negar, não haja como se não reconhecesse uma mulher que tá louca pra te dar. - Micael colocou as mãos na ponte do nariz. - Você disse que ia fingir que não me conhecia pra me ajudar, mas pareceu que foi pra flertar com aquela mulher.

- Eu não flertei com ela, fui convidado pra um almoço e pronto. Você disse, no dia que fizemos as pazes, que não era pra eu deixar de encontrar amigas, que queria ser respeitada quando tivesse longe. Amanda sabe que eu tenho namorada, o almoço durou vinte minutos, eu não cheguei perto dela nem pra um beijo no rosto. Então não precisa dar esse piti todo.

- Você já ficou com essa mulher? - Perguntou mais baixo e os olhos de Micael foram direto a filha, parada prestando atenção nele. - Responde! Ela pode vir a ser a minha chefe, eu não quero ser pega de surpresa quando ela começar a falar sobre você.

- Sim. - Disse num sussurro, pouco orgulhoso. - Eu já fiquei com ela. - Viu a boca da filha abrir em surpresa. - Mas faz anos, uns dois, no mínimo. Foi no último ano do meu casamento, estava uma droga. Alguns meses antes de conhecer você. - Voltou a atenção pra namorada. - Mas por favor né, não significou nada! Foi um caso aleatório, durou um mês e pouco e eu saí fora.

- E eu posso saber por que você saiu fora? - Perguntou entre dentes.

- Quer mesmo saber? - Ele ergueu uma sobrancelha.

- Fala, eu já sei que não vou gostar nadinha. - Colocou a pasta na mesa e cruzou os braços.

- Eu era casado. - Deu de ombros. - Se tem algo que eu aprendi, é que precisa ter uma certa rotatividade, se ficar muito tempo com a mesma pessoa, elas acham que é namoro e começam a cobrar.

- Cobrar o quê? - Sophia ficou sem entender.

- Cobrar atenção, cobrar carinho... - Rolou os olhos. - Quero dizer, em casa era encheção de saco da Lilian, aí fora de casa era a Amanda me pressionando a sair de casa e ficar com ela.

- Você é um cafajeste. - Estava irritada demais, ele por sua vez, sentou-se, claramente mais leve por ter confessado aquilo.

- Você sabia muito bem que eu já tinha traído a Lilian, eu te contei isso. - Deu de ombros. - E você sabe que não precisa se preocupar com a Amanda ou com mulher nenhuma. Eu amo você.

- E como é que eu vou confiar em você? Olha o histórico que você tem? - Ele cruzou os braços. - Foi infiel a vida toda!

- Eu nunca amei a Lilian, eu nunca amei nenhuma outra mulher que já fiquei na vida, além de você. - Se declarou. - Foi por você que eu saí de casa, foi por você que eu transformei a minha vida num inferno com as meninas. Se começar a duvidar disso, teremos um problema.

- Eu não duvido que me ama. - Se sentou na cadeira a sua frente. - Mas é uma situação de merda. Não sei nem mais se quero esse emprego.

- Para de besteira, Amanda é uma ótima promotora, tem muito a ensinar. Você finge que não me conhece, que aí ela não vai falar nada sobre mim e você vai estagiar em paz.

- Parece tudo muito simples, e a minha cara de nojo? - Ele deu risada. - Eu não consegui dar um sorriso na entrevista de hoje, enquanto as outras meninas eram pura simpatia e carisma.

- Muita simpatia e carisma? - Ele ergueu uma sobrancelha e Sophia assentiu. - Então você com certeza tá na frente. - Sophia olhou sem entender e ele continuou a falar. - Amanda odeia falsidade, pelo menos você com sua cara de nojo, foi sincera.

- Nossa, obrigada! - Debochou. - Estou muito mais tranquila agora que você disse isso, baseado na sua experiência como amante daquela mulher!

- Deixa de ser boba, eu amo você. - Deu outra risada. - Eu nem sequer olho pra outra mulher, Amanda é uma amiga, que na maior parte do tempo tá sendo inimiga nos julgamentos. - Ela soltou um suspiro e não respondeu. Olhou pra trás e viu a plateia assistindo aquela briga. A expressão de decepção no rosto de Nathaly e só então percebeu o que tinha acontecido.

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