Capítulo 85

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- Precisava mesmo fazer isso aqui, né? - Ele disse entredentes pra filha. - Não dava pra esperar sairmos da festa? Eu acho que já houve emoções demais aqui!

- É engraçado ver a vovó brigando com você. - Ela deu de ombros e em seguida riu. - Gostou dela, vovó? - Disse a velha que ainda não tinha entendido bem.

- Madrasta. - Antônia repetiu. - Quando é que vocês se separaram? - Micael se recostou na cadeira, sabendo que viria um sermão. - E eu não mereço um aviso?

- Mãe, a senhora não tem que saber de tudo da minha vida. - Disse mal criado e a velha bateu nele de novo. - Mãe, pelo amor de Deus, dá pra parar de me bater? - Ela bateu de novo.

- Pare de usar o nome do Senhor em vão, ele castiga! Eu não te ensinei nada que presta? - Ele rolou os olhos. - O Senhor também não aprova divórcios. - Resmungou. - Você jurou até que a morte os separe, eu sei que ela nunca foi uma ótima esposa. - A velha continuou a tagarelar. - Mas foi o que você arrumou.

- Obrigada pela preferência, Antônia. - Lilian bebeu um gole de seu refrigerante, depois desse breve deboche. Com todos os anos ao lado de Micael, ela já tinha aprendido a lidar com a sogra, bater de frente nunca era uma boa ideia.

- Que bom que você reconhece. - A velha continuou. - Aí agora você sai de casa. - Ela parou e olhou pra ex nora. - Ele saiu de casa ou você expulsou? Ele foi infiel? - Deduziu e bateu no filho de novo. - O senhor não se agrada com adultério!

- Mãe, chega! - Se irritou. - Come ai e me deixa em paz. Quando a gente chegar em casa, conversamos. - Pediu, mas a mulher respeitou? É claro que não.

- E ainda está com essa garota aqui? - Se virou pra Sophia. - Você é muda, filha? - Balançou a loira pelo ombro. - Ou é muda ou mal educada, não me disse um boa noite. - A velha bufou e Sophia se virou com a resposta na ponta da língua.

- Mal educada uma ova, a senhora que não me deu nem tempo, saiu falando sem parar. - Rebateu e fez com que Micael, Lilian e Nathaly dessem risadas. - Eu estou adorando ser a diversão de vocês. - Disse a eles.

- Vem, Sophia. - Lilian ficou de pé. - Vamos ao banheiro, vou te dar umas dicas sobre como lidar com a sua adorável sogra. - Piscou pra Antônia, mas a velha não disse nada. As duas saíram dali e Nathaly foi atrás.

- Mãe, será que dá pra pegar leve com a Sophia? - Ele pediu quando as duas já estavam longe. - Você não precisa ser desagradável o tempo todo.

- Você está namorando uma garota que não deve nem ter pêlo na xereca, Micael. Não venha me dizer como eu devo tratar vocês dois.

- Mãe! - Ele a olhou incrédulo. - Não é porque está velha que pode falar esse tipo de coisa. - Ela deu de ombros sem se importar. - Em casa a gente conversa, e vê se não destrata a Sophia pelo resto da festa.

- Eu vou tentar. - Prometeu de má vontade e então começou a comer o que o garçom finalmente tinha levado pra ela.

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- Sophia você não pode bater de frente com a minha vó. - Nathaly começou a falar, a caminho do banheiro. - Se você o fizer, nunca vai ter fim.

- Eu tenho que deixar ela falar o que quiser de mim? - Estava irritada. - É sério isso? Que velha desagradável.

- Tentei te avisar. - Lilian ainda achava graça. - E ela só piora com a idade. Eu já me estressei muito com ela, hoje em disse eu finjo demência.

- Eu não tenho sangue de barata pra ouvir ela falar mal de mim e ficar quieta. - As três entraram no banheiro. - E você tinha que contar agora, no meio da festa?

- Eu não podia perder a oportunidade, é muito legal ver meu pai apanhando. - Ela deu risada. - E fora que ele não tinha contado nem do divórcio pra eles.

- Ele não tinha nem me contado que tinha pais e irmãos. - Estava com raiva novamente. - Fui pega de calças curtas.

- Ó, Jorge é um amor. - Lilian começou a falar. - Ele não fala muito perto da esposa, afinal, quem é que consegue falar perto dela? Mas quando ela se afasta, da pra conversar com ele maravilhosamente bem. É um anjo.

- Luan é meu tio. - Nathaly continuou a apresentar. - O mais novo dos três filhos e o mais gato. Ele tem vinte quatro anos, é legal e engraçado. Se um dia largar o meu pai, pega ele, vai gostar.

- Nathaly! - Lilian deu risada. - Você está falando do seu tio.

- Que é uma pena ser meu tio. - Suspirou. - Mas não é seu. - Apontou pra Sophia. - Aproveita.

- Deixa de ser besta. - Sophia resmungou. - E a outra irmã?

- Lidiane, ela é um amorzinho também, igual ao pai. - Lilian contou. - Graças a Deus os filhos puxaram mais pro Jorge, menos o Micael né?! Ele é todinho a Antônia, por mais que não admita.

- Tá legal, eu vou pra casa. - Sophia disse num suspiro. - Já deu de festa pra mim.

- Vai nada! - Nath protestou. - Já está quase no final, você vai ficar. A gente fica longe da minha vó e tudo vai dar certo.

- Até parece. - Disse desanimada, mas topou, afinal, não havia como deixar aquela festa.

Lilian voltou pra mesa e Sophia sumiu com a Nathaly para pista de dança, tentar apagar um pouco da mente a breve briga com a sogra.

Perto do final da festa, um microfone foi entregue a Micael que se levantou e pediu um minuto, a música cessou e logo, todo mundo juntou pra ouvir o que ele diria.

- Nathaly? - Chamou a filha no microfone. - Vem aqui! - Esticou a mão e a menina segurou com um sorriso, não estava esperando aquilo. - Bom, eu pedi o microfone pra dizer algumas palavras pra você e agora que estou com ele na mão, não sei bem por onde começar.

- Você consegue. - A menina brincou e procurou o rosto da mãe no meio daquela gente toda.

- Quando sua mãe me contou que estava grávida eu achei que ia infartar. - Começou o discurso rindo. - Juro, devo ter precisando de uns dez minutos pra reagir e falar uma palavra qualquer, que talvez nem fazia sentido. - Procurou a ex esposa com os olhos e viu a mesma rindo. - Venha pra cá, Lili. Para corroborar com a minha história. - Ela chegou perto e abraçou a filha pelo outro lado, já que de um lado estava o pai. - Eu acho que nunca tive tanto medo na minha vida, eu juro que pensei em fugir, mas eu tinha quinze anos, ia fugir pra onde?

- Larga de ser besta. - A menina riu.

- Quando fomos a primeira consulta e eu ouvi o seu coração bater, eu fiquei apaixonado na hora. - Sorriu pra ex esposa, os dois se lembrando do dia. - E eu sabia que era menina, eu podia sentir. - Um telão abaixou e uma foto surgiu. Lilian grávida e Micael dando um beijo na barriga já avantajada.

- Eu não acredito que você fez isso! - Ela disse com os olhos cheios de lágrimas. - Muito cafona, pai!

- Apesar de medroso e de não ter um histórico de gostar de crianças, eu amava você. Eu estava ansioso pra te conhecer e filha, quando você nasceu, a minha adoração por você só aumentou. - A foto mudou, para os três na maternidade. - Tínhamos dezesseis anos. - Olhou pra Lilian. - Mas não parecia errado, você tão pequenininha, cabia direitinho nos meus bracinhos finos. - Eles riram. - Você foi crescendo cada vez mais e a menina mais mimada do mundo foi se tornando. - Foto com os avós, pais de Lilian e a mulher começou a chorar ao se lembrar. - E quando estava linda de daminha. - Foto da menina levando as alianças até o altar no casamento dos pais. - Um dos dias mais importantes pra gente, só aconteceu por causa de você, obrigado por existir.

- Você tem que parar com isso. - Lilian pediu chorando e a plateia riu.

- Eu vou deixar as fotos rolando e falar um pouco pra você, filha. - Fez uma pausa pensando no que dizer. - Eu amo você desde sempre, vivemos tempos complicados, brigamos muito, eu quis tirar a sua vida em alguns momentos, mas você sabe que é o meu amor. Eu sei que errei muito com você, mas espero que tenha acertado mais que errei. Você virou uma moça linda, crescida e agora fez dezoito anos, não ache que por causa disso eu vou parar de te dar bronca, mas fico feliz pelo que você se tornou. - Ele olhou pra Lilian. - Apesar de tudo, acho que fizemos um bom trabalho, não é, Lili? - A mulher que chorava mais que tudo, assentiu. - Amo você, minha linda, feliz aniversário. - Deu um beijo na testa da filha.

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