Capítulo 24

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- Meu celular está tocando. - Ouviu de longe. - Nath, assume aqui. - Entregou o prato pra filha e saiu correndo, sabia que era Sophia. Trancou a porta e logo atendeu. - Oi, linda.

- Oi, lindo. - A doce voz da quase namorada fez com que sorrisse. - Eu estou com saudades de você.

- E eu, você não imagina! - Se deitou na cama e ficou encarando o teto.

- Queria te ver hoje. - Pediu e ele se sentiu mal por mentir. - A gente podia passar a noite junto. Amanhã minha aula é um pouco mais tarde.

- Hoje nem dá, gatinha. - Começou a pensar rápido em alguma desculpa. - Peguei um caso complexo e vou ficar revisando ele até tarde. Não serei boa companhia.

- Poxa, que droga. - Resmungou. - Só no final de semana então?

- Sábado você não me escapa. - Sorriu. - Eu vou tirar todo esse atraso e você vai pedir socorro. - Ouviu a risada ecoar.

- Ou você que vai pedir socorro depois de uma semana sem me ver. - Ele balançou a cabeça concordando, por mais que ela não pudesse ver.

- Você tem razão. Eu que vou pedir socorro. - Brincou. - Gatinha, tenho que ir. Mas a noite a gente conversa, tá bem?

- Tudo bem, vou aguardar você. - Mandou um beijo e a ligação logo foi encerrada. Ele suspirou e voltou pro quarto de Lilian.

- Já comeu tudo?! - Disse surpreso. - Pra quem não queria hein?!

- Estava surpreendentemente gostoso. - Ela brincou. - Se eu soubesse que você tem jeito pra cozinhar, tinha me aproveitado disso algumas vezes.

- Só descobri recentemente, não dá pra viver de quentinha todos os dias. - Brincou. - Agora vamos falar de um assunto delicado.

- Não vou cortar meu cabelo. - Já sabia o que ele ia dizer. - Não vou ficar careca!

- Lilian, é bem melhor do que ficar com o cabelo caindo da forma que está. - Ela colocou as mãos na cabeça. - Ei, seu cabelo vai crescer de novo, lindo do jeito que sempre foi.

- Já conversei isso com ela. - Nath disse desanimada. - Ela não deixa encostar na cabeça dela.

- É muito fácil falar quando se tem cabelo saudável. - Já estava chorando. - Eu não quero ficar careta.

- Amarra um lenço. - Micael deu de ombros. - E uma peruca?

- Eu não vou ficar careca!! - Gritou e Micael rolou os olhos. - Não faz essa cara!

- A minha máquina ainda está no banheiro? - Perguntou a Lilian que assentiu. Não tinha tirado nada dele, a esperança de tê-lo ali novamente ainda seguia viva. Se levantou e foi até o banheiro pegar a bendita. Puxou a cadeira da escrivaninha e se sentou. - Liga ali na tomada. - Pediu a filha.

- Eu já disse que n... - Ele interrompeu.

- Não vai ficar careca, estou sabendo. - Bufou. - Quem vai sou eu. - Entregou a Nathaly a máquina. - Raspa.

- O quê? - Ela quase deu um grito, nunca tinha visto o pai sem o topete que amava tanto. - Você tem certeza disso? Nunca vi você com cabelo baixo ao longo dos meus dezessete anos.

- É porque eu só cortei quando fui pro quartel aos dezoito. Você não vai lembrar. - Deu risadinha. - Vai logo, raspa.

E então Nathaly começou a raspar a cabeça de Micael. Lilian tinha um sorriso no rosto. Como ele podia dizer que não a amava se aquilo era uma baita prova de amor? Quando terminou, ele se levantou e bateu o cabelo do corpo.

- E então, que tal estou? - Fez graça e as meninas riram. - Ah, não é tão ruim assim né?

- Você tem a cabeça torta. - Nathaly implicou e as meninas riram ainda mais. - Bora mãe, vem.

- Eu não, seu pai é homem, por mais ridículo que esteja careca, eu vou ficar pior. - Negou com a cabeça muitas vezes.

- Tá bom então. - Nath respirou fundo. - Toma pai, raspa o meu! - Disse corajosa e fez os pais arregalaram os olhos, surpresos.

- Não, Nathaly! - Lilian gritou. - Você não precisa fazer isso.

- É só cabelo, mãe, vai crescer de novo! - Deu de ombros e se sentou na cadeira. - Vamos lá, pai. Vamos ser a família careca.

- Você não vai ter coragem de raspar a cabeça da sua filha? - Disse ainda com os olhos arregalados. - Micael, pelo amor de Deus!

- Fica aí e observa! - E então ele passou a máquina bem no meio da cabeça, onde não poderia disfarçar. Lilian deu um grito.

- Micael!!!! - Gritou de novo. - Caramba!!!

- Vai ficar todo mundo careca, e se você não for a próxima a sentar nessa cadeira, eu vou puxar a pirralha ali. - Ameaçou e a mulher olhou a filha. - Você que decide!

- Vocês dois são loucos. - Ela sorriu. - Vamos ficar os três horríveis.

- Juntos ué. - Ele deu de ombros. - Não é o que importa? - Ela assentiu.

Quando ele terminou e Nathaly se levantou pra bater o cabelo que estava no corpo, a mãe suspirou. Encorajada pelos dois, finalmente saiu da cama e se sentou na cadeira. Chorou como se fosse uma criança sem doce a medida que os cabelos iam caindo.

- Eu acho que a gente devia tirar uma foto pra guardar. - Nath comentou rindo e Lilian negou com força.

- Mas nem que me paguem. - Se escondeu embaixo da coberta. - Não inventem ideia!

- Tá legal, deixa sua mãe em paz. - Ele disse rindo e saiu do quarto pra buscar uma pá e uma vassoura. - Vai lá tomar banho, Lilian, antes que comece a se coçar por inteiro.

Aquela noite foi divertida. Antes das onze já estavam cada um em seu quarto de tão cansados que estavam todos eles.

Na manhã seguinte, Lilian ficou com Bruna, já que não teria que sair pra nenhuma sessão ou exame. Micael chegou no escritório e começou a trabalhar até que foi interrompido por Arthur.

- O que foi que aconteceu aí? - Disse rindo. - Você definitivamente não serve para ser um careca.

- Se você soubesse o tanto de coisa que aconteceu ontem, nem zoava a minha careca. - Suspirou.

- O que Sophia achou desse visual? - Ergueu a sobrancelha ainda rindo. - Eu duvido que ela te queira assim.

- Ué, será que ela gosta de mim pelo meu cabelo? - Debochou.

- Não, mas com certeza o cabelo te deixa menos feio. - Brincou e se sentou na cadeira. - Conta aí, o que foi que aconteceu?

Súbito AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora